Publicidade
Repórter News - reporternews.com.br
Opinião
Quinta - 30 de Junho de 2011 às 08:32
Por: Benedita Enildes Corrêa

    Imprimir


“Da íntima natureza de cada homem é que nasce o seu motivo de agir: o homem é aquilo que ele ama: o que o homem é, é isso que ele crê, e com isso se identifica”. (cap.17 – Bhagavad Gita)

É notório o comportamento arrogante e prepotente de muitos de nossos representantes políticos e dos que exercem altos cargos públicos. É impressionante como o poder modifica os indivíduos que, muitas vezes, nasceram no seio de famílias simples e humildes. Porém, uma vez alçados ao poder, normalmente, perdem-se da identidade e do reconhecimento interno como seres simples e cidadãos comuns. Soterram esse lado em nome da imagem que desejam projetar e desconectam-se de uma das partes mais belas e dignas do ser humano: o estado de simplicidade - característica principal das Grandes Almas.

Entretanto, esse comportamento é uma faca de dois gumes, que fere, em primeiro lugar, a própria pessoa na dimensão do invisível, na dimensão espiritual.  Há leis da vida a que ninguém escapa do seu cumprimento. Aqueles que se esquecem e tentam negar a sua essência, ficam distantes de si mesmos, do outro, da Vida e de Deus.  Caminham na mão do mundo, porém na contramão da Existência.

Há pouco tempo, estive no gabinete de um gestor público para apresentar-lhe o trabalho que realizo na área de Humanização da Convivência. Ao entrar em sua sala e sentar-me, para minha surpresa, constatei a visível diferença entre a altura da ostentosa cadeira dele e das que foram colocadas aos visitantes, as quais eram mais baixas. A sensação que senti foi de um estranho desconforto, e logo percebi que a postura daquele gestor estava em total concordância com a diferença das medidas de altura das cadeiras...
 
Como acontecerá o encontro com o outro se não houver o encontro dos olhos, se não estivermos ancorados em nossos corações?  Os que olham e tratam o outro pelo véu da ilusão da superioridade e da separação ficam privados de uma visão plena que vê a rede  da unidade em tudo e em todos que nos cercam. Não reconhecem que o poder é tão efêmero e que a vida é sinônimo de mudanças... Como são plenas de verdade estas palavras ditas por Papai:

A vida é como uma roda e a roda gira. Quem está em cima desce e quem está em baixo sobe. A gente não se desfaz, não desfaz da vida nem dos que têm a vida.

De repente, na hora de uma passagem estreita como a morte, você poderá precisar de alguém que desprezou e ignorou... Nós não sabemos nada sobre o dia de amanhã nem sobre os Mistérios da Vida.

Papai foi um homem simples do campo, que amava sua profissão de pecuarista e realizava seu trabalho com muito amor, dedicação e honestidade. Com a consciência desperta, expressou no seu jeito de viver uma sabedoria inalcançável pelos “poderosos”, cheios de si mesmos e vazios do contato e do encontro com o próximo, que preferem cercar-se de assessores, em grande parte, fracos e bajuladores, que nem sempre cumprem a tarefa básica de exercer suas atividades com competência e eficácia.

Em Brasília, entrevistei o senador Pedro Simon e a ex-candidata à Presidência da República, Marina Silva. Que diálogo inspirador e encantador nós tivemos! Eles, que são ícones da política brasileira, permaneceram acessíveis e receptivos... As pessoas que manifestam uma diferenciada força interior são as que não se perderam de si mesmas e mantêm uma forte e saudável ponte de conexão consigo e com o seu entorno.
 
Reporto-me a uma passagem da vida de Abraham Linconl, narrada por Osho:
 
Quando foi eleito presidente dos Estados Unidos, no dia da sua posse no Congresso,  alguém se levantou e disse-lhe: “Linconl, antes de começar o seu discurso, não se esqueça que você é filho de sapateiro”. E acrescentou ainda:  “E estou usando um sapato feito por ele”. O Senado todo riu. Queriam  insultá-lo e humilhá-lo, já que não conseguiram derrotá-lo. Porém é muito difícil humilhar um homem como Linconl.  

Mas Linconl respondeu com extrema serenidade: “Estou tremendamente grato por você ter me lembrado de meu pai, que está morto. Nunca vi um sapateiro semelhante. Era único, era um criador porque amava fazer sapatos. Eu procurarei ser um presidente tão bom quanto o sapateiro que ele foi. Ao que me consta, meu pai sempre fez os sapatos de sua família, se os seus sapatos apresentarem algum problema, você pode trazê-los e eu os consertarei. Desde cedo, aprendi a consertar sapatos e agora que meu pai está morto posso cuidar dos seus. Aliás, se algum de vocês tiver um sapato feito pelo meu pai que esteja precisando de conserto pode trazer para mim. Mas de uma coisa estejam certos: eu não sou tão bom quanto ele, seu toque era de ouro”. E os seus olhos encheram-se de lágrimas ao lembrar-se de seu pai.
 
Neste momento, lágrimas de emoção também enchem os meus olhos pelas recordações que as linhas e entrelinhas deste texto suscitaram-me em relação ao meu pai. Desfilam ainda pela minha memória lembranças de várias pessoas que encontrei na vida, e que, afortunadamente, fomos espelhos limpos e transparentes um para o outro, o que nos oportunizou reconhecer e enxergar a nossa melhor parte, que por sua vez, divinizou a nossa convivência e tornou-a um presente de Deus.
 
Namastê!  (o Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você)

BENEDITA ENILDES DE CAMPOS CORRÊA é Administradora e Terapeuta Corporal Ayurveda. Prof. de Yoga. Ministra seminários vivenciais de Humanização da Convivência. Autora do livro Vida em Palavras. E-mail: omsaraas@terra.com.br



Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/570/visualizar/