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Opinião
Domingo - 05 de Junho de 2011 às 22:56
Por: Marlene Julia de O. Scarpat

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A escola e as práticas educativas fazem parte de um sistema de concepções e valores culturais onde determinadas propostas têm êxito quando se conectam com algumas necessidades sociais e educativas. Educar e Cuidar, como prevê as diretrizes nacionais para a educação básica, não é uma tarefa fácil.

A proposta de se trabalhar com a metodologia de projetos pode contribuir com a prática pedagógica do professor, como também na função social que a escola exerce, em especial, quando falamos em promover a educação de qualidade social para todos.
Segundo professor Nilbo Nogueira in Zenti (2005:31):

“Projetar é sonhar. Afinal, tem coisa melhor que planejar e pôr em prática, na sala de aula, atividades de acordo com seus gostos e interesses? Mas não basta sonhar sozinho. Trabalhar com projetos deve ser uma criação coletiva da coordenação, dos professores e, principalmente, dos alunos”.

Os projetos podem ser considerados como uma pratica educativa que teve reconhecimento em diferentes períodos do século XX. O termo "projeto" surgiu pela primeira vez na literatura educacional em 1904 num artigo do educador Jack C. Richards (1904) que orientava futuros professores de trabalhos manuais e considerava útil que eles desenvolvessem projetos suscitados, por problemas e tarefas práticas.

No entanto, foi através do pensamento de Dewey (1956) e outros representantes da chamada "Pedagogia Ativa", que surgiram as primeiras referencias ao trabalho com projetos como meio pedagógico. Jhon Dewey, filósofo, psicólogo e pedagogo liberal norte – americano, exerceu forte influência sobre toda a pedagogia contemporânea. Ele foi o defensor da "Escola Ativa" que propunha a aprendizagem do aluno através da atividade pessoal.

A escola nova destaca o principio da aprendizagem por descobertas e estabelece que atitude de aprendizagem parte do interesse dos alunos, que por sua vez, aprendem fundamentalmente pela experiência, pelo que descobrem por si mesmos. O professor é visto como facilitador no processo de busca no conhecimento que deve partir do aluno. Cabe a ele organizar e coordenar as situações de aprendizagem, adaptando suas ações às características individuais dos alunos para desenvolver suas capacidades e habilidades.

Também, de acordo com Kilpatrick (1919), professor de Educação da Universidade de Columbia em Nova York, foi o iniciador da reflexão sobre o trabalho de projeto enquanto método educativo e levou, em 1919, para a sala de aula, algumas concepções de Dewey. Este método de ensino tinha como objetivo trabalhar com os alunos as possibilidades de desenvolver o espírito de pesquisa, envolvendo a utilização de várias disciplinas ao mesmo tempo. Trata-se de um método ativo, que permitiria a contextualização e a significação do mesmo.

Para Jean Piaget (1969), psicólogo francês, a Escola Ativa, (modelo existente na atualidade) tinha o mérito de envolver, no processo de ensino aprendizagem, o interesse do aluno, sua ação e reflexão, sem excluir o esforço do mesmo.

Os projetos aparecem então como designação de um conceito que procura unificar vários aspectos importantes relativos ao processo de aprendizagem: a ação, e de preferência a ação realizada com empenho pessoal, a intencionalidade desta ação, isto é, a existência de um objetivo, e sua inserção num contexto social.

Kilpatrick (1919) afirma que sua proposta de que os projetos ocupam um lugar central nas práticas escolares, tem a ver com a perspectiva de que basear a educação em projetos e identificara educação coma própria vida.

Muito embora esse método não tenha sido abarcado na sua totalidade, por uma série de motivos sociais, políticos e culturais, seus princípios de autonomia, pesquisa, ação e reflexão foram desenvolvidos na ação pedagógica, numa tentativa de resgatar o interesse do aprendiz e de melhorar sua vinculação afetiva com as situações de aprendizagem.

No Brasil, o "Método de Projetos" tornou-se conhecido a partir da divulgação da "Escola Nova", que, se colocava contra os princípios e métodos da escola tradicional. As idéias de educadores como Kilpatrick, Decroly, Freinet, entre outros foram disseminados no Brasil por Anísio Teixeira (1999) e Lourenço Filho (1983).

