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Quarta - 15 de Setembro de 2010 às 08:19
Por: Tania Rauber

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Djalma Júnior ficou tetraplégico após espancamento em boate
Djalma Júnior ficou tetraplégico após espancamento em boate

Depois de 3 anos e 6 meses, os 3 seguranças da antiga boate Z100, que espancaram e deixaram tetraplégico o jovem Djalma Ermenegildo Júnior, foram condenados. Apenas Érico Gonçalves de Pina, 32, cumprirá a pena, de 5 anos, em regime fechado. Reinaldo da Costa Magalhães, 42, que era o chefe de segurança na noite do crime, foi condenado a 4 anos e 6 meses de reclusão em regime semiaberto. A sentença foi mais leve para Dhyego Souza Moreira, 27, que vai cumprir os 4 anos de reclusão em regime aberto.

Na decisão, a juíza 5ª Vara Criminal, Célia Regina Vidotti concluiu que "Érico foi quem primeiro agrediu a vítima, retirando-a do salão da boate mediante uma "gravata" e a levou para uma sala onde, juntamente com os demais réus, deram continuidade às agressões que resultaram em incapacidade permanente para a vítima".

Como tinha reincidentes, o segurança recebeu a pena maior e teve o mandado de prisão decretado pela magistrada. "A forma violenta como o réu agiu demonstra desequilíbrio, acentuada periculosidade, além de revelar, de forma repulsiva, o seu desprezo pela vida humana", citou na sentença.

Apesar de já terem passagens pela Polícia com histórico de agressões, Reinaldo e Dhyego receberam penas mais brandas e vão continuar em liberdade. Tanto eles quanto Érico já ficaram presos, por 8 meses, no Centro de Ressocialização de Cuiabá e foram soltos em fevereiro de 2008.

Os 3 negam que tenham cometido as agressões e, nos depoimentos, acusam um ao outro, mas foram reconhecidos por testemunhas do caso.

Desequilibrados e agressivos - As características foram citadas na sentença para descrever a atitude dos 3 seguranças. A magistrada considerou que o crime foi praticado por motivo fútil, "pois as agressões praticadas contra a vítima foram absolutamente desproporcionais ao suposto tumulto ocorrido no interior da boate" e que os réus demonstraram "desprezo pela vida humana, que neste caso foi tratada como lixo".

Conforme relatos de testemunhas, Djalma estava na boate Z100 com amigos. A confusão teria começado quando ele esbarrou em uma pessoa e começou o "empurra-empurra". Neste momento, o jovem foi rendido pelo segurança Érico e levado para uma outra sala. Lá foi espancado até perder os sentidos.

Em depoimento, um amigo de Djalma, que também foi levado para a sala e presenciou toda a cena, disse que os seguranças só pararam de agredir o colega quando este passou a dizer que não conseguia levantar. "Aí é que perceberam que as lesões eram de natureza gravíssima e por isso os acusados deixaram de agredi-lo".

Uma outra jovem que, durante a confusão se escondeu na sala e também viu o crime, reconheceu os 3 seguranças como sendo os agressores. "Depois que entraram na sala os 3 passaram a agredir fisicamente Djalma mediante socos e ponta-pés. Também vi a vítima, uma pessoa franzina, ser jogada por cima de umas barras de ferro".

O laudo médico apontou que a lesão medular, que resultou da luxação completa da coluna cervical de Djalma, foi decorrente de uma ação por instrumento contundente, provocando a perda de movimento das pernas e braços.

Reação - Para o advogado Alexandre Nery, assistente de acusação no processo, a pena está dentro dos parâmetros da lei. "Ainda vamos conversar com a família para saber como vamos proceder. Mas, se levarmos em consideração que a pena mínima é de 2 anos e a máxima de 8 anos, está dentro do aceitável".

Ele destacou que, mesmo com a gravidade do caso, em que a vítima sofreu danos irreparáveis, houve a responsabilização social e a Justiça considerou o grau de culpabilidade dos réus.

O ex-bancário Djalma Ermenegildo Júnior, hoje com 24 anos, ficou surpreso quando soube, pela reportagem, da decisão e não escondeu seu descontentamento. Para ele, a pena poderia ter sido maior.

"Não é o que eu esperava. Mas a sentença não vai fazer eu andar novamente e não vai aliviar a dor que eu já passei e ainda passo. Espero que sirva para estas pessoas se reeducarem e não repetirem o que fizeram comigo e que, ao menos, a Justiça faça cumprir as penas. Infelizmente, muitas vezes, a Justiça é cega".

Agora, ele aguarda as decisões quanto ao pedido de indenização contra a boate, que fechou pouco tempo depois do ocorrido. Ainda em 2007, a Justiça determinou que a empresa pagasse um valor mensal para bancar o tratamento e medicação que o jovem necessita. Mas apenas duas parcelas teriam sido pagas. "Desde outubro de 2007 não recebi nenhum valor. Estamos aguardando uma nova decisão do Judiciário".

Enquanto isso, o tratamento é bancado por ele e pela família. No ano passado, Djalma passou um mês em Pequim, na China, onde realizou um tratamento com células-tronco.

Hoje, formado em Direito, ele divide o tempo com as sessões de fisioterapia e o novo trabalho. Há 3 meses, o jovem conseguiu uma vaga no Juizado de Pequenas Causas de Cuiabá. "Também fiz um curso de inglês e estou levando a vida de uma forma especial".

Problemas se repetem - Alguns meses após o ocorrido a boate Z100 fechou as portas. No mesmo lugar passou a funcionar outra danceteria, a Capitólio, que continuou tendo registros de brigas e confusões. No último dia 14, após uma briga dentro do estabelecimento, o jovem Willian Taques Costa, 28, foi atingido por disparos de arma de fogo nas proximidades. Foi socorrido e encaminhado ao Pronto-Socorro, mas não resistiu e morreu 6 dias depois. Outra situação envolveu uma jovem que teria sido mantida em cárcere privado porque recusou-se a pagar pelo consumo. O caso foi parar na Polícia.

Espera - A espera da família de Djalma Ermenegildo pela decisão da Justiça é a mesma de familiares do vendedor Reginaldo Donnan dos Santos Queiróz, 30, que morreu após ser espancado por seguranças dentro do shopping Goiabeiras.

Os acusados são Jefferson Luiz Lima Medeiros, Ednaldo Rodrigues Belo, Valdenor de Moraes e Jorge Dourado Nery. Os 4 vão a júri popular nos dias 28, 29 e 30 deste mês pelo crime de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, utilização de meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima).

Medeiros, Belo, Valdenor e Jorge estão detidos desde a época das investigações da morte de Reginaldo, que entrou andando no shopping e saiu desmaiado dentro de um contêiner de lixo. Ele foi espancado até praticamente a morte dentro da sala de seguranças.

Os últimos momentos de vida de Reginaldo foram filmados pelos próprios agressores. O vendedor agonizava dentro do camburão da PM e aguardava uma equipe médica do PS para socorrê-lo. Dois dias depois de dar entrada na unidade de saúde, Reginaldo foi a óbito.

Outro lado - A reportagem tentou falar com a defesa dos 3 seguranças condenados, mas não conseguiu contato nos telefones de duas advogadas repassados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).





Fonte: A Gazeta

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