Publicidade
Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Domingo - 23 de Junho de 2013 às 23:31
Por: Renê Dióz

    Imprimir


Renê Dióz / G1
Na quinta (20), manifestantes partiram da Praça Alencastro em passeata.
Na quinta (20), manifestantes partiram da Praça Alencastro em passeata.
A contribuição dos cuiabanos para a onda de protestos que varreu o Brasil na última semana acabou produzindo a maior manifestação popular já realizada em Mato Grosso. Ouvidos pelo G1, o especialista em História Latinoamericana Alfredo da Mota Menezes e o professor de Sociologia Pedro Félix apontaram o ato político da última quinta-feira (20) - que reuniu até 45 mil pessoas, segundo a Polícia Militar - como inédito na história política local, diferente em sua concepção e numericamente superior à movimentação nacional das "Diretas Já", há quase trinta anos, até então considerada o maior ato político realizado no estado.


 
A semana foi marcada por quatro manifestações em Cuiabá e Várzea Grande, região metropolitana da capital. A principal foi a do dia 20, mas atos no interior contribuiram para "engrossar o coro".


 
Para o articulista e PhD em História da América Latina Alfredo da Mota Menezes, o protesto da última quinta-feira - "puxado" pelas grandes manifestações em São Paulo e Rio de Janeiro - não foi somente o maior já realizado na capital.


 
“Estive nas "Diretas Já", quando o pessoal passou ali pela Avenida Isaac Póvoas, pela Generoso Ponce, mas, em síntese, nunca vi uma manifestação do tamanho dessa. Nunca”, especula o analista. “Chegaram a dizer que até 6% da população de Cuiabá e Várzea Grande estavam nas ruas. Pela proporção, não teve mesmo nenhum protesto no Brasil esses dias do tamanho de Cuiabá. Nesse novo Brasil, nessa grande aldeia global que o exterior está observando demais (e que inclui São Paulo, Rio, Turquia etc.), Cuiabá está dentro e não é só por passagem de ônibus, não”, explica Menezes.


 
Já o professor Pedro Félix aponta que, além do maior número de pessoas no ato, a proporção de jovens entre os manifestantes superou o que ele mesmo viu nos históricos protestos de 1984 pelo voto presidencial direto. É ao protagonismo desses jovens - organizados por meio das redes sociais no Brasil e em Mato Grosso - que o professor atribui uma mudança de paradigma na política.

 
 
"Os vídeos mostram e é isso que assusta a gente agora! Antes, você tinha um modus operandi de se fazer política, que passava pelo político e pela mídia, que manipulava. Há quanto tempo não temos um plesbiscito no Brasil? Muitos historiadores e sociólogos achavam que a sociedade estava eternamente adormecida e, de repente, essa explosão!", espanta-se.


 
Por que agora? 


 
Segundo Menezes, a tão falada mudança de comportamento político do brasileiro ocorreu exatamente agora, entre outros, por uma questão econômica: a formação de uma nova classe média que, esclarecida, não admite regredir na “escala social”.


 
“Por que agora? Porque a família brasileira ascendeu para a classe média. Com a inflação alta, principalmente na alimentação (de 8% a 9%), o cidadão sentiu no bolso alguma coisa diferente e pensou: ‘Será que vou voltar para o que eu era antes? Essa insegurança é muito grande!”, aponta o articulista.
Na opinião de Félix, o brasileiro também finalmente se deu conta de que a democracia em que vive não passa de mais um regime de exceção. “Na verdade, é uma ditadura ainda: os políticos vivem tudo e a população, nada”, denuncia.

 
 
Ele lembra que, além da impunidade aos atos de corrupção, o cidadão ainda tem tido que aturar a negligência com o dinheiro oriundo dos impostos; em cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014, como Cuiabá, o sujeito ainda assiste a uma inversão de valores, segundo Félix, promovida pela suposta submissão dos governos à Fifa e pelo Regime Diferenciado de Contratação (RDC). Esta modalidade de licitação, aponta Félix, promove uma facilidade excepcional para promover obras da Copa - prioridade que nunca foi dada a áreas básicas, como Educação e Saúde - e uma brecha sem precedentes para altos gastos e desvios de dinheiro público.

 
 
Se algo diferencia os recentes atos políticos das ‘Diretas Já’ é a ampla pauta de reivindicações. O movimento nasceu nas grandes capitais do país reivindicando passe livre no transporte público, mas acabou tornando-se uma manifestação pelo fim da corrupção, contra os gastos com a Copa do Mundo de 2014, contra a Proposta de Emenda Constitucional 37 e outros.


 
É exatamente este caráter difuso que preocupa Menezes. Segundo ele, esta característica nasceu com o movimento Occupy Wall Street (em 2011), que se espalhou pelo mundo reivindicando uma reforma no sistema financeiro mundial e acabou dando guarida a outras bandeiras, mas sem efeito concreto até agora em relação específica a suas pautas de reivindicação. “O receio é de ficar tão difuso, sem foco, que lá na frente não dê em nada. Mas não podemos negar que foi uma coisa espetacular. No Brasil, pesquisa de opinião já mostrou que 77% da população aprovam os protestos”, argumenta.

 
 
Por isso mesmo, ele aposta que as eleições do ano que vem já começam a ser afetadas; nomes já taxados como oriundos da política tradicional, tanto na esfera federal quanto na estadual, devem sair prejudicados pelo peso da voz das ruas. “Mandaram um recado para a eleição de 2014. Alteraram tudo”, reflete.


 
“Só um oráculo para dizer o que vai acontecer exatamente, mas a forma tradicional de se fazer política no Brasil foi jogada no lixo. Nós queremos cidadania de fato e de direito e isso vai levar ao surgimento de novas lideranças. O Brasil vai ter de ser reconstruído e os políticos estão mudos, não sabem o que falar”, completa Félix.




Fonte: Do G1 MT

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/16561/visualizar/