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Economia
Quarta - 21 de Agosto de 2013 às 10:19

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O consórcio Metroman, formado pela Siemens e Serveng-Civilsan, elaborou um contrato que previa multa de R$ 138 mil ao mês caso “traísse” o cartel para executar os serviços de manutenção do Metrô do Distrito Federal, aponta relatório do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a que o G1 teve acesso. O gasto previsto com o serviço de manutenção era de R$ 69,4 milhões por ano.

A Metroman venceu em 2007 a licitação para manutenção do Metrô-DF em disputa com o Consórcio Planalto. Outros dois consórcios foram desclassificados da competição, entre eles um representado pela MPE Montagens, empresa que seria beneficiada pela multa.

Arte denúncia de cartel em licitações do metrô do DF e de SP (Foto: G1)

Desde janeiro deste ano, o Cade investiga o suposto cartel para a exploração de contratos de serviços dos metrôs de São Paulo e do Distrito Federal (veja arte ao lado sobre a denúncia de cartel).

Em 2006, um ano antes de vencer licitação, a Siemens se comprometeu a subcontratar por R$ 80 mil mensais a MPE Montagens e Projetos Especiais, empresa que integrava um consórcio concorrente na disputa pelo serviço. De acordo com o documento, a contratação só ocorreria se a empresa desistisse das ações judiciais contra sua desclassificação da licitação e dos processos contra a Metroman.

As ações impediam a definição do vencedor da concorrência, aberta em 2005 e finalizada em 2007. A MPE seria subcontratada para prestar serviços de consultoria para "otimização da execução das atividades de manutenção preventiva e corretiva".

A minuta do contrato, elaborado pela Siemens com a concordância da Serveng-Civilsan, tinha uma cláusula de garantia contra uma eventual “traição” à MPE – a multa de R$ 138 mil mensais caso o consórcio Metroman não subcontratasse a empresa após ser declarado vencedor da licitação.

O relatório do Cade não revela se o acordo foi assinado pelas partes. Segundo o órgão, o material ainda passa por análise e, por isso, não é possível comprovar se houve irregularidade.

O Metrô informou ao G1 que a MPE nunca foi subcontratada pela companhia ou pelo consórcio Metroman. A MPE afirmou que nunca teve contrato direto com o Metrô ou com o consórcio. A Siemens informou que não falaria sobre a investigação. A Serveng informou por e-mail que sua atuação “é pautada em estrito cumprimento da lei e que prestará todos os esclarecimentos necessários ao Cade para a elucidação dos fatos”.

Trocas de mensagens
Em um e-mail com data de 30 de agosto de 2006, o diretor da Siemens Everton Rheinheimer pede ao engenheiro da empresa alemã Ben Hur de Coutinho Viana que prepare um “termo de compromisso” para a contratação da MPE.

O e-mail diz que “o documento deve incluir, porém não se limitar, aos seguintes pontos: (...) “retirada pela MPE da ação contra o Metrô e/ou nosso consórcio” e “multa por não-contratação não deve exceder ao valor do resultado calculado para o escopo a ser subcontratado". Pelo termo, os repasses à MPE estariam vinculados aos pagamentos feitos pelo Metrô à Metroman.

A cláusula 8.1 da minuta de contrato trata da garantia contra a eventual não subcontratação da MPE. “Fica estabelecida, de comum acordo, a multa equivalente a R$ 138.000,00 (cento e trinta e oito mil reais) a ser paga mensalmente à MPE pela Siemens em caso de não subcontratação da MPE", diz o documento.

Em outro e-mail, datado de 14 de setembro de 2006 e encaminhado ao diretor da Siemens Newton José Leme Duarte, Rheinheimer diz: "Amanhã tenho um encontro importante com o pessoal da MPE ref. ao Projeto Manut. Metro DF e preciso me ausentar da reunião PTS por volta das 11h00".

A minuta elaborada pela Siemens também previa um acordo de sigilo com a MPE sobre a subcontratação da empresa. De acordo com o documento, ao fim do contrato, todas as informações transmitidas à MPE pelo consórcio seriam destruídas ou devolvidas e a empresa subcontratada não teria o direito a guardar cópias "nem para fins de arquivo".

Na minuta do acordo de sigilo, o item 2 diz que "(...) A parte Recebedora (MPE) obriga-se ainda a manter em sigilo a existência deste Acordo, e o fato dela estar se reunindo ou recebendo informações da Parte Reveladora [Siemens]".

Licitação
Durante o processo de licitação, dois dos quatro consórcios formados para disputar os serviços de manutenção do Metrô foram desclassificados, em maio de 2006: o Mantrem, representado pela MPE, Opportrans e Bombardier, e o Planalto, que reunia Tejofran, SPA e O&M.

Os únicos que permaneceram na disputa foram a Metrô Planalto, formado pelas empresas Alstom, Iesa e TCBR, e a Metroman, com Siemens e Serveng-Civilsan.

Em julho, os dois consórcios inabilitados impetraram mandados de segurança na Justiça para retornarem à disputa. O consórcio Planalto, no entanto, não conseguiu a habilitação na Justiça e a da Mantrem não foi julgada, o que deixou em suspenso todo o processo de licitação.

A batalha judicial se prolongou até maio de 2007, quando foi publicado no Diário Oficial o anúncio da abertura dos envelopes com as propostas, com apenas dois consórcios: a Metroman e a Metrô Planalto. O contrato foi vencido pela Metroman em setembro de 2007.

As investigações sobre o suposto cartel para a exploração de contratos de serviços dos metrôs de São Paulo e do Distrito Federal tiveram início em janeiro deste ano, depois que executivos da Siemens entregaram documentos denunciando a fraude em troca de ficar livre de eventuais condenações judiciais.

Os documentos indicavam o envolvimento de 23 altos funcionários de 18 empresas nas supostas irregularidades.





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