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Economia
Quinta - 13 de Setembro de 2007 às 09:58

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O crescimento mais vigoroso da economia brasileira trouxe de volta o debate sobre limites para a expansão do PIB no país. Para economistas mais ortodoxos, ele pode ter passado do chamado PIB potencial, conceito teórico pelo qual a economia encontra seu limite de crescimento usando toda a sua capacidade --seja de máquinas, terras agriculturáveis, pessoal etc.-- sem causar inflação.

Na opinião desses economistas, para crescer mais sem prejuízos ou desequilíbrios potenciais, o Brasil teria de aumentar mais seu nível de investimento ou ter ganhos consideráveis de produtividade. E esses ganhos só aconteceriam hoje a partir de reformas estruturais --como tributária, trabalhista, previdenciária, entre outras--, além da ampliação da infra-estrutura de energia e logística.

Uma vez atingido esse "teto de crescimento sustentável", a receita ortodoxa clássica da política monetária se traduz em aperto nos juros --no caso brasileiro, pelo fim dos cortes das taxas pelo Banco Central.

Mas nem todos os economistas ouvidos pela Folha concordam em que tenhamos atingido esse teto. O próprio cálculo do que seria o tal PIB potencial é polêmico, subjetivo e oscila ao sabor de variáveis voláteis como investimento e demanda.

Economistas estimam que o crescimento potencial do PIB brasileiro estaria entre 4% e 4,5%. O governo não tem estimativa própria. "Nem sob tortura o Banco Central revela qual seria o seu PIB potencial", disse Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Real ABN e diretor do BC até 2006.

Para Schwartsman, para o PIB crescer 5% ao ano, o nível de investimento da economia deveria estar hoje em pelo menos 21% do PIB -hoje, soma 17,7% do PIB. "Para crescimento de 6%, o investimento deveria ser de 25% do PIB", disse.

"Ou você acredita que o investimento vá aumentar --os dados mostraram isso-- e vai dar tempo de aumentar a oferta sem gerar pressão inflacionária ou o Banco Central vai achar que não terá esse tempo e vai suspender os cortes da Selic. É o que acho que vai acontecer", disse João Luiz Mascolo, professor do Ibmec-SP.

"É importante notar que o crescimento de 0,8% [em relação ao primeiro trimestre] representa em termos anualizados 3,2%, abaixo da estimativa de 4,0% para o crescimento potencial", disse Aurélio Bicalho, economista do Itaú.

"Pelas nossas contas, o PIB potencial está em 4,3%. Incorporando os dados do PIB, temos um hiato [diferença entre PIB potencial e PIB efetivo] ligeiramente positivo", disse Octavio de Barros, diretor de pesquisa do Bradesco.

Para controlar os efeitos desse aumento da demanda, os economistas lembram o papel das importações, já citado pelo BC.

"O crescimento das importações segura a demanda e diminui a pressão inflacionária. O ritmo da economia está bom. Se fosse muito maior, talvez houvesse risco de inflação", disse Edward Amadeo, economista da Gávea Investimentos e formulador de política econômica à época do ministro Pedro Malan (governo FHC).

Já para o heterodoxo João Sicsú, da UFRJ e indicado para diretoria do Ipea, a importação não deveria ser utilizada como instrumento de controle de demanda.

"Há um perigo à vista: o crescimento das importações numa velocidade superior às exportações. Com câmbio valorizado e o crescimento [do PIB], o resultado é perda de saldo comercial. A política econômica deve se preocupar com a redução do saldo nas contas externas em 2008. O perigo é esse, mas o resultado é muito alentador e positivo", disse.

Já para o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, "o resultado do PIB aumentou a chance de uma parada na queda dos juros".

O economista Julio Callegari, do JP Morgan, discorda da necessidade de suspender o corte nos juros por conta da demanda maior. "Existe, sim, espaço para a continuidade do corte de juros, nesse ritmo de 0,25 ponto.

A importação vai acelerar. Vemos uma desaceleração do consumo devido à alta dos alimentos, que reduz a renda, e a desaceleração do crédito, inclusive ligado à crise externa."

Para o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (governo FHC), o investimento privado tem respondido de forma adequada à demanda maior. "O problema está do lado do investimento público, que é baixo e não tem sido suficiente para reduzir gargalos importantes na infra-estrutura. Esse é um dos limitadores do crescimento acelerado."

Para os economistas consultados, o impacto da crise externa só deve afetar o PIB no último trimestre de 2007. E deve ter maior peso só em 2008, dependendo da desaceleração da economia dos EUA.





Fonte: AE

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