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Opinião
Sexta - 31 de Dezembro de 2010 às 08:25
Por: Lourembergue Alves

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Madri é uma cidade fascinante. Encanta ainda mais ao perceber que o modernoso não ofusca o antigo. Ao contrário do que se vê em muitos lugares no Brasil. Particularmente em Cuiabá, onde o pretérito é visto quase sempre como “velho”, e, por causa disso, encontra-se mal cuidado, a exemplo de suas praças. Por aqui, diferentemente, há um apego as coisas idas e vividas. Bem mais do que se imaginava. Pois ela, a Madri, também sobrevive do turismo. 

Entende-se, agora, o porquê um montão de pessoas a procura diariamente. Pessoas de toda parte do mundo. Atraídas não por suas famosas touradas.  Mas, isto sim, pelo seu desenho arquitetônico citadino, no qual se alinham prédios históricos e edifícios mais recentes, formando então um quadro admirável, recortado por avenidas largas e também estreitas – sobretudo as que rasgam o seu centro histórico. 

Centro que tem seu aspecto ampliado. Pois é impossível passear por suas antigas ruas e não se deixar levar pelo balanço da cultura, o que faz o visitante dar de encontro com os museus. Aliás, por falar nestes, vale a pena adentrar-se ao do “Prado”, que, nesta época do ano, conta com duas exposições extraordinárias, a saber: as obras de Pierre-Auguste Renoir e as de pintores chamados renascentistas, entre as quais as de Velásquez, Caravaggio, Ticiano, El Greco e Domênico Veneziano.

São duas exposições, e, portanto, duas filas – apesar do frio. Cada uma delas com centenas de turistas, atraídos pelo fascínio daquilo que iriam encontrar e pela curiosidade do que poderiam estar expostos. Isso sem falar do prédio da exposição, que é sedutor, ainda que apresente traçados modernosos, com a lateral esquerda de frente com o Jardim Botânico – igualmente de visita obrigatória.

De volta ao hotel, é comum se deparar com jovens, adultos e de meia idade a caminharem com seus cães – soltos ou presos à colera. Inclusive durante a noite. Seus donos, felizmente, trazem em uma das mãos, sacolas plásticas para recolherem as fezes dos animaizinhos. Assim, não se deve estranhar quando alguém – independentemente da idade – se abaixa para limpar e recolher a sujeira deixada pelo seu cãozinho. 

Lição a ser seguida. Igualmente deveria sê-la a da obediência às faixas de pedestres, bem como o respeito quase religioso aos semáforos. 

Comportamento revelador. Revela um jeito de estilo de vida, que se enriquece com a paixão à história. Mesmo diante de uma situação não muito boa com relação à economia e a política. Dificílima, porém ainda não desanimadora. É o que diz o livro “Desmoranamiento España”, de Alberto Recarte, que “arroja luz sobre las encrucijadas de um país em processo de desmoranamiento”.

Detalhe interessante, assim como também o é o presenciar uma porção de gente com livros abertos nos metrôs e nos ônibus. Paisagem que traz à mostra uma educação comprometida com a leitura.
 Explica-se, então, o zelo que tem pela estampa cultural, cujo pano de fundo se encontra presa aos arranha-céus históricos – tombados e valorizados pelo turismo.        
 

Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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