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Agronegócios
Sábado - 24 de Abril de 2010 às 11:04

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A 5ª edição do Circuito Aprosoja foi lançada na segunda-feira (19.04) com o tema o ‘Agronegócio no Novo Contexto Político e Econômico’ e reuniu produtores e autoridades no auditório Antônio Ernesto de Salvo, em Cuiabá.

A jornalista especialista em Política da Globo News Cristiana Lôbo abriu o evento ao ministrar a palestra com o tema “Cenário Político Pós 2010”. Segundo ela “essa será uma das campanhas mais acirradas dos últimos tempos”. Lôbo destacou o perfil dos principais candidatos ao governo federal, José Serra do PSDB e Dilma Rousseff do PT. "Em uma pesquisa apresentada no último final de semana o candidato da oposição abre vantagem, mas a candidata Marina Silva (PV) pode ser quem leve a eleição para o segundo turno”. A jornalista acrescentou que a campanha será de comparações. “Os programas sociais e as obras serão os grandes centros de discussões entre os dois candidatos. Em Mato Grosso, por exemplo, a grande esperança é a ferrovia Centro-Oeste, esperamos que esta obra saia realmente do papel”.

Cristiana Lôbo destacou os pontos que servirão de produtos que serão vendidos aos eleitores. “A candidata do presidente destacará programas de habitação como o Minha Casa, Minha Vida, melhoria do poder de compra das classes pobre e média, o que gera sensação de renda. Já os tucanos vão destacar o déficit da conta externa que subiu de US$ 49 bilhões e pode chegar a US$ 60 bilhões em 2011”. A agricultura estará presente no discurso dos dois candidatos, lembrou.

O Agronegócio- Com todos os candidatos o setor terá de buscar espaço de conversação e negociação. “A maior preocupação não só do setor da agropecuária, mas de muitos setores é a infraestrutura que, aliás, está presente no discurso e na cabeça dos dois, e cabe a associações como é o caso da Aprosoja estar presente durante toda campanha em defesa dos pleitos do setor”.

Personagens – Nomes que ganharam força podem aparecer novamente nos próximos governos. É o caso do ex-governador de Mato Grosso Blairo Maggi que poderá até ser convidado a assumir alguma pasta ou até Ministério.

Painel I

O presidente da Famato, Rui Prado, um dos participantes do painel realizado após a palestra questionou se algum representante do setor, como é o caso da senadora Kátia Abreu, têm chances de assumir vagas como a vice-presidência. Porém, Lôbo disse acreditar que essa chance é pequena. “Essa vaga provavelmente é do PMDB, mas associações como a Aprosoja devem dialogar para criar compromissos com o setor”.

O presidente da Aprosoja/MT Glauber Silveira destacou que o setor produtivo irá apoiar os candidatos que se manifestarem claramente a favor das demandas da agropecuária. “Nós vamos fazer um grande movimento para conhecer todas as propostas, aqueles que se comprometerem irão ter nosso apoio, mas também serão muito cobrados para que sejam coerentes com os discursos e promessas feitos durante à campanha eleitoral”. O jornalista Onofre Ribeiro participou como mediador.

Na sequência o economista e apresentador do programa Manhattan Connection da GNT Ricardo Amorim apresentou palestra sobre “A Economia Brasil e Mundial – Os impactos para o agronegócio” e desmistificou a questão: Estados Unidos e Europa serão eternamente dominantes. “Os americanos e os europeus não são mais fontes de solidez da economia mundial, mas muito mais centros de fragilidades e crises”.

De acordo com Amorim, o sistema financeiro desses países têm se tornado frágeis e dependentes de capital emergente. “Hoje houve queda de inflação do mundo, mas a diferença é que quem tem dinheiro ‘exporta’ dinheiro e quem não tem compra com o crédito que é fornecido. Países em desenvolvimento dessa forma têm comprado dinheiro de forma mais barata”.

Por outro lado, ele destaca que os países desenvolvidos possuem infraestrutura. “Sou um grande otimista que, no Brasil, a infraestrutura vai inevitavelmente ocorrer. As obras não ocorrem antes e durante as eleições porque os investidores ficam pouco confiantes. Essa situação será superada, porque além de razões obvias como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, grandes empresas começaram a abrir capital na bolsa brasileira e forçaram fornecedores a fazerem a mesma coisa, ou seja, se o Brasil cresce 5% a arrecadação de impostos cresce 15%, assim o investimento crescerá”.

Segundo o economista, os investidores estrangeiros devem investir pesado no Brasil. “Existem algumas razões para isto ocorrer, principalmente porque os investidores desses países pouco vão investir no próprio país, mas sim vão migrar para os emergentes”.

Ele citou ainda o caso particular da China, que é emergente, mas é onde estão sendo construídas obras gigantescas, a exemplo das 80 linhas sistêmicas de metrô. “Hoje os chineses acumulam US$ 2,7 trilhões em reservas e para diversificar eles terão que investir em outros países e em setores como em infraestrutura e não tenho dúvidas de que o Brasil também será um desses focos. Dessa forma, nossas commodities chegarão mais barato por lá, produto final mais barato para um país que precisa comer”.

