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Economia
Sexta - 20 de Dezembro de 2013 às 14:31

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Uma janela de possibilidades, assim apresenta-se o mercado da pecuária de bovino de corte para o produtor disposto a olhar, atravessar a janela e seguir no horizonte. Para tal, não basta mais observar o crescimento da boiada pela ventana, é preciso investir com estratégia. A tendência mundial é de elevação populacional, aumento de expectativa de vida e mudanças globais acentuadas, com crescimento de áreas áridas e instabilidade no clima. O cenário também indica expansão nos preços dos produtos de origem animal, ascensão da bioenergia e fortalecimento das convenções ambientais. O produtor ciente disso está um passo à frente.
 
 
O pecuarista nessa visão global é colocado ainda frente a frente com um novo consumidor, mais exigente, consciente e informado. O perfil é traçado por uma comunidade preocupada com segurança alimentar (biológica e sanitária), com alimentos sustentáveis, naturais, estéticos, salutares, diferenciados e de origem garantida. Características que fazem a diferença na hora da compra. Fatores que fazem a diferença para o bolso de quem produz carne bovina no Brasil e no mundo. O verbo agregar apodera-se diante das perspectivas.
 
 
“Temos um mercado doméstico em expansão, consumimos pouca carne e o Brasil tem recursos suficientes para expandir, tem pasto e um mercado à espera, os indicadores apontam que temos muito a crescer. Não tenho dúvidas de nossa potencialidade, mas o momento que vivemos na pecuária é um pouco pessimista. O futuro radiante, como se apresenta, depende do que fizermos hoje e, atualmente, o humor do pecuarista varia de acordo com o preço da arroba do boi, porque a cadeia produtiva da carne bovina, das cadeias produtivas de pecuária de corte, é a mais atrasada”, alerta o economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio Márcio Buainain, em palestra no Seminário sobre potencialidades de agregação de valor na cadeia produtiva de pecuária de corte no Mato Grosso do Sul, promovido pela Embrapa e parceiros, no Sindicato Rural de Campo Grande-MS.
 
 
Ele enfatiza que “não adianta ter um produtor preocupado com as regras legais e sanitárias se o produto final for vendido em local inadequado. A cadeia de valor é o motor do dinamismo do agronegócio. É uma engrenagem, que tenha atrito, mas apesar disso funcione de forma sincronizada, na qual todas as peças, umas mais outras menos, ganhem e isso não acontece na cadeia produtiva da carne bovina. Não há ainda uma visão empreendedora, uma concepção de cadeia de valor”.
 
 
As características do setor, relatadas pelo professor da Unicamp, fortalecem seu laudo. “Há um baixo nível de integração – contratual e vertical; os frigoríficos se abastecem via mercado spot; é predominante a coordenação via intermediário que adquire, transporta, comercializa e realiza contratos informais ou verbais; o frigorífico mantém baixa relação com o produtor; existe uma grave deficiência nos sistemas de fiscalização e controle sanitário; e permanece a presença de pontos clandestinos, como matadouros”, enumera.
 
 
Como reação, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Júlio Barcelos, recomenda ao pecuarista uma mudança de atitude. A começar pela reconfiguração do sistema. “A identificação dos recursos e das capacidades para um diagnóstico, os ajustes embasados e o delineamento de estratégias puxadas pelo mercado formam a primeira ação”. Na sequência, o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte, sugere uma “tomada de decisão com base nas ferramentas gerenciais, como fluxo de caixa e controle de custos; a gestão de tecnologias, considerando custos e riscos; a especialização de pessoas, com seleção, capacitação, motivação e premiação; a integração de recursos – humanos, insumos e naturais, onde os Sistemas Integrados de Produção se encaixam; a intensificação e adequação a cria; por sua vez, o encurtamento da fase de recria; e por fim, a intensificação da engorda”.
 
 
“De fato hoje, quem não acompanha o ritmo do progresso geral fica para trás, perde dinheiro e se empobrece. A gestão é crucial e com tecnologia não se brinca, pode ser a solução e também pode ser fatal”, completa o economista Buainain. Apesar do cenário e seus poréns, os analistas ressaltam que “há oportunidade para inovação, por meio da diferenciação de produtos, já visível em muitos segmentos do mercado, que permite agregar serviços e valor aos produtos agropecuários, com impactos positivos nos preços. É uma economia dirigida pelos consumidores. É agregar valor”.
 
 
Atentas a isso, algumas redes de supermercados regionais e nacionais possuem um produto de carne bovina encorpado. “Após conhecermos o comportamento de compra de nossos consumidores traçamos como objetivos oferecer aos clientes carne de qualidade, sempre fresca, macia e com sabor; e desenvolver o processo para viabilizar um padrão e proporcionar continuidade na oferta. Com isso, tivemos um incremento de 25% na venda, conscientizamos o cliente interno, mudamos a imagem, agregamos valor e fidelizamos”, reforça o conceito dos especialistas, a gerente comercial de uma das redes, Luciana Casanova. Programas como Carne Angus, Pampa Gaúcho e Novilho Precoce MS e trajetórias como da Associação dos Produtores Rurais dos Campos de Cima da Serra (APROCCIMA-RS) são outros exemplos bem sucedidos da fome do mundo por alternativas de consumo.
 
 
A conscientização dos agentes da cadeia produtiva e os bônus da agregação de valor aos produtos são tarefas a serem desenvolvidas por cada elo. A pesquisa científica, por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, também está nessa missão e busca disponibilizar informações, subsidiando os processos de tomada de decisão. “Análise de demandas da cadeia produtiva da pecuária de corte no Brasil, visando alinhar a programação de pesquisa com as necessidades da referida cadeia; arranjo de pesquisa com foco em estruturação da produção de novilho precoce; e criação do Centro de Inteligência da Carne são ações de pesquisa em andamento e é possível organizar o trabalho da produção, da indústria e do varejo”, ratifica o pesquisador em Eficiência e Competitividade de Cadeias Produtivas de Gado de Corte da Embrapa, Guilherme Cunha Malafaia.





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