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Quinta - 20 de Novembro de 2008 às 13:50
Por: Nara Teixeira

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Ao aprovar a lei 10.639, que obriga todas as escolas a tratarem da história da África e das populações afro-descentes em sala de aula, o Governo Federal atendeu a uma das demandas dos movimentos sociais, principalmente dos negros e negras, a de valorizar a cultura para cá trazida pelos africanos, que 'normalmente' é mostrada pelos livros didáticos como pobre ou até mesmo inexistente. Muitos heróis brasileiros foram negros de muita garra, que resistiram bravamente ao regime escravista da época, fato que é muito pouco explorado dentro e fora de sala de aula. Heróis negros? De quais deles ouvimos falar? Apenas Zumbi dos Palmares nos aparece como figura histórica palpável, mas ainda assim pouco conhecida e reconhecida.

Neste período, onde o Dia da Consciência Negra, dia 20 de Novembro, é lembrado e relembrado nas escolas, notamos uma triste realidade: somente nesta data é que educadores, pais e demais membros da comunidade escolar se preocupam em ressaltar traços da cultura brasileira que são sabidamente impregnados da sua raiz africana, entre eles a culinária, as danças e a língua. Agindo assim, ao invés de mostrar a influência e a importância da cultura africana no cotidiano do aluno, folcloriza-a. É preciso ir além disso.

No ensino privado, a meu ver, a situação se agrava, pois os professores acabam tendo menos formação que os prepare para trabalhar conteúdos relacionados à temática em sala de aula, ao contrário do que ocorre na rede pública. Muitos professores acreditam que a obrigatoriedade do tema se restringe às disciplinas de História, Literatura e Artes. Ignoram que a questão precisa ser tratada interdisciplinarmente, isto é, em todas as disciplinas e de forma intercomunicante. Só assim atingiremos o aluno em sua integralidade.

Não se pode restringir estes temas às datas comemorativas 13 de maio e 20 de novembro.

Por isso, o SINTRAE-MT, sindicato que representa professores e auxiliares administrativos do ensino privado, integra o recém criado Fórum Estadual Permanente de Educação e Diversidades Etnico - Racial, onde uma das lutas deverá ser a capacitação dos professores e funcionários, o acesso a materiais didáticos de qualidade que dêem subsídio ao trabalho do professor, entre outras necessidades.

Na Confederação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) foi criada uma secretaria exclusiva para tratar das questões relacionadas a gênero e etnia para trazer para dentro do ensino privado discussões sobre temas como as cotas raciais.

Isso demonstra que a preocupação com o tema é grande entre os profissionais que atuam no ensino privado.

É necessário, isso sim, mais empenho do poder público, dos empresários do setor educacional, dos educadores e alunos para que a questão racial deixe de ser assunto de exceção e passe a ser regra nas escolas, sejam elas públicas ou privadas. E que o dia 20 de novembro não seja apenas lembrado como mais um feriado, e sim como um dia de reflexão do papel dos negros e negras na sociedade, da lutas e bandeiras do movimento negro brasileiro, de instrumento de combate ao racismo. Essas lutas são compromissos de todos que buscam a construção de um Brasil mais justo e igualitário.

Nara Teixeira é presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de Mato Grosso (SINTRAE-MT).





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