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Opinião
Segunda - 27 de Junho de 2011 às 15:23
Por: Júnior Silveira

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Todas as vezes que assistimos a um filme, mesmo que seja num momento de entretenimento e lazer, vamos nos deparar com histórias que retratam situações desafiadoras, dramas a serem vencidos e lições a serem aprendidas. O cinema, desde a sua criação, vem retratando realidades a serem vivenciadas, mesmo quando o filme é uma ficção, algo que não é “tão real”. Raramente, assistiremos a um filme que em seu conteúdo não venhamos identificar lições e indagações para a nossa própria vida.

São dramas familiares, dramas entre amigos, situações que relatam a busca pela identidade e pela felicidade, dificuldades diversas e as indecisões nas escolhas e atitudes que devem ser tomadas para se chegar ao final feliz. Na verdade, em todo filme essa é a grande questão: chegar a um final feliz.

Olhando a nossa vida e fazendo uma breve reflexão, podemos muitas vezes nos enxergar no filme que assistimos, podemos nos ver vivendo as situações no lugar das personagens, bem como nos colocar no lugar delas, passando a refletir qual seria nossa atitude se estivéssemos passando por determinada situação, drama ou desafio.

Outras vezes, as personagens e seus dramas desafiadores são tão reais que chegam a parecer conosco e com nossa vida e, a partir de suas histórias, encontramos respostas, conforto e muitas vezes soluções para nossa própria história. Assim como nos filmes, nós lutamos por um final feliz, ainda que a vida seja feita de muitos finais e recomeços.

Enquanto educador, todos os dias me deparo nas salas de aula com histórias dignas de cinema. Na verdade, todo professor ou profissional na área da educação poderia escrever um verdadeiro roteiro cinematográfico, uma vez que todos os dias vivenciamos um desafio de cinema.

Ao entrar pelos portões de uma escola, encontramos ali crianças que são vítimas de sua própria existência. Alunos que são vítimas do descaso social, da violência, vítimas até mesmo de suas próprias famílias. São crianças que crescem todos os dias assistindo de olhos bem abertos a todo o caos estabelecido numa sociedade que a cada dia perde os valores do amor, da família e da educação. Crianças que ainda tão novas já perderam sua inocência e que têm sua identidade violada.

Em sala de aula, eu já vivenciei histórias de diversos gêneros, fui espectador de histórias que são verdadeiras comédias, as crianças enchem nossos olhos de alegria e nos surpreendem com sua espontaneidade, criando situações que nos arrancam risos. Crianças são surpreendentes, como os filmes; são seres inspiradores e envolventes. Eu gostaria de poder escrever que eu nunca vi numa sala de aula um drama ou um terror, mas, infelizmente, mesmo eles sendo tão novos já têm em suas vidas cargas suficientes pra um filme de drama e, muitas vezes, até mesmo de terror.

E chegamos ao ponto comum de um filme: como chegar ao final feliz? Seria isso possível? Ou um final feliz só acontece em histórias de cinema? Como alguém, enquanto educador, pode contribuir para que a vida dos seus alunos siga um caminho até um final que faça com que a plateia aplauda de pé? Como colaborar com o “roteiro” da vida desses alunos? O que pode fazer um educador para “dirigir” a vida desses pequenos “protagonistas” a um final feliz, digno de filmes de cinema? Como fazer da vida do nosso aluno um espetáculo?

O filme “Escritores da Liberdade” (Freedom Writers - EUA/Alemanha 2007) conta a história real da professora Erin Gruwell, uma fantástica e inspiradora história de vida que nos mostra como as palavras podem libertar as pessoas e de como a educação, a cultura, o incentivo, a dedicação e o conhecimento são bases para que um mundo melhor aconteça e de fato se estabeleça.

A Professora Erin Gruwell teve que travar grandes batalhas em favor de seus alunos, desafiou o sistema, lutou contra o preconceito e, quando todas as pessoas olhavam para seus alunos como jovens sem futuro, ela remou contra a correnteza e se desafiou a cumprir seu papel e dar aos seus alunos a felicidade de uma vida bem-sucedida. Da experiência em sala de aula, surgiu o livro que mais tarde virou filme; e muito mais do que isso, hoje “Escritores da Liberdade” é uma fundação que auxilia diversos projetos educacionais, tudo baseado no processo vivido pela professora.

Talvez assistindo a esse filme venhamos a enxergar algumas respostas, não só para nós, enquanto educadores, mas também enquanto seres humanos, enquanto pais, enquanto filhos, enquanto amigos. Podemos tomar como lição de vida a força que a professora tem ao lutar por aquilo que acredita, paciência e compreensão para enfrentar as dificuldades e diferenças, o empenho em se doar por inteira para que seus alunos pudessem sentir, de alguma forma, que ela acreditava neles e desejava oferecer a eles um ensino de qualidade.

Ser educador é um desafio de cinema, uma verdadeira história cheia de emoções, comédia, dramas, terror, aventura e, acima de tudo, muita ação. Aliás, é exatamente esse o gênero que deveria ser o carro-chefe da vida de um educador: a ação. Nós só vamos assistir a um final feliz se houver ação. É o tempo de o educador agir. Se existe alguém que pode fazer a diferença na vida das nossas crianças, somos nós, educadores. Podemos corrigir os roteiros, “deletar” as cenas que estragaram suas vidas e refazê-las, podemos trocar a trilha sonora e melhorar a edição, levar conhecimento, incentivo, força, alegria e motivação para que nosso aluno alcance o seu final feliz.

A vida de todo educador é um desafio de cinema, mas a vantagem é que de nós serão produzidos muitos finais felizes. Cada um dos que passarem pela nossa sala de aula poderá ser uma obra de arte se nós fizermos a nossa parte, que é fazer mais do que somente o que nos cabe. Assim, aplaudiremos em pé muitos finais felizes, inclusive o de nossa própria vida.

*Júnior Silveira é Pedagogo, formado em Artes Cênicas; atua como Mediador de Formação em Cinema e Teatro da empresa Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br) no município de Votorantim, São Paulo.




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