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Economia
Terça - 02 de Fevereiro de 2010 às 20:33

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As perspectivas para a safra de trigo do Brasil em 2010, após um ano em que a produção foi em grande parte arruinada pelas chuvas excessivas, são de outra temporada difícil, ainda que o plantio só comece em março em algumas regiões do país, segundo especialistas do setor.

Com os preços internacionais cerca de 25% abaixo dos verificados no início de 2009 (base Bolsa de Chicago), estoques abundantes no mundo, um câmbio bastante favorável a importações e um seguro agrícola ainda deficitário, tudo indica que a produção de trigo no Brasil continuará dependente de subvenções governamentais que apoiam a comercialização.

Em 2009, de uma safra de 5 milhões de toneladas, mais de 60% foi comercializada por meio do PEP, um programa estatal que subsidia o transporte ao mesmo tempo em que garante um preço mínimo, estabelecido pelo governo, aos produtores.

"Deve persistir o quadro de preços baixos. Isso significa que novamente o governo vai ter que intervir na comercialização da próxima safra, se quiser manter a área plantada", avaliou o técnico de trigo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Paulo Magno Rabelo.

Para apoiar com o PEP as vendas da última safra, o governo gastou R$ 486 milhões, subsidiando o escoamento do produto para as regiões não-produtoras, no Norte e Nordeste, ou mesmo para embarques ao exterior.

E apesar do volumoso apoio, o setor produtivo diz precisar de mais, um indicativo de como pode ser a próxima safra.

A Faep (Federação da Agricultura do Paraná), principal Estado produtor de trigo do Brasil, mandou nesta terça-feira pedido ao Ministério da Agricultura para a realização de mais quatro leilões de PEP, para 400 mil toneladas, além de compras diretas do governo de 300 mil toneladas do grão de boa qualidade.

"Tenho certeza que recursos não faltarão (para a próxima safra), o trigo é um produto básico... E se cair a produção, tem impacto no saldo comercial brasileiro", acrescentou Magno, lembrando que os investimentos do governo na produção são relativamente pequenos perto dos gastos do setor privado com importações, de US$ 1,5 bilhão, na média dos últimos três anos.

Ano eleitoral

O Plano Safra, que define o orçamento para a próxima temporada, normalmente é divulgado em meados do ano, em 2010 provavelmente após o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, deixar o cargo em março para disputar um novo mandato à Câmara Federal, conforme ele já anunciou.

"O produtor olha o que ele perdeu na safra anterior, cerca de 1 milhão de toneladas (só no Paraná)... Aí ele olha para o cenário de preços... Olhando hoje o cenário, a área cai no mínimo 10% na próxima safra", disse o economista da Faep, Pedro Loyola.

O economista explicou que os leilões de PEP do governo realmente ajudaram na comercialização, mas foram destinados para um produto de pior qualidade, que renderam menos para os produtores.

No Paraná, apenas um terço do total colhido, de 2,5 milhões de toneladas, foi considerado trigo de qualidade superior. "Foi a chamada safra de um terço."

Até por 2010 ser um ano eleitoral, fontes da indústria avaliam que o governo manterá a sua política, embora os preços mínimos do trigo sejam considerados excessivamente altos, estabelecidos quando a situação de mercado era altista.

"O governo deverá estar presente em um ano eleitoral. Se o governo mantiver o preço mínimo, eu não tenho dúvida que o produtor continuará estimulado a plantar", declarou Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, um dos maiores do país.

Segundo ele, apesar da grande dificuldade de comercialização da safra em 2009 e do cenário complicado previsto para 2010, a área plantada no Brasil não deve mudar muito, até por falta de opção para o agricultor.

"Qual é a alternativa que o produtor tem? Cevada, aveia? São produtos que não têm tanta demanda. Na safra de inverno basicamente fica entre safrinha de milho e trigo", disse Pih.

O governo do Paraná ainda não tem uma previsão para a nova safra de trigo do Estado, mas já prevê redução de 100 mil hectares para o milho safrinha, por conta dos preços baixos.





Fonte: Reuters

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