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Opinião
Quarta - 30 de Março de 2011 às 15:32
Por: Dirceu Cardoso Gonçalves

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Na virada de 31 de março para 1º de abril de 1964, tropas mineiras rebeladas marcharam rumo ao Rio de Janeiro e chegava ao fim o governo do presidente João Goulart. Era apenas a concretização de um desejo dos militares, expresso desde a tentativa de impedir a posse de Jango, considerado esquerdista, em 1961, por ocasião da renúncia de Jânio Quadros. Quebrou-se, então a fragilizada ordem constitucional e o marechal Castello Branco foi feito presidente.

Os militares e seu apoiadores denominaram o movimento como “Revolução de 31 de março”, enquanto os opositores, preferiram classificá-lo como “Golpe de 1º de Abril”, vinculando-o ao popular dia da mentira. Caudatário da guerra fria então em vigor pelo mundo, o regime combateu esquerdistas e supostos esquerdistas, realizou uma cruzada anticorrupção e cassou mandatos. Recrudesceu com o advento do AI5, em 1968, que suspendeu o habeas-corpus e outras garantias constitucionais e deu poderes extraordinários ao presidente. A imprensa as artes foram censuradas, houve a luta armada contra o regime e grande número de prisões políticas, com tortura, mortes e sofrimento típicos de momentos como aqueles.

Como em toda luta político-ideológica, todos os participantes estavam “carregados de razão”. Apesar da censura e dos modestos meios de divulgação então existentes, o povo assistiu, amedrontado, a luta. Viu a morte de amigos e parentes muitas vezes sem entender o que acontecia e, sem qualquer dúvida, sofreu. Os militares de 64 tinham a certeza de que faziam o melhor para o país e seus opositores também. A história, no entanto, nos mostra que, como em toda guerra, houve excesso de ambos os lados. Por mais justificativas que tenham, o regime e seus opositores provocaram a perda de vidas e fizeram sofrer famílias inteiras.

Mas, tudo isso, para a nova geração, é apenas a história recente do Brasil. Nos próximos dias, uma das redes nacionais de televisão levará ao ar uma novela com a abordagem do período. Espera-se que, apesar das técnicas de dramaturgia para a garantia de audiência, a obra não seja um folhetim de propaganda de um lado e nem de outro. Discutir hoje as razões ou falta de razões para aquilo que ocorreu há quase meio século não consulta em nada os interesses das novas gerações e do futuro do Brasil. Seria, sim, uma enfadonha repetição de fatos e coisas que os envolvidos tiveram a oportunidade de externar a partir de 1979, quando vigorou a Anistia e, principalmente, depois de 1986, na Nova República.

A melhor postura para hoje é a da própria presidente Dilma Rousseff, que foi insurgente, presa e torturada, reconhece o passado e as razões da época, mas vive a atualidade. Se, em vez de seguir a própria vida, tivesse ela se vitimizado e chorado o leite derramado, com toda certeza, não estaria onde está. A poeira da história é o melhor remédio porque dá chances para a vida continuar...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)




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