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Saúde
Quarta - 31 de Outubro de 2007 às 06:50
Por: Marília Juste

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O governo brasileiro acaba de autorizar a comercialização de um medicamento que promete dar esperança a pacientes com câncer de mama avançado, que não responde mais aos tratamentos convencionais. O Tykerb (ditosilato de lapatinibe), que já é vendido nos Estados Unidos, é um comprimido que deve chegar às farmácias brasileiras no início de 2008. Enquanto isso, cientistas de todo o mundo buscam inovações para combater esse câncer, o segundo que mais mata no mundo, atrás apenas do de pulmão.

O câncer de mama não é uma doença, mas muitas. Há diferentes tipos de tumores e a percepção de que cada um deles responde de forma diferente ao tratamento é o que está, de fato, mudando e melhorando a vida e a sobrevida dos pacientes. De acordo com o brasileiro Jorge Reis-Filho, que lidera o Laboratório de Patologia Molecular do Centro de Pesquisas de Ponta sobre o Câncer de Mama, na Inglaterra, isso é o que está ocorrendo de mais importante na área no momento.

“Antigamente se usava a mesma quimioterapia para tratar todos os tipos de tumores de mama. Agora, descobrimos que temos resultados melhores quando identificamos o melhor tipo de tratamento para cada tumor específico. Isso tem efeito direto na qualidade de vida do paciente”, explicou ele ao G1.

O medicamento aprovado nesta semana age em um tipo muito especifico de câncer de mama: aquele em estágio avançado e com presença da proteína HER2, que age como um verdadeiro “combustível” para o tumor. Esse tipo de tumor no seio corresponde a algo entre 20% e 30% de todos os casos de câncer de mama e atinge principalmente pessoas jovens.

“Esse é tipo de tumor mais comum entre mulheres jovens e por isso é especialmente cruel. Atinge mães com filhos pequenos e mulheres em idade produtiva. E responde muito mal aos tratamentos, é difícil de lidar”, explica Paul Goss, da Escola Médica de Harvard e diretor de pesquisa em câncer de mama do Hospital Geral de Massachussetts, nos EUA, que trabalhou no desenvolvimento do medicamento. “Acredito que esse câncer é especialmente devastador no Brasil, onde a população é mais jovem em média”, afirma.

Normalmente, o tumor “positivo para HER2”, como é chamado, é tratado com outra droga, o Herceptin. Algumas pacientes, no entanto, não respondem ou deixam de responder ao medicamento. “Antigamente o que se fazia quando o Herceptin não funcionava? Nada. Esperava a paciente morrer, tentava minimizar o sofrimento. Agora, já podemos fazer alguma coisa. O Tykerb age onde o Herceptin deixou de agir”, afirma o oncologista Císio Brandão, gerente médico da GlaxoSmithKline, farmacêutica que produzirá o remédio no Brasil.

Embora seu objetivo final seja o mesmo –- parar o suprimento de HER2 para o câncer -- o Tykerb e o Herceptin são remédios bastante diferentes. Na verdade, eles se complementam. “Imagine que você está tentando impedir que o combustível chegue ao motor de um carro, que representa aqui a célula de um tumor. E que o tanque está do lado de fora do veículo. A linha de combustível liga o tanque ao motor, entrando no carro. O Herceptin prende a linha na entrada do tanque e estrangula o fornecimento ali. O Tykerb entra na linha de combustível, dentro do carro, entre tanque e motor, e corta o combustível. Por que isso é importante? Porque nem sempre o Herceptin consegue achar a linha de combustível. De dentro do carro, o Tykerb corta todo o suprimento, não importa de onde veio”, explica Goss.

Além dessa vantagem, o Tykerb é um medicamento de uso oral, o que facilita a vida das pacientes que não precisam ir a um hospital para serem medicadas. O Herceptin é tomado por via intravenosa e pode causar problemas no coração. Por enquanto, os estudos não revelaram nenhum efeito colateral muito sério no Tykerb, além de diarréia e irritações na pele -- o efeito no coração é mínimo, de acordo com Goss.

Avanços

Entre os diversos estudos que estão sendo feitos contra o câncer de mama, alguns se destacam, de acordo com Reis-Filho. Para ele, o mais importante, no momento, é um que trata do câncer de mama hereditário (cerca de 5% a 10% do total), causado por mutações no gene BRCA1 ou BRCA2.

“Normalmente, o BRCA1 e 2 corrigem certos defeitos de reparo do DNA. Quando eles entram em mutação e viram um tumor, no entanto, perdem essa função, que passa a ser feita apenas por inibidores de enzima chamados PARPs. Acreditamos que se conseguirmos um remédio que pare o funcionamento desses inibidores, as células cancerosas vão morrer”, explica o especialista. “Isso é o que temos de mais excitante na pesquisa contra o câncer nos últimos cinco anos. Diversos estudos clínicos estão sendo feitos e esperamos resultados muito promissores”, afirma.

Prevenção

Pesquisas à parte, por enquanto, a melhor arma contra o tumor no seio continua sendo o diagnóstico precoce. As taxas de sobrevivência aumentam quanto mais cedo for detectado o tumor. Por isso, é indispensável o auto-exame das mamas, mamografias regulares (anuais a partir dos 40 anos), consultas médicas freqüentes e, no caso de algumas pessoas, testes genéticos para avaliar a susceptabilidade à doença.

O câncer hereditário corresponde a algo entre 5% e 10% de todos os tumores de mama. Parece pouco, mas quem tem mutações nos genes BRCA1 e BRCA 2 tem 80% de chances de ter a doença aos 70 anos de idade. O teste, no entanto, não deve ser feito a toa. “A decisão de fazer o teste precisa ser tomada em conjunto pela paciente, o oncologista e o geneticista. Não deve ser feito a esmo e deve ser colocado em um contexto clínico. É muito importante não extrapolar resultados genéticos sem contextualizar”, explica Reis-Filho.

O auto-exame mensal ajuda a mulher a conhecer as mudanças normais pelas quais seus seios passam ao longo do ciclo menstrual. Essas alterações podem formar nódulos e embora a maioria deles não se transforme em tumor, todos precisam ser examinados imediatamente. Normalmente, os nódulos se formam nos pequenos saquinhos produtores de leite do seio, os lóbulos, e nos dutos, os canais que levam leite ao mamilo.





Fonte: G1

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