Atualmente re – interpretado, esse movimento tem fornecido subsídios para uma pedagogia dinâmica, centrada na criatividade e na atividade discente, numa perspectiva de construção do conhecimento pelos alunos, mais do que na transmissão de conhecimento pelo professor.

Esta forma de atuação foi construída e sistematizada, tendo como preocupação central a complexidade do aprender, a importância de se integrar o ser humano no momento da aprendizagem e na importância do significado nesse processo. É uma forma de atuação que se iniciou coma intenção de unidade, do todo, que pressupõe uma forma de pensar interacionista e construtivista.

O "Método de Projetos", de Dewey e Kilpatrick passa então a ser visto não mais como um "método" e sim como uma postura pedagógica. Não se trata de uma técnica atraente para transmitir aos alunos o conteúdo das matérias. Significa de fato uma mudança de postura, uma forma de repensar a escola e o currículo, a prática pedagógica em si.
Nesse sentido, Hernandez (1998, p. 64), aborda que:

Os projetos de trabalho supõem, um enfoque do ensino que trata de ressuscitar a concepção e as praticas educativas na Escola, para dar respostas (não "a resposta") às mudanças sociais que se produzem nos meninos, meninas e adolescentes e na função da educação e não simplesmente readaptar uma proposta do passado e atualiza-la.

A função do projeto é a de tornar a aprendizagem real e atrativa para o educando, englobando a educação em um plano de trabalho agradável, sem impor os conteúdos programáticos de forma autoritária. Assim o aluno busca e consegue informações, lê, conversa, faz investigações, formula hipóteses, anota dados, calcula, reúne o necessário, e por fim, converte tudo isso em ponto de partida para a construção e ampliação de novas estruturas cognitivas.

Dentro dessa perspectiva, os conteúdos disciplinares, antes teóricos e abstratos, deixam de ser um fim em si mesmos e passam a ser meios para ampliar a formação dos alunos e sua interação coma realidade, de forma critica e dinâmica.
Os projetos pedagógicos possuem várias concepções, dentre elas:

a) Concepções de Conhecimento Escolar
A Pedagogia de Projetos traduz uma determinada concepção de conhecimento escolar, trazendo à tona uma reflexão sobre a aprendizagem dos alunos e os conteúdos das diferentes disciplinas.
Há uma tendência, de forma bastante generalizada no pensamento pedagógico, em colocar, como questões opostas, a participação dos alunos e a apropriação de conteúdos disciplinares.

b) Concepção Cientificista
Professores com essa concepção enxergam o conhecimento escolar como a transmissão de um conhecimento disciplinar (já pronto e acabado - a alunos que não o detém). Estão preocupados com a transmissão de conteúdos disciplinares, acham que não podem abrir uma discussão com os alunos, ou propor um trabalho de grupo, pois isso significaria perda de tempo e o não "vencimento" dos conteúdos, ao final do ano.

c) Concepção Espontaneísta
Ao tentar romper com esta concepção, muitos profissionais acabam negando e desvalorizando os conteúdos disciplinares, entendendo a escola apenas como espaço de conhecimento da realidade dos alunos e de seus interesses imediatos.

Estas duas tendências têm uma visão dicotômica do que seja conhecimento escolar acabando por fragmentar um processo que não pode ser fragmentado. Não se pode separar o processo de aprendizagem dos conteúdos disciplinares do processo de participação dos alunos e nem desvincular as disciplinas da realidade atual.

Os conteúdos disciplinares não surgem do acaso. São fruto da interação dos grupos sociais com sua realidade cultural e as novas gerações não podem prescindir do conhecimento acumulado socialmente e organizado nas disciplinas.

Também não é possível descartar a presença dos alunos com seus interesses, concepções, sua cultura, principal motivo da existência da escola.

d) Concepção Globalizante
A Pedagogia de Projetos se coloca como uma das expressões dessa concepção, pois permite aos alunos analisar os problemas, as situações e os acontecimentos dentro de um contexto e em sua globalidade, utilizando, para isso, os conhecimentos presentes nas disciplinas e sua experiência sócio-cultural, conforme Barbosa (1999:18).

Assim, não se organizam os projetos em detrimento dos conteúdos das disciplinas. O desenvolvimento de projetos, com o objetivo de resolver questões relevantes para o grupo, vai gerar necessidades de aprendizagem e, nesse processo, os alunos irão se defrontar com os conteúdos das diversas disciplinas, entendidos como "instrumentos culturais" valiosos para a compreensão da realidade e intervenção em sua dinâmica.

