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Opinião
Quarta - 20 de Outubro de 2010 às 10:52
Por: Gabriel Novis Neves

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Vou propor a mudança do nome de todas as ruas, becos, avenidas, praças e edifícios públicos de Cuiabá. Este seria o primeiro passo para enterrar definitivamente a história desta cidade, que tanto desconforto e perturbação parecem estar causando a algumas pessoas. Extinguir do currículo escolar a disciplina de História do Brasil - principalmente de Mato Grosso, também deve ser levado em conta. Outra medida fundamental seria o fechamento dos cursos de História das Universidades, do Instituto Histórico e Núcleo de Documentação Histórica, assim como das obsoletas Secretarias de Cultura. Além disso, seria preciso que as poucas bibliotecas públicas doassem os seus livros e documentos históricos de Mato Grosso a alguma ONG estrangeira. Lembro ainda que o governo, ao ficar livre dos seus professores de História, faria uma colossal economia, especialmente neste período de gastança com os preparativos da Copa do Mundo.

Com essas medidas, provavelmente, a cidade adquiriria um ar de modernidade e perderia o seu jeito quatrocentão. Não, não fiquei louco, mas é que fiquei tão enternecido e entusiasmado com a proposta que um dos nossos notáveis vereadores fez à Câmara Municipal, que não posso pensar de outra forma. E digo mais: a proposta foi aprovada por unanimidade. O projeto de lei apresentado foi o de substituir o nome da Avenida XV de Novembro pelo nome de um antigo comerciante do bairro do Porto.

E, pensando cá comigo: para que eternizar o carinho para com o Marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da nossa república no dia 15 de novembro? Dizem por aí que o povo brasileiro não tem memória mesmo?! Então vamos ajudar na idiotização do povo!

O projeto de lei aprovado pela Casa do Povo de Cuiabá foi à sanção do Prefeito, que vetou a novidade. No retorno à Câmara, o veto foi derrubado por unanimidade. Por pudor e respeito às crianças, não irei transcrever a justificativa. Finalmente estaremos humanizando o histórico e tradicional Bairro do Porto, substituindo uma reles data por um nome super conhecido, na sua avenida principal!

Esta idéia me animou tanto que irei coletar as assinaturas necessárias constitucionalmente para propor à Câmara da minha cidade outras correções históricas. A primeira solicitação será a mudança imediata do nome da Praça Alencastro para Praça do “Bar do Bugre.” A justificativa é que por meio século um comerciante muito conhecido na cidade tinha um bar em frente à praça que, na verdade, era um jardim. Todos sabem que os europeus adoram conversar em bar na praça. Sabendo da sua existência, seria mais um ponto de turismo para oferecer ao pessoal que por aqui aportar para a Copa.

E assim, aos poucos, com a participação popular, iremos mudar a velha cara de Cuiabá. Tenho apenas uma preocupação com esse negócio de trocar nome de logradouros públicos. As três últimas tentativas realizadas neste sentido na nossa querida cidade não deram certo. A mudança do nome da Avenida do Lavapés para 31 de Março não colou. A mudança de nome da Avenida Mato Grosso foi abortada e a Avenida dos Trabalhadores, mesmo com o nome trocado, ninguém a chama pelo novo nome, a não ser o cobrador do IPTU.

Bem se vê que sou chegado a uma brincadeira. A verdade é que o nosso povo e a sua história merecem o respeito de todos. E para aqueles que sentem aquele desconforto com as tradições cuiabanas, lembrem-se: “a porta da rua é a serventia da casa.”



Autor

Gabriel Novis Neves

foi o primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é médico gineco (ginecologista e obstetra)

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