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Opinião
Terça - 26 de Outubro de 2010 às 09:07
Por: Alexandre Garcia

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Os europeus e os americanos estão apavorados com o número de mortes de soldados da Otan no Afeganistão. Só neste ano, até domingo, chegaram a 600. Eles consideram que este foi o mais sangrento dos anos da guerra. Pois 600 mortes é o que os assassinatos no Brasil produzem em menos de quatro dias e meio! Na guerra do Afeganistão a média, portanto, é de dois soldados da Otan mortos por dia. Aqui, a média é de 137 brasileiros assassinados a cada dia. Ou seja, é 68 vezes mais perigoso morar no Brasil do que ser soldado americano ou inglês, francês, alemão, no Afeganistão. E nós não nos escandalizamos com isso, nem os candidatos em campanha eleitoral. Por isso, pode piorar.

Em Belo Horizonte, uma faxineira de 53 anos diz que tem vergonha de votar, porque precisa se declarar analfabeta. Ela pode votar mesmo sem poder ler jornais, sem ter acesso a revistas, a documentos. Supõe-se que tenha discernimento para escolher o presidente, o governador, os deputados e senadores. Enfim, até eleitos, como se vê, são analfabetos, ou analfabetos funcionais. A faxineira não se pergunta por que nesses 53 anos de vida não teve curiosidade de ler, de aprender, ou vontade de pedir para alguém que a ensinasse o básico. São 14 milhões de analfabetos neste país e no mínimo outro tanto de analfabetos funcionais. E nós não nos escandalizamos com isso, nem os candidatos, que gostam da ignorância, porque podem conduzir eleitores.

Na capital do país, uma superbactéria já matou 18; no estado mais desenvolvido do país, São Paulo, ela matou 24. O ministro da Saúde diz que é pelo uso indiscriminado de antibióticos, que transforma bactérias em seres mais resistentes. Pois nos hospitais públicos, os médicos costumam perguntar: "Qual é o antibiótico de plantão?" Porque o que tem em estoque num dia já acabou no dia seguinte e se usa outro; e no outro dia o segundo acabou e recorrem a um terceiro. E a superbactéria se fortalece, por culpa da má gestão na saúde pública, que está tão ruim quanto a segurança e a educação. Mas nós, eleitores, achamos que é normal, porque não conhecemos os serviços exemplares de saúde, educação e segurança do Uruguai e do Chile, só para citar dois sul-americanos.

E a campanha eleitoral passa, com governantes se elegendo na base de grandes promessas, mas sabendo que tudo ainda pode piorar, porque só fazendo revoluções - sem armas, é claro - na segurança, na educação e na saúde, isso poderia mudar. E o objeto disso tudo é, sempre, a vida do povo, do cidadão, do contribuinte, do eleitor, do ser humano. A falta de segurança já provoca um genocídio. A falta de educação mata o futuro. A falta de saúde incapacita o presente. Será que corações e mentes de eleitores e eleitos estão tão alheios à realidade?


Alexandre Garcia
é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br



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