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Politica Brasil
Terça - 24 de Julho de 2007 às 14:31
Por: Lourembergue Alves

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"O coronelismo acabou". Esta é uma frase repetida inúmeras vezes desde o momento em que se soube da morte do senador Antonio Carlos Magalhães. Repete-se, aqui, a mesma cantilena de uma nota só quando da vitória do candidato petista ao governo da Bahia. Parece, entretanto, que a partitura coronelística não é tão fácil assim de ser decifrada. Cuidado é necessário. Ainda mais quando se sabe que muitos dos traços do coronel do passado podem ser identificados também em certos políticos do presente no que tange a conquista do eleitorado, a saber: o empreguismo, o favoritismo, a barganha eleitoral, o compadrio e até a compra de votos, em suas mais variadas formas.

Deve-se, então, aqui, concordar com a historiadora Maria Janotti, pois, de fato, o coronelismo demonstra ter uma estrutura bastante plástica, adaptando-se a sucessivos momentos históricos. O coronel moderno, ao contrário do modelo passado, se ligou diretamente aos proprietários de jornal, revista e emissoras de rádio e televisão, ou passou ele próprio a controlar esses veículos de comunicação, com o fim de seduzir o eleitorado regional. Isso fica claro na história de vida do senador baiano, que a ditadura burocrático-militar transformou em político de projeção nacional. Isso, porém, não o fez desligar-se de suas raízes, pois lutou por verbas e obras para a Bahia, não apenas quando fora por três vezes governador, mas também na condição de deputado, ministro e senador, cujo dividendo político lhe rendeu vitórias eleitorais memoráveis. Não só suas próprias, mas igualmente de quem vinha a apoiar, geralmente por ele cooptado via máquina partidária e do Estado. Aliás, dessa forma, ACM, como era conhecido, renovou o quadro político estadual, com o ingresso de técnicos e profissionais liberais, e, com a ajuda destes, pôde contribuir e muito na remodelação, na modernização e crescimento do Estado da Bahia. Sua morte, portanto, abre uma lacuna enorme na região, que pode ser preenchida por agentes originários tanto da direita, quanto da esquerda; não com a mesma capacidade de aglutinar forças do senador "Toninho Malvadeza" ou "Toninho Ternura".

Sua história é única, porém isso não significa que outros exemplos de coronel tenham desaparecidos. Até porque o senador José Sarney está presente e bem ativo no cenário político nacional, cuja família tem uma participação política importante no Maranhão, muito embora tenha perdido recentemente o governo estadual, sem, contudo, ter sido abandonada por uma parcela do eleitorado, mantida graças ao favoritismo e à barganha eleitoral. Características estas, aliás, também adotadas pelo ex-metalúrgico Lula da Silva, que, por conta disso, poderia muito bem ser classificado como uma espécie pós-moderna de coronel, dado ao populismo empregado e os mecanismos que utiliza para seduzir a população por meio dos veículos de comunicação, além dos que se vale para neutralizar as manifestações populares e os movimentos grevistas, pois atrai as principais lideranças dos sindicatos de trabalhadores via emprego público. Semelhante com que se viu na capital de Goiás e no Estado de Mato Grosso do Sul, em administrações passadas.

Diante disso, é equívoco se imaginar que o coronelismo acabou. Talvez, tenha chegado ao fim uma faceta dele, representada pelo senador Antônio Carlos de Magalhães; mas outras continuam fortemente presentes no cenário político regional e nacional. Caso contrário, como se explica, por exemplo, a persistência na política mato-grossense dos Campos, dos Bezerra, dos Pinheiros, dos Maggi, etc. Não são estes formas modernas de coronel?

Lourembergue Alves é professor da Unic e articulista de A Gazeta, escrevendo às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br




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