Amorim lembra que o eixo de riscos e oportunidades mudou. “Quem compra agora são os que eram tidos como “pobres”. A China e o resto dos emergentes vão representar cada vez mais oportunidade. A vantagem produtiva brasileira está no espaço (terra) tanto para plantio, quanto para extração (minérios) e a água. Quem conseguir enxergar isto, estará em grande vantagem”.

Para Ricardo Amorim enquanto houver pessoas saindo do campo e indo para as cidades na China e Índia, isto significa oportunidade. “Hoje, metade dos chineses vivem no campo e esse processo vai beneficiar o Brasil. Quando o ciclo do crescimento chinês acabar, a boa notícia é que começa o ciclo indiano de migração de uma enorme massa para as cidades”.

O Brasil é o maior beneficiário da nova ordem mundial: alimentos e biocombustível. Amorim apresentou números da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), entre eles, que a área ocupada do país com produção está em média em 50 milhões hectares, sendo que o potencial é de 450 millhões hectares. “A oportunidade a média e longo prazos são enormes, tanto em volume, quanto em preço os sojicultores podem se dar bem, mas a taxa de câmbio deve continuar em queda. Mas isto abre outras portas, no caso do mercado europeu, por exemplo, será necessário que os produtores verticalizem a produção”.

O economista lembrou que nos últimos anos o fluxo de moeda americana triplicou, portanto o cenário do dólar será de queda pelo menos nos próximos cinco anos. Segurar o câmbio significaria inflação mais alta e popularidade em queda e para ele nenhum presidente vai interferir nisso. “É necessário que o setor do agronegócio brigue por investimentos em infraestrutura”.

Amorim explica que o dólar relativamente estável em 2010 e possivelmente até em alta se a crise européia se intensificar , mas pode ficar em queda livre nos próximos anos. Por outro lado, haverá forte recuo de juros ao consumidor a partir de 2011 e o “boom” de crédito vai ocorrer nos próximos anos. “No curto prazo as oscilações do preço da soja e a queda no preço do dólar, a princípio, são um problema, mas nos próximos meses uma boa dica é tentar travar a soja no mercado futuro”. Para ele, a crise européia pode começar ainda neste ano e deve ser parecido com a crise anterior, com período de duração de até 1 ano. “A margem de erro é alta, pois essa é uma previsão, como qualquer outra”.

Outro forma de agregar valor ao produto soja será a certificação ambiental. “Cada vez mais os consumidores irão querer saber a origem da produção, esta é uma outra visão que pode e deve ser trabalhada”.

Conclusões - Para o economista a crise deve ser usada em favor do setor do agronegócio e de todos os demais setores. “O Grupo dos sete maiores países do mundo virou o grupo dos 20 maiores porque esses países estão em grande expansão e crescimento. Isto significa e significará várias oportunidades nos próximos anos”.

Painel – A maior preocupação dos participantes do segundo painel foi com a previsão de queda do dólar para os próximos anos . De acordo com Ricardo Amorim, ao passo que o preço da soja deve triplicar, o dólar pode vir abaixo de R$ 1,50, isto vai depender da crise da Europa. “Vejo alguns dos países europeus dando calote nas dívidas públicas, mas a medida que isto ocorrer o dilema será dos bancos alemães que é o país mais forte e sólido do ponto de visto econômico da Europa. O circo deve pegar fogo e um movimento de investidores saindo e indo para os Estados Unidos, o que gerará alta do dólar. Por outro lado o volume de escala da produção vai aumentar cada vez mais, o que pode gerar poder de barganha”.

Infraestrutura de logística– Para Ricardo Amorim, o setor do agronegócio deve pensar em buscar investimentos na logística e focar os esforços nessa área. Sobre os riscos sistêmicos da infraestrutura ser financiada por estrangeiros, o economista argumentou que é necessário superar alguns paradigmas.

O diretor executivo da Abiove Fábio Trigueirinho, um dos participantes do painel, questionou sobre a agregação de valor aos produtos e a necessidade de investimento neste setor. “É um eixo de oportunidade que esteja relacionado com o Meio Ambiente. Na atualidade ser parceiro deste tema é mais vantajoso, o setor deve ser parte da solução e buscar onde e como ser integrante deste processo”.

Segundo ele, o discurso logístico em que hidrovias e ferrovias são modais mais limpos é o exemplo de que o setor cresce sustentavelmente. “É sob a ótica de que os desafios ambientais são maiores e do ponto de vista da logística essa história se encaixa”.

O palestrante ainda lembrou que a Aprosoja acertou no ano passado quando neste evento orientou os produtores a fazer planejamento, ter cautela e se capitalizar. "O chamado PCC deve ser usado antes que o problema ocorra e neste sentido esta associação acertou mais uma vez", ressaltou.

O presidente da Aprosoja/MT Glauber Silveira confirmou que a entidade já caminha e com o Movimento Pró-logística continuarão no sentido de promover uma agenda estratégica de avanços neste setor. “Da mesma forma, com relação à produção sócio-econômico ecológica, demos mais um passo nessa direção com o lançamento do programa de certificação voluntária da produção da oleaginosa, O Soja Plus”.






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