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Internacional
Quarta - 15 de Novembro de 2006 às 16:05

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Nem a dívida pública cada vez maior nem o perigo de a rede de transporte ferroviário entrar em colapso — o principal debate travado pelos italianos atualmente gira em torno de saber se é politicamente correto fazer do papa tema de sátiras.

Essa era a pergunta estampada na maior parte das primeiras páginas dos jornais do país nesta quarta-feira depois de autoridades da Igreja Católica terem reagido ao grande número de programas de TV e de rádio que fazem piada com o papa Bento 16.

"O Vaticano não gosta da sátira", afirmou o diário La Repubblica.

O jornal L''Unità, pertencente ao maior partido de centro-esquerda do atual governo italiano, chegou ao ponto de colocar a manchete sobre o papa ("O Vaticano não aceita piadas") acima da matéria relatando a situação do sistema público de