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Opinião
Sexta - 03 de Junho de 2011 às 14:49
Por: Lourembergue Alves

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Greve dos trabalhadores da rede pública estadual. É isso que se ouve e lê nos noticiários. Há muito não se tinha notícia dessa natureza. Também, pudera, a Secretaria de Educação se encontra nas mãos do PT. Sigla que tem o SINTEP como braço. Situação que mantém refém os próprios professores. Assim, de mãos atadas, não reivindicam, nem colocam em xeque a ausência de planejamento do governo para o setor. 
 
Quadro reinante desde a gestão Blairo Maggi. Ainda que houvesse uma série de fatores capazes de mexer com essa categoria profissional. Tais como a desativação de prédios escolares, salas de aula inadequadas para a atividade escolar e, mais, demissões de funcionários e professores interinos antes do término do ano letivo. 
 
Nada disso, porém, fizera com que eles saíssem de seus casulos – habilmente preparados pelo governo quando nomeou um petista para a dita pasta. Cedo ou tarde, no entanto, o invólucro se abre e as insatisfações, nele contidas, afloram. Resulta-se daí a própria greve. Esta pode até ser abortada, e, assim, evitaria que os alunos fiquem sem aulas. Mas a cápsula jamais retornará ao seu estado original. Continuará aberta. Por onde deve ecoar outras manifestações. Afinal, persiste o distanciamento entre o discurso do governo e as necessidades dos profissionais da educação. Antigo. Só agora captado e utilizado por um dos grupos dentro do PT. É a chamada terceira via – que se encontra espremida entre o capitaneado por Carlos Abicalil e o liderado pela ex-senadora Serys Marly. Razão pela qual se viu fortes críticas à professora Rosa Neide, secretária de educação e ligada politicamente ao ex-deputado Abicalil. 
 
Percebe-se, então, que a cúpula do partido no Estado tem a presidência do SINTEP, mas não conta com a maioria da categoria profissional. Retrato repetido de outros momentos. O curioso, no entanto, é notar que nem o grupo da ex-senadora abarca a referida maioria. Passou a tê-la junto de si a partir do instante em que teve início o processo de punição da Serys por “infidelidade partidária”. O que reforçou, mas não provocou o estado de greve.

Embora haja sentido pensar de modo diferente, uma vez que o governo concede reajuste acima da inflação e da Assembléia Legislativa, não mais se tem o eco da auditoria na Secretaria de Educação – bastante ouvido no mês de abril.

De todo modo, o estado de greve revela a divisão clara no seio do partido petista regional. Uma divisão que acaba por enfraquecer diariamente a sigla. Mesmo diante da notícia recente de que a suspensão da ex-senadora por um ano, estipulada pela Executiva estadual do partido em substituição a expulsão solicitada pelo Conselho de Ética, foi diminuída para quatro meses, via recurso à nacional.
 Independentemente da extensão do tempo, continua sendo uma punição, e esta – em razão do histórico da ex-senadora – continua injusta. Pois, em meio a uma discussão e outra, ocorre uma exposição. Negativa por sinal a figura da filiada. Além de revelar as feridas da própria agremiação, provocadas por uma disputa interna de consequências irreparáveis.
 
Mas, definitivamente, não fora essa briga que promoveu a greve. Esta partiu do interior (Sinop e Alta Floresta) e chegou até a Capital. Não sem antes passar por Rondonópolis. Processo significativo. Isso porque inexiste planejamento algum na educação pública estadual. Pior ainda, o governo não conta com um articulador, habilidoso bastante para interpretar as insatisfações da categoria, que passa por um momento precioso – capaz, inclusive, de lhe possibilitar a eleição de uma diretoria desligada da cúpula do PT. O que seria, no mínimo, importantíssimo para a liberdade dos profissionais. 

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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