Repórter News - reporternews.com.br
Economia
Segunda - 13 de Agosto de 2007 às 18:23

    Imprimir


Bonecas, palhaços, indiazinhas, espantalhos, casal de idosos, personagens religiosos e até um cupido com olhar apaixonado. Estes são alguns dos personagens de pano confeccionados pelas reeducandas do presídio feminino Ana Maria do Couto May, em Cuiabá.

A iniciativa partiu da artista plástica Alice Helena Graborwski, proprietária da fábrica “Puppi Tuch”, que quer dizer boneca de pano em polonês. No mercado há cinco anos, Alice teve a idéia de trazer a fábrica para dentro da unidade prisional, onde trabalha diariamente, desde novembro de 2006, junto com as reeducandas. “Nós dividimos os trabalhos. Uma faz os corpinhos, outra os rostinhos, outras os pezinhos. Há também as meninas que são responsáveis pelas roupinhas e detalhes de acabamento”, explica. Todas as expressões (rosto) são pintadas à mão pela artista plástica, que tem cada um dos personagens registrados e protegidos pela Lei de Direitos Autorais.

Além da capacitação profissional, as reeducandas são remuneradas pelo trabalho. Todas têm salário fixo, média R$ 200 cada uma e um dia de pena reduzido a cada três dias trabalhados. A matéria prima, de acordo com Alice, é comprada em outros Estados. “Todos os materiais usados são muito caros, os acabamentos são especiais, então o local de compra varia muito, mas todos os materiais são adquiridos fora de Mato Grosso”, relata Alice.

As bonecas são expostas anualmente em uma feira realizada no mês de março, em São Paulo, que reúne expositores de todo lugar do Brasil e de alguns países vizinhos. São confeccionadas, mensalmente, de 160 a 180 bonecas, que são vendidas, por atacado, para representantes de farmácias, floriculturas, brinquedos e, principalmente, lojas de artigos religiosos. Todas são 100% algodão e ainda trazem aroma de doces ou ervas. Em Cuiabá, os personagens são vendidos na casa do Artesão, na rua 13 de Junho. Cada boneca custa, em média de R$ 75 a R$ 80 (preço de atacado).

Cada boneca tem duas etiquetas, sendo a primeira com referência e preço do produto, e a segunda com a frase “Quando eu nasci, dei um dia de liberdade e esperança para as reeducandas do presídio feminino do pascoalzinho”, acompanhada pelo nome das doze “tias”, responsáveis pela confecção dos personagens.

O secretário de Justiça e Segurança Pública, Carlos Brito, acredita que iniciativas como essa valorizam o ser humano e contribuem para a ressocialização. “Precisamos buscar apoios e parcerias dentro da própria sociedade. Garantir a qualificação e a auto-estima dessas pessoas enquanto reeducandos é garantir a segurança coletiva quando retornarem para o convívio social”.

Ressocialização - Além da ressocialização, o trabalho de confecção das bonecas de pano tem proporcionado às reeducandas o resgate da auto-estima e o sentimento de ser útil. Condenada a dois anos e meio e tendo cumprido apenas sete meses de pena, a reeducanda Jacheline Ducas, 47 anos, diz que não se sente presa. “Estou trabalhando na fábrica há apenas dois meses, mas com o dinheiro que ganho, compro as minhas coisinhas. Vou aprender bastante aqui para poder trabalhar quando sair”.

Já a detenta, Dirce Castelo de Souza, 53 anos, está no presídio há um ano e 8 meses. Durante todo esse período passou por tratamentos de stress e chegou a tomar remédios controlados, como Gardenal, por exemplo. Atualmente ela cancelou toda a medicação, com autorização do médico, que reconheceu o trabalho como uma terapia. “Além de não sentir mais aquelas dores que eu tinha, ainda tenho dinheiro para pagar meu advogado e comprar produtos de higiene pessoal”, conta, enquanto costura algumas joaninhas de pano para pregar no vestido de uma bruxinha.

A diretora da unidade prisional, Dinalva Oriede Silva Souza, reconhece que a fábrica de bonecas contribui para a ordem e a disciplina dentro da unidade. “Além do carinho que elas têm pela Alice, não temos registro de qualquer problema que envolva as reeducandas que participam do projeto”.





Fonte: 24 Horas News

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/211983/visualizar/