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Economia
Sexta - 26 de Setembro de 2008 às 09:25

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A Sadia anunciou ontem que liquidou antecipadamente operações realizadas no mercado financeiro relacionadas à variação do dólar, em razão "da severidade da crise internacional e da alta volatilidade da cotação da moeda norte-americana".

Com isso, a Sadia se tornou a primeira empresa brasileira não-financeira a admitir perda ligada diretamente à crise nos mercados financeiros. Analistas esperam perdas similares em outras empresas.

A decisão representou perdas de R$ 760 milhões à empresa e deverá significar prejuízo no ano. Na estimativa de Denise Messer, analista do banco Brascan, o prejuízo líquido da Sadia no ano será de R$ 224 milhões, contra lucro líquido de R$ 689 milhões do ano passado. Antes do anúncio, o Brascan projetava lucro de R$ 536 milhões para a Sadia em 2008.

Adriano Ferreira, diretor financeiro da empresa, foi substituído por Welson Teixeira Junior, diretor de Controladoria e de Relações com Investidores.

"O anúncio é bastante negativo para a empresa, que estava muito alavancada e certamente não esperava uma crise dessa magnitude", diz Messer.

A opinião parece ser unânime entre os analistas. De acordo com Renato Prado, analista do Banco Fator, a Sadia errou em seu planejamento financeiro ao assumir posição maior do que deveria.

"Teremos uma conferência com a empresa amanhã [hoje] para entender melhor, mas a impressão é que se trata de uma empresa de alimentos operando numa área [mercado financeiro] que não é de sua expertise", diz Prado. Isso porque a operação feita no mercado financeiro foi superior às necessidades de proteção das atividades da Sadia expostas à variação cambial. Conhecida como hedge, a proteção cambial é prática comum das empresas cujas operações são expostas a oscilações cambiais.

Segundo Gilberto Tomazoni, presidente da Sadia, a companhia tem uma política de investimentos conservadora.

"Temos uma política de risco limitada [ao equivalente] a seis meses de nossas exportações e estávamos expostos em um ano dessas exportações", afirma Tomazoni. "Quando o conselho tomou conhecimento de que a área financeira tinha feito esses excedentes determinou que a empresa fosse enquadrada nos níveis de risco determinados. Como estávamos no momento de maior volatilidade internacional, houve toda essa perda."

Segundo Tomazoni, a Sadia não confirma a expectativa de prejuízo. "Divulgamos expectativas de crescimento e Ebitda [lucro operacional] e estamos mantendo-os já que a empresa vive seu melhor momento", diz.

Segundo os analistas, a Sadia não foi a única a fazer esse tipo de operação. Empresas com grande caixa como a Sadia, cujas entradas somam R$ 2 bilhões, "certamente" agiram da mesma maneira e deverão realizar correções semelhantes.

"Há grandes chances de outras empresas divulgarem resultados finais negativos em razão da crise", diz Messer.

A liquidação das operações do mercado foi feita com caixa da própria Sadia, que afirmou ainda ter tomado linhas de crédito que garantirão o funcionamento normal das operações.

"O fato limitou-se à operação financeira e não afetará as atividades industriais e comerciais que continuam em expansão", diz Tomazoni.

Apesar de o comunicado ter sido divulgado após o fechamento do mercado, os papéis da Sadia registraram perdas. A ação preferencial (sem direito a voto) da Sadia foi a que mais caiu na Bovespa ontem, com desvalorização de 2%.

Mesmo com a operação, a Sadia diz ter perspectivas favoráveis: a demanda continua aquecida, os preços no mercado externo já incorporaram as altas das matérias-primas e as cotações de milho e soja perderam força. Os investimentos de R$ 1,6 bilhão e o faturamento de R$ 12 bilhões previstos para este ano estão mantidos.





Fonte: Folha de S.Paulo

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