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Opinião
Sexta - 27 de Maio de 2011 às 07:35
Por: Lourembergue Alves

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O viver democraticamente não é tarefa fácil. Os brasileiros que o digam. Pois têm dificuldades em lidar com o poder visível e, mais ainda, em se relacionar com as diferenças. Situações presentes agora. Bastou que o STF (Supremo Tribunal Federal) reconhecesse a união estável dos homossexuais e, novamente, um ministro de Estado se silencia no instante em que é cobrado para prestar contas a respeito do seu patrimônio, aumentado que fora em vinte vezes em apenas quatro anos. 
 
Quadro desanimador. Bem mais quando se percebe que os mesmos congressistas, que saem contrários ao reconhecimento dos direitos dos homossexuais, também são partidários de que o senhor Antônio Palocci não deve explicação alguma. Blindam o ministro-chefe da Casa Civil para não vê-lo em constrangimento. Mas, contraditoriamente, não moveram uma palha para evitar que o caseiro Francenildo dos Santos – após ter o seu sigilo bancário violado - fosse obrigado a explicar sobre os depósitos registrados em sua conta, realizados pelo pai biológico (2006); enquanto, hoje, Palocci se cala, escudado que é pela estratégia de governo, pelo cargo ocupado e pela camada governista, capitaneada pelos petistas. Justamente aqueles que, no passado ou na condição de oposição, saiam em defesa da transparência. Porém, no governo, comportam de maneira distinta. Chegam a taxar o mensalão de obra da imprensa sensacionalista. Ainda que a dita denúncia tenha sido aceita pela Alta Corte, a qual considera réus os “mensaleiros”. Denominação atribuída porque os envolvidos receberam mesadas para apoiar o governo no Congresso. Embora o então presidente do país, á época, insistisse que “nada sabia”.   
 
É por esta e outras, que o Brasil e o seu povo patinam nas pistas da democracia. Patinam sem sair do lugar. Pois, por aqui, ainda existe uma casta de privilegiados. “Sujeitos acima do bem e do mal”. Tanto que muitos brasileiros – alguns deles, inclusive, situados na base da pirâmide social - os têm como tal. Chegam a defender a atitude taciturna de Antônio Palocci. Do mesmo modo que se manifestam contrários ao senhor Manoel Pestana, por este ter encaminhado, à Procuradoria Geral da República (17 de abril), uma representação em que pede a responsanbilização criminal do ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, pela existência do mensalão, uma vez que há provas da dita responsabilidade na montagem do esquema de captação e distribuição de recursos para aliados. A não inclusão do ex-presidente, diz o gaúcho, nenhum dos quarenta réus poderá ser incriminado. 
 
Nada, no entanto, se viu a respeito. A não ser o implacável silêncio. Até os veículos de comunicação, que têm importância sem igual nestes casos, ficaram mudos. A falta de holofotes, no entanto, também calou os políticos. Por isso, voz alguma se fez ouvir no Parlamento federal. Não a respeito da dita representação. Tampouco, igualmente, sobre a responsabilidade do ex-metalúrgico, cuja popularidade e prestígio continuam em alta. A ponto de convencer deputados federais e senadores governistas para formarem uma barreira humana com o fim de defender o ministro Palocci. E vem conseguindo. Diante do olhar incrédulo da oposição – toda desorganizada e desorientada – e do sorriso maroto da bancada de parlamentares contrária a criminalização da homofobia.

Com isso, não só apagam as vozes dos diferentes, como também impedem a população de saber como um agente público aumentou seu patrimônio consideravelmente. Ignoram, assim, o preceito basilar da democracia, cuja essência é o do poder visível, onde nada pode ser jogado para debaixo do tapete, ainda que seja por meio do ato de calar-se.            

Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br



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