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Economia
Terça - 07 de Setembro de 2010 às 16:38

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Os distúrbios ligados ao aumento do preço do pão em Moçambique e a escassez de alimentos em outros lugares deveriam servir de alerta para os governos que tentaram ignorar os problemas de segurança alimentar surgidos há dois anos, disse um especialista da ONU na terça-feira.

Olivier de Schutter, relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, disse durante missão à Síria que os doadores não estão cumprindo a ajuda prometida, e que a reação popular em lugares como Moçambique já era previsível.

"A maioria dos países pobres ainda está altamente vulnerável", disse De Schutter em nota. "Sua segurança alimentar é excessivamente dependente das importações de alimentos cujos preços estão cada vez mais altos e voláteis."

Em Moçambique, 13 pessoas morreram e quase 150 foram presas na semana passada após distúrbios desencadeados por um aumento de 30% no preço do pão --um resultado da elevação global no preço do trigo.

Na terça-feira, o governo moçambicano cancelou o aumento do pão, adotando subsídios para cobrir o aumento de preço.

Os egípcios também protestaram contra o preço dos alimentos, e especialistas alertam que outros distúrbios podem ocorrer na África e no Oriente Médio. De Schutter estimou que 2 a 3 milhões de sírios agora enfrentam dificuldades alimentares, após quatro anos de seca severa.

Pequenos agricultores na Síria tiveram uma queda de até 90% na sua renda por causa da seca, segundo o especialista independente. "Muitas famílias tiveram de optar por reduzir seu consumo alimentar: 80% dos afetados disseram viver à base de pão e chá açucarado", disse ele.

Inundações no Paquistão e uma onda de calor na Rússia contribuem com a preocupação com o abastecimento mundial de alimentos. Mas De Schutter disse que a especulação de investidores e agentes do mercado contribui com o problema.

Embora a safra mundial de cereais em 2010 deva bater o terceiro recorde consecutivo, os temores com a oferta no futuro levaram o trigo a aumentar 70% no mercado internacional desde o ano passado, segundo a ONU.

A maior parte da alta recente se deve à seca e aos incêndios florestais na Rússia, terceiro maior exportador mundial de trigo, e a uma decisão do governo russo de prorrogar até o final de 2011 a proibição da exportação do produto.

As enchentes no Paquistão, terceiro maior produtor mundial de trigo, destruíram 500 a 600 mil toneladas de sementes de trigo estocadas, e pelo menos 1,3 milhão de hectares de plantações de milho, arroz, cana de açúcar, algodão e hortifrútis, segundo estimativas parciais da FAO (agência da ONU para alimentação e agricultura).

De Schutter disse que os preços gerais dos alimentos nos mercados internacionais aumentaram 5% desde julho. O índice de preços alimentícios da FAO atingiu seu maior nível desde setembro de 2008.

A FAO convocou uma reunião de emergência em 24 de setembro em Roma, e o especialista disse que será crucial que os países doadores ofereçam ajuda significativa.

"Em 2008, muitos governos foram apanhados de surpresa", disse ele. "Temos hoje uma compreensão muito melhor sobre o que precisa ser feito para realizar o direito à alimentação." 





Fonte: Reuters

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