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Nacional
Quarta - 26 de Maio de 2010 às 06:22

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Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) analisaram 420 horas da programação dos quatro canais de TV de maior audiência no Brasil e concluíram que a publicidade de bebidas alcoólicas está concentrada nos programas de esporte. Segundo os autores, esse tipo de programação é mais frequente nos períodos da manhã e da tarde e tem forte apelo entre o público menor de idade, que fica exposto à propaganda de bebida.

 

"Diversos estudos já mostraram que quanto maior a exposição à publicidade, maior o consumo de álcool", afirma a psiquiatra Ilana Pinsky, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) e coordenadora do estudo. Para Ilana, a autorregulamentação publicitária não é suficiente para evitar abusos e seriam necessárias restrições à propaganda de álcool tão rígidas quanto as existentes para o cigarro.

O presidente do Conar, Gilberto Leifert, discorda. "Podem restringir a publicidade ao máximo, mas o acesso à geladeira vai continuar franqueado", diz ele, afirmando que o problema é a falta de fiscalização da venda para menores de idade. "A sociedade tem direito à informação de produtos lícitos", defende. A entidade argumenta que sem publicidade livre não há imprensa livre e que a indústria da comunicação é a base da democracia.

A posição dos pesquisadores, no entanto, coincide com um documento aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na semana passada para reduzir o abuso no consumo de álcool - terceiro fator de risco para problemas de saúde e morte prematura no mundo. A OMS propõe que a publicidade não tenha como alvo os jovens, mesmo os que têm idade legal para beber.

"Quanto mais o jovem se identifica com a propaganda, maior é a influência no consumo de álcool", explica Ilana. "Por isso é preocupante ver os jogadores da seleção fazendo propaganda de cerveja durante a Copa do Mundo."

Para o especialista em marketing esportivo Erich Beting, isso acontece porque não há no Brasil especialistas na gestão da imagem dos atletas. "O David Beckham (jogador de futebol ) e a Maria Sharapova (tenista) não renovaram o contrato com a Pepsi para não estimular seus fãs a consumir refrigerante. Mas eles têm uma equipe por trás pensando o que devem ou não fazer", diz. "Aqui os jogadores fazem propaganda de cerveja porque a grana é boa, mas não percebem o alcance que isso tem."

A Brahma se tornou este ano a primeira marca brasileira de cerveja a patrocinar a Copa do Mundo. Procurada pela reportagem, a Ambev afirmou em nota que as campanhas da Brahma respeitam as normas do Conar. "Para a Ambev não interessa nenhum tipo de consumo inadequado, seja no excesso, entre menores e ou na direção", diz o texto.

Cerveja. Nas 420 horas de programação analisadas, foram encontradas 7.359 peças publicitárias. Dessas, 438 (7,6%) eram de bebida alcoólica - o sexto produto mais anunciado. As bebidas não alcoólicas ficaram em 10.º lugar, com 3,4%. Os programas de esportes concentraram 69,2% dos anúncios de álcool. As novelas ficaram com 19,6% e os humorísticos com cerca de 11%.

O autor principal do estudo, Nelson Fragoso, explica que foram gravados apenas programas que tinham ao menos 10% de audiência de adolescentes, de acordo com dados do Ibope. Cerca de 80% da propaganda de bebida encontrada era de cerveja. "A publicidade usa elementos da cultura nacional, como o futebol, para atingir o jovem", diz Fragoso. Essa e outras pesquisas sobre o tema serão apresentadas hoje no seminário Álcool, Tabaco e a Publicidade, da Abead. / K.T.

 

Para entender
Governo tentou regulamentar bebidas

Pela lei atual, só bebidas com alto teor alcoólico, como uísque, têm restrição de publicidade: só podem anunciar na TV das 21 às 6 horas. Cervejas podem anunciar em qualquer horário. No início do governo Lula, o Ministério da Saúde elegeu como prioridade a regulamentação das bebidas alcoólicas, inclusive da propaganda. Temendo restrição, o setor criou um código de autorregulamentação que veta, por exemplo, anúncios com personagens infantis. A Advocacia Geral da União assinalou que a Anvisa não era competente para determinar restrições, e o governo sepultou o projeto.






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