Stédile diz que aborto é tema social e chama papa de conservador

O principal líder do MST, João Pedro Stédile, tradicional aliado da Igreja Católica, afirmou nesta quinta-feira que considera um erro abordar a questão do aborto sob o ponto de vista ético e não social.

"O que eu sinto, embora não haja decisão, não haja instância, é que a ampla maioria da nossa base é a favor do aborto. Somos a favor não por uma questão de ética, mas olhamos para o aborto como questão de saúde pública", disse ele, durante abertura oficial do V Congresso Nacional do MST.

No segundo dia da visita do papa Bento 16 ao Brasil, Stédile foi contundente: "Esse padre é conservador, todo mundo sabe disso, não precisa o João Pedro chamá-lo de conservador."

O MST possui convênios com o Ministério da Saúde para distribuição de preservativos nos assentamentos e prevenção a doenças sexualmente transmissíveis.

"Isso é um problema social e não se pode simplesmente analisar os problemas sociais sempre pela ótica da ética. Se fosse pela ética, teria de fechar todas as instituições públicas do Brasil, todas são corruptas. Há, pelo menos, corrupção em todos os espaços da institucionalidade", disse.

Nascido dos movimentos eclesiais de base, o MST começou a afastar-se da Igreja Católica a partir da década de 1990, com críticas a um maior conservadorismo do episcopado. Atualmente, lutam juntos pela paz no campo e pela igualdade social, sem tratar das polêmicas que os dividem.

Nos últimos meses, o MST elevou o tom das críticas ao governo e cobra por avanços no programa de distribuição de terras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.