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Cidades/Geral
Quarta - 28 de Outubro de 2009 às 10:29
Por: Jardel Arruda

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Agronegócio e índios. Aparentemente uma mistura difícil de ser administrada e, na maioria das vezes, certeza de conflitos. Mas em Mato Grosso, mais especificamente em Sapezal, a segunda maior região coletora de grãos, é exemplo no que diz respeito à política de relacionamento com povos indígenas. E as provas disso podem se resumir em uma rodovia pavimentada, dois postos de pedágio e um índio de 89 anos.

O nome desse índio é João Arrezoamae, mas podem chamar de João “Garimpeiro” que é como ele é conhecido na região desde quando era amigo pessoal de André Maggi, primeiro prefeito de Sapezal. Com a pele pintada de vermelho e preto, um cocar colorido na cabeça e vestindo uma pele de onça-pintada, ele resumiu o finado amigo em uma frase: “Ele gostava muito de índio”.

Pelo visto, André Maggi gostava tanto de João que o governador Blairo Maggi (PR), filho dele, resolveu dar o nome do índio à rodovia MT-235, que liga Campo Novo do Parecis a Sapezal. Durante a inauguração da pavimentação da estrada, no sábado passado (24), o chefe do Executivo estadual não deixou de falar da boa relação entre o “homem branco” e os índios.

“Aqui nós mostramos que é possível produzir e conservar. A relação com os índios é excepcional. Com certeza, um exemplo para o Brasil e o mundo”, disse Blairo, na pousada Utiairiti, às margens do rio Verde e da MT-235, a menos de 30 minutos da cidade de Sapezal.

A pousada, inclusive, é um exemplo do turismo sustentável na região. Recebe turistas de diversas partes do país e do mundo, enquanto mantém límpidas as águas do rio Verde. Um verdadeiro paradoxo, já que a região produz 25 milhões de sacas de soja ao ano, atrás apenas dos números de Sorriso, onde o asfalto chegou já faz algum tempo.

Altir Schneider (PSDB), segundo prefeito do município, amigo da família Maggi mas rival político de Blairo, presente na inauguração, compartilha a mesma opinião do governador. Inclusive ele defende a tese de que quando os Enauenê Nauê incendiaram a usina hidrelétrica telegráfica foi por puro “erro de estratégia”.

O tucano lembra o fato de a tribo ter menos de 50 anos de contato com o “homem branco” e é difícil acostumá-los ao “novo mundo”. “Eu estava aqui na primeira vez que eles vieram à cidade. Demos calções a eles para que respeitassem nossos costumes e eles aceitaram sem problemas”, relata Altir.

O pedágio indígena

Altir Schneider concorda que nem tudo foi fácil durante as negociações. Segundo ele, houve muita desconfiança por parte dos indígenas quanto à pavimentação da estrada. Medino Maizokiê, representante do conselho de saúde do povo Parecis, confirma isso.

O pareci confirma sempre ter sido contra a pavimentação da rodovia para evitar o aumento do contato com o “homem branco”. Contudo, ele refez a própria posição pensando no bem da população indígena.

“Sempre fui contra, mas agora abri mão para ver se melhora a questão da saúde. A prioridade é o povo”, disse o líder indígena, que estava em um dos pedágios da rodovia, que é controlado pela associação indígena Halitinã, no mesmo dia da inauguração da pavimentação.

O pedágio em questão é cobrado há mais de uma década de forma irregular, mas sempre contou com o apoio de algumas figuras políticas, entre elas o governador Blairo Maggi. “Sempre fui um defensor do pedágio do índio e continuo sendo”, afirmou o governador.

Agora, graças a um acordo entre o governo estadual e as tribos da região, um posto oficial será construído e a cobrança passará a ser oficial. Além disso, será eletrônica e o valor um pouco menor do que o atual.

Valdomiro Nezeumari, que já trabalhou 15 dos seus 33 anos fazendo a cobrança do pedágio, explicou como vai funcionar o novo sistema: “Em três meses deve ser regularizado o pedágio eletrônico. O dinheiro vai para Brasília, para o Fundo Indígena, e depois volta para nossa tribo”.

Segundo Valdomiro, que estava no mesmo posto de cobrança onde o Olhar Direto encontrou Medino, uma das finalidades atuais do dinheiro que eles ganham cobrando R$ 10 de motos, R$ 20 de carros de passeio e R$ 30 de veículos grandes é bancar o combustível utilizado nos carros das tribos. “A maioria dos índios da tribo tem carro”, concluiu o indígena.





Fonte: Olhar Direto

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