Com isso, com projetos pedagógicos há uma possibilidade de evitar que os alunos entrem em contato com os conteúdos disciplinares, a partir de conceitos abstratos e de modo teórico. É um recurso pedagógico muito útil para mobilizar naturalmente diversas competências cognitivas, pois a elaboração e execução de um projeto estão necessariamente ligadas a uma investigação – ação que se deve ser simultaneamente um ato de transformação tornando-se assim uma produção intelectual.

Os projetos são organizados em torno de temas que intrigam o aluno e oferecem condições para criar laços temáticos entre as disciplinas. As atividades desenvolvidas procuram estimular uma variedade de inteligências e aplicar diversos recursos para desenvolver habilidades de linguagem, exploração numérica e geométrica, noções de ciências, estudos sociais e artes.

A duração de um projeto varia, dependendo do interesse dos alunos pelo tema proposto, dos problemas que surgirem e da própria motivação do grupo para dar ou não continuidade.

Enfatizando o trabalho dos temas transversais e de temáticas sociais, através de projetos pedagógicos, Zenti (2005:31) quando escreve o artigo “Pedagogia de Projetos: aprender com prazer”, cita o mestre em educação, o professor Samuel Lago, abordando que a solução está em trabalhar com projetos. É o aluno, ao lado do professor, quem define o menu de assuntos e temas que poderão ser aprofundados e, por meio deles, os conteúdos estudados, isto é, “os projetos colaboram para dar sentido e prazer à aprendizagem”.

Pode-se afirmar que os objetivos propostos pelos PCNs (1998) para a Educação Básica estão voltados para uma abordagem construtivista respeitando a diversidade social, cultural, a interação e cooperação, a autonomia, o espírito de busca e a reflexão que leva a uma aprendizagem significativa.
A aprendizagem significativa é entendida que, para acontecer é necessário o desenvolvimento do aluno, o empenho em estabelecer relações entre o que já sabe e o que está aprendendo, em usar instrumentos adequados que conhece e dispõe para alcançar a maior compreensão possível; exige também uma ousadia para se colocar problemas, buscar soluções e experimentar novos caminhos.
Esta proposta vai ao encontro à pedagogia de projetos, uma vez que, ao participar de um projeto, o aluno está envolvido em uma experiência educativa, onde o processo de construção do conhecimento está integrado às praticas vividas. Esse aluno deixa de ser, nessa perspectiva, apenas um aprendiz do conteúdo de uma área de um conhecimento qualquer.

Diante disso, torna-se mais importante dizer que o trabalho com projetos pedagógicos na escola pode possibilitar que a escola cumpra um dos seus maiores desafios, que é o de recuperar o compromisso com os valores pessoais, sociais e culturais que devem marcar a formação dos cidadãos.
Daí quem ganha são todos: a escola por ser fiel ao seu papel; o educando por adquirir autonomia e criticidade, responsabilidade e organização. Os pais por perceberem os filhos envolvidos com projetos que os tornam mais humanos, e com possibilidades de adotarem novos valores para a sua vida. E quem sabe, pais participando de projetos juntamente com os filhos e os professores, pois agora o conhecimento, que antes se transformava, quase todo, em pó (de giz), tem significado especial para continuidade do serviço à cidadania.

São vários os fatores que influenciam na hora de se implementar o trabalho com projetos pedagógicos, utilizando-se da interdisciplinaridade e transversalidade, como uma alternativa metodológica para a educação brasileira, uma delas é a formação do professor; este deve ser qualificado para que possa lidar com as inovações, pois esse trabalho requer um conhecimento amplo do contexto político e social atual, e requer também um grande domínio de sala do professor, para que este possa conduzir o desenvolvimento do projeto a contento.

Por isso, a formação dos educadores, seja inicial e continuada, deve levar em conta as novas funções que eles deverão desempenhar, como resultado da aplicação das novas técnicas educativas. As condições de formação do pessoal docente devem ser profundamente modificadas para que sua missão seja mais a de educadores que a de especialistas em transmissão de conhecimentos.

Investir no desenvolvimento profissional dos professores é também intervir em suas reais condições de trabalho, e a formação de professores pode ser considerada como um processo que se prolonga por toda a vida profissional. Aprender a ensinar é um processo complexo que envolve fatores afetivos, cognitivos, éticos de desempenho entre muitos outros.




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