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Opinião
Sexta - 08 de Abril de 2011 às 13:38
Por: Lourembergue Alves

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A aniversariante não é nenhuma aspirante a debutante, tampouco se encontra na fase intermediária entre a adolescência e a adulta. O seu tempo é bem outro. Nem por isso recusa as homenagens que lhe são encaminhadas. Ainda que algumas das tais homenagens apareçam um tanto velhas e desgastadas. Pois já são bastante conhecidas. Sem que seus remetentes tenham trocado uma vírgula, um ponto ou uma palavra no teor da mensagem. Aliás, sequer, a fotografia do emissor foi mudada. Sempre a mesma cara, como se os políticos não envelhecessem. Embora a homenageada aparente rugas e traços que denunciam seus quase três séculos de existência. 

 Rugas e traços que, por outro lado, revelam a falta de cuidados para com ela. Ausências traduzidas em escolas destituídas de estruturas, predomínio da insegurança, ruas esburacadas, esgotos a céu aberto, postos de saúde com falta de medicamentos, sinaleiros quebrados, meio fio por fazer, torneiras sem água, trânsito sem disciplinamento algum, etc., etc. 
 
Cuiabá, portanto, se encontra como a um barco a deriva. É esta, infelizmente, a impressão que o visitante tem dela. Pior ainda, é esse o retrato que ele leva daqui. Pois até o mapa da cidade – tão necessário para quem tenta se locomover por suas artérias – inexiste. Assim como igualmente inexistem os itinerários em cada ponto de ônibus, e, nesse labirinto urbano, carros ocupam as calçadas, enquanto o pedestre é obrigado a desviar do seu próprio caminho, senão optar pela travessia das ruas e avenidas. Pois nem com as faixas, que lhe deviam ser apropriadas, não se pode contar, e, quando por uma acaso se tem uma ou duas faixas de pedestre, são ignoradas pelos motoristas. 
 
Cenário complicado. Bem mais no exato instante em que se percebe que a AGECOPA (Agência Executora de Projetos da Copa do Mundo de 2014) transformou-se em objeto de troca política no Parlamento regional. Isso a faz perder o seu real papel, ou seja, o de viabilizar as obras para a cidade – as chamadas obras de mobilidade urbana, a exemplo das trincheiras, viadutos e duplicações de vias.
 Resulta-se daí um quadro nada animador. Inclusive no que diz respeito à permanência da Capital como uma das sub-sedes da Copa de 2014. Perda gerada pela não realização de obras estruturais necessárias ao dito empreendimento que, na verdade, são imprescindíveis ao atual processo de crescimento da Cidade. 
 
O tragicômico disso tudo, no entanto, é que os políticos – a cada aniversário – lhe fazem declarações de amor, de apreço e de consideração. Juras de amor falsas. Pois, na prática, não movem “uma palha” com o fim de mudar a sua feição urbana. Bastante desgastada devido à inoperância dos integrantes - das várias legislaturas que se sucederam - da Câmara Municipal, somada à insensibilidade e a falta de traquejo administrativo, e também político, das pessoas que exerceram o cargo de prefeito.

Sobretudo do início da década de 1980 até hoje, quando a Capital carecia, e ainda precisa, muitíssimo, de mudanças estruturais. Raros, nesse período, os momentos de lucidez administrativa. 
 
Explica-se, portanto, o porquê Cuiabá perdeu a sua condição de “Cidade Verde”, e se encontra, bem aquém das demais Capitais dos Estados brasileiros. Nem por isso, entretanto, deve deixar a sua data natalícia passar em branco. Afinal, a cidade é bem maior. Pois vai além do seu espaço físico, abarcando a própria população e todo seu conjunto de história e valores culturais. Razão pela qual se deve dizer sempre: Parabéns, Cuiabá!     

Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos



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