O professor emérito da Universidade Estadual da Louisiana, Edward Overton, foi recentemente convidado para o programa "Late Show" de David Letterman, um equivalente americano do "Programa do Jô", da Rede Globo.

Overton é um dos vários cientistas que trabalharam na obscuridade por anos e agora se encontram no meio de um frenesi midiático, tentando explicar para o público o vazamento de óleo no golfo do México.

"Eu passo meu tempo analisando amostras e olhando linhas tortas, algo nada sexy", disse Overton. "Quem imaginaria que Letterman me convidaria, um cientista, para seu programa?"

Mas quem imaginaria que milhões de litros de óleo vazariam no golfo do México? Desde a explosão de uma plataforma petrolífera em 20 de abril e o subsequente vazamento, repórteres têm buscado acadêmicos para explicar a situação.

Existem, no entanto, vários desafios para que os cientistas consigam explicar para o público leigo o vazamento e suas consequências.

"Não somos as pessoas mais extrovertidas do mundo", diz Susan Ustin, professora de ciência ambiental na Universidade da Califórnia, em Davis. "Não estamos acostumados a ser o centro da atenção. E a maioria de nós tem medo de falar besteira."

Ustin disse que aparecer na TV e divulgar o próprio trabalho não é muito bem visto no mundo acadêmico.

Mas, no caso do vazamento, existe a necessidade de explicar detalhes e conceitos complexos para o público em geral. E, segundo o oceanógrafo Hans Graber, da Universidade de Miami, ciência é talvez a única coisa que a população pode confiar no momento, já que muitos não confiam nem no governo, nem na BP, empresa responsável pela plataforma que explodiu.

Alguns cientistas, por outro lado, estão acostumados a lidar com a mídia. Ira Leifer, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, já apareceu em documentários do Discovery Channel. Leifer acredita que, depois dessa catástrofe ambiental, americanos passem a valorizar o ambiente e a pesquisa científica. "Espero que isso crie uma nova geração de cientistas."

O professor de oceanografia Ian MacDonald, da Universidade Estadual da Flórida, foi bastante requisitado no começo do vazamento, quando ele estimou que muito mais óleo estava vazando do poço do que o governo e a BP queriam admitir.

Vários projetos no departamento de MacDonald tiveram as verbas cortadas. Oceanografia em geral nos EUA experimentou um declínio em verbas de pesquisa nos últimos anos. "E agora parece que um ecossistema marinho saudável é um componente crítico da nossa economia, cultura e modo de vida", diz ironicamente MacDonald.