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Opinião
Segunda - 23 de Maio de 2011 às 23:28
Por: Bruno Peron

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É evidente que todo teatro implica o manejo da cultura: a escolha da vestimenta, a elaboração do cenário, a opção por um roteiro em vez de outro, a organização da narrativa, o improviso, os gestos que podem fazer a audiência chorar ou cair em gargalhadas, a consideração de carências e preconceitos inerentes à sociedade.

As peças teatrais permitem uma fluidez que de outro modo não encontraria canais para escoar.

Gosto do teatro que agrega algo ao que sabemos de um determinado assunto ou reelabora nossas convicções de modo inteligente e provocativo. Para esta finalidade, a família, a política e o sexo são temas frequentes, talvez porque nos despertam a curiosidade, o que não impede que outros temas cativem a plateia.

E não é por acaso.

Há sempre um estudo que viabiliza o investimento nalgumas áreas e noutras não.

Uma equipe da empresa Globo, a mesma que age como se fosse um órgão de governo, constatou que a criação do "Big Brother Brasil", entre outros de seus produtos pasteurizados, seria extremamente rentável independentemente dos "dumbos" que o programa alimenta e gera.

Dá-se sempre um jeito de vender o peixe neste país: pedintes encontraram no malabarismo um recurso para sensibilizar os condutores e convencê-los a doar moedas, ainda que algumas secretarias municipais recomendem evitar esmolas.

O Brasil tem demanda para a emergência do humor como recurso para veicular temas habitualmente tidos por enfadonhos. Os programas de escárnio na televisão, como "Pânico na TV", e colunistas que exploram o gracioso, como José Simão, reconduzem os brasileiros aos temas que pouco lhes agregam enquanto seres detentores do atributo do pensamento e dignos de um mundo mais justo.

A maioria dos cidadãos acredita que certos assuntos cabem somente a um grupo especializado discutir, por isso se os tangencia com uma superficialidade assombrosa, no ritmo de "buemba buemba".

Esta delegação de responsabilidades, porém, é o que provoca o alheamento de tantos brasileiros, que ainda creem na "boa" prestação de contas de um sistema representativo de gestão pública, no qual não há mais como acreditar, como atesta o pululante escândalo de corrupção na Prefeitura de Campinas veiculado pela TV Globo.

A maioria deles, destarte, vende-se ao "mercado" da representatividade e suja as mãos para conquistar o poder e mantê-lo, como prescreve o clássico Nicolau Maquiavel, ainda antes da unificação italiana. Outros protagonistas deste sistema de representação política preferem manchar as meias ou criar "laranjas" para suas artimanhas, conquanto depois de reconhecer tantos avanços da democracia.

O ponto conflitivo deste sistema do companheirismo político é que logo se desvendam as incontáveis máfias que exploram os serviços no Brasil, por exemplo a das "concessionárias" de rodovias paulistas e dos taxistas de grandes capitais, uma vez que a paciência dos cidadãos de bem tem limites.

Temos os mafiosos dos táxis, os combustíveis, os satélites, a eletricidade, o chocolate, etc. Criaram-se "agências reguladoras" no Brasil, que resultaram um embuste de uma teatralidade que engana poucos.

Flagraram-se taxistas golpeando um motorista de fora da gangue no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro, a gasolina chegou a R$3,50 e o álcool a R$2,70 nalguns estados brasileiros (até então tido por país "auto-suficiente em petróleo" e um exemplo para o mundo em energia alternativa), o país passou a importar cacau porque o sul da Bahia teve as plantações sabotadas por um tal de fungo causador da "vassoura-de-bruxa", e a energia elétrica aumentou 7% no Sudeste, a região "motor" do país. O governo brasileiro delega às empresas transnacionais a exploração da indústria do chocolate, que fatura bilhões de reais anualmente, e reitera sua omissão.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganha centenas de milhares de dólares fazendo os discursos ao redor do mundo que lhe conferiram popularidade elevada enquanto presidiu o Brasil. Luiz Inácio promoveu-se a partir da deturpação de programas sociais antecedentes ao seu governo que foram cogitados como impulsos temporais ao desenvolvimento social.

Lula não apostou na mudança de atitude dos brasileiros.

Uma das virtudes do teatro é que os atores podem ser descobertos e desmascarados a despeito da essência deste segmento cultural, que manifesta anseios e inquietações da sociedade onde nasce cada ator e o roteirista e de quem os promove. É o "lugar de enunciação", termo comum no meio acadêmico.

Atraímo-nos por vezes a assistir ao teatro pelo tema ou o título, mas nem toda abordagem nos agrada.

O mesmo tema poderá ter enfoques diferentes, quiçá divergentes. Estas vicissitudes são o que torna o teatro um fenômeno cultural, por mais que a expressão soe um pleonasmo.

Parece-me contraditório, no entanto, que o teatro receba mais incentivos financeiros que o circo, cujo setor cultural se desmancha gravemente num país de tantos fenômenos circenses.



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