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Opinião
Terça - 04 de Janeiro de 2011 às 09:02
Por: Alexandre Garcia

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A primeira referência no primeiro discurso da presidente Dilma no primeiro dia no ano foi à mulher. Homenageou a mulher antes de homenagear Lula, seu mentor. Uma lembrança justa, por ser ela a primeira mulher a chegar à presidência, em 121 anos de República. Um atraso de 36 anos em relação à nossa vizinha e rival Argentina: Maria Estela Martinez de Peron, a Isabelita, assumiu a presidência em julho de 1974. Eu estava lá como correspondente, quando morreu o presidente Peron e assumiu a vice, mulher dele. Na América Latina, já tiveram mulher na presidência antes do Brasil, além da Argentina, Nicarágua, Bolívia, Chile e Panamá. Em relação à África, nosso atraso é milenar: Cleópatra governou o Egito há mais de dois mil anos.

No Império do Brasil, tivemos a Princesa Isabel, filha do Imperador, que assinou a Lei Áurea, um ano antes de a Família Imperial ser expulsa do Brasil pela República. Mas na República, a primeira mulher a ganhar poder no governo foi Ester de Figueiredo Ferraz, feita ministra da Educação pelo presidente general Figueiredo. Na mesma época tivemos a primeira senadora, Eunice Michiles, que passou a representar o Amazonas por ser suplente de senador falecido. Assim, o grande mérito de deter o poder supremo da República, e pelo voto, é de Dilma Rousseff.

Mesmo em sociedades patriarcais, mulheres chegaram ao poder bem antes do Brasil, o que nos faz pensar no nosso machismo. Na Índia, Indira Ghandi governou o grande país com mão de ferro por duas vezes, entre 1966 e 1977. Em Israel, de 1969 a 1974, Golda Meir foi uma dura chefe de governo, derrotando os árabes na Guerra do Yom Kippur. Margareth Thatcher foi chamada de Dama de Ferro e foi a primeira mulher a governar a Inglaterra, em 1979. Em 1982, derrotou os argentinos que tentaram transformar em Malvinas as ilhas Falklands.

Cleópatra governou o Egito sempre dividindo o poder com algum homem a seu lado, sucessivamente seu pai, seu irmão, seu filho. Isabelita presidiu a Argentina sob a sombra da memória de Peron e dominada pelo seu guru, o ministro Lopez Rega. Assim como Cristina Kirchner governava orientada pelo marido e ex-presidente Nestor Kirchner, cuja memória, hoje, paira sobre ela. Assim como a dura Indira Ghandi tinha sobre ela a memória do pai, Nehru, que fora chefe de governo, e a seu lado, no poder informal, o filho mais moço e o mais velho, que a sucedeu. Até Golda Meir carregava o peso da memória de um homem do peso de Ben Gurion, de que fora ministra ("Golda é o único homem de meu gabinete", dizia Bem Gurion). Margareth Thatcher recebeu elogio parecido de Ronald Reagan: "Ela é o homem forte do Reino Unido" e nunca se soube que o marido Denis Thatcher houvesse tentado influenciá-la. Ao contrário, diziam os tablóides, quase atrapalhou, mas a primeira-ministra era forte demais para permitir isso.

No dia da posse, Lula só deu demonstrações de que agora é com a Dilma. No discurso, a nova presidente teve o cuidado de homenagear o mentor, mas deu indicações de correções de rumo. Os que a conhecem afirmam que uma de suas características é a gratidão incondicional. Fica para o futuro descobrir se Dilma estará mais próxima de uma Cristina Kirchner ou de uma Senhora Thatcher.


Alexandre Garcia
é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br.



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