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Opinião
Terça - 01 de Fevereiro de 2011 às 16:19
Por: Onofre Ribeiro

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Por força das circunstâncias, acabei profundamente ligado ao processo da divisão de Mato Grosso que resultou na criação de Mato Grosso do Sul. Morava em Brasília e, e através da jornalista Noris Lima, do Jornal de Brasília,  recebi um convite do diretor do Departamento de Divulgação do Governo de Mato Grosso, Levy Campanhã, pra trabalhar nessa área no governo. Vim conhecer Cuiabá em julho de 1976 e vi um campo fascinante e muito diferente de Brasília. Aceitei e regressei já contratado em agosto. Lá se vão quase 35 anos. A percepção estava certa. Aqui era e continua sendo um lugar fascinante pra carreiras profissionais e pra se viver.

Voltemos à divisão. O presidente da república, general Ernesto Geisel baseava-se em estudos da Escola Superior de Guerra, que era o braço filosófico e pensante do regime militar. É bom lembrar outro fato que tem passado despercebido. Os esforços divisionistas na região Sul de Mato Grosso concentravam-se em Campo Grande, onde se sediava a 9ª. Região Militar, que era o braço do Exército na fronteira Oeste do Brasil. Jovens oficiais que serviam no comando acabavam se integrando à sociedade de Campo Grande e se contaminavam com as idéias separatistas.

Em 1975 chegaram ao comando do país, além do general Geisel, oficiais líderes no governo, como o general Golbery do Couto e Silva, o estrategista mais notável do regime militar, entre outros eminentes oficiais. Geisel servira como tenente em Campo Grande. Uma vez na chefia do governo levantou de imediato a bandeira da separação por razões próprias e pela convergência de todos os auxiliares próximos, também simpatizantes da idéia.

No Sul, havia dois respeitados políticos, estreitamente ligados às idéias divisionistas: os ex-governadores Pedro Pedrossian (1967-1971) e José Fragelli (1971-1975). Ambos eram do Sul. Era com eles que o governo federal conversava e encaminhava a divisão. O governador de 1975 a 1978, era José Garcia Neto, um engenheiro indicado pelo Norte. O governo federal não conversava sobre divisão com o governador Garcia Neto, exceto em 1975, quando ele assumiu debaixo de boatos e consultou o presidente Geisel em abril e ouviu dele a seguinte frase: “ainda não pensei no assunto, mas quando for pensar o Senhor será o primeiro a saber”. O governador pediu autorização para apresentar uma ampla e isenta análise justificando a não-necessidade de se dividir Mato Grosso. O documento foi entregue em 30 dias e desconsiderado  porque a decisão já estava tomada desde muito antes.

Em abril de 1977 o presidente convocou o governador Garcia Neto a Brasília para avisá-lo que decidira dividir Mato Grosso e que a lei-complementar seria enviada ao Congresso Nacional. A decisão estava tomada, baseada em dados dos ministérios e profundamente distante da realidade econômica, política e social, porque fora feita com base em informações de líderes do Sul e de técnicos federais. Faltavam dados do governo de Mato Grosso.

A Lei Complementar 31/77 foi aprovada em 13 de outubro de 1977, propondo a separação física dos dois estados a partir de 1º. de janeiro de 1979. A condução da divisão seria feita através da Comissão Especial da Divisão, criada na Lei, e que seria conduzida por um representante da cada um dos dois estados e por técnicos federais. Por Mato Grosso foi indicado o Professor Aecim Tocantins, ex-presidente do Tribunal de Contas e um técnico extremamente criterioso e com facilidade de diálogo.

Essa fase não foi fácil e se não fosse, realmente, o empenho e o destemor de Aecim Tocantins, a divisão teria naufragado. O que poderia ter acontecido só Deus sabe. Finalmente, no dia 1º. de janeiro de 1979, o engenheiro gaucho Harry Amorim tomou posse como o primeiro governador de Mato Grosso do Sul, depois uma imensa e fratricida luta entre as lideranças políticas sulistas pelo poder. Em Cuiabá, o advogado corumbaense Cássio Leite de Barros encerrava o mandato de último governador do velho Mato Grosso, entregando o cargo ao sucessor, engenheiro cuiabano Frederico Campos.

Daí pra cá, as coisas caminharam lá e cá, cada um ao seu modo. As brigas atuais são outra estória. O assunto continua amanhã.



Autor

Onofre Ribeiro
onofreribeiro@onofreribeiro.com.br www.onofreribeiro.com.br

É jornalista em Cuiabá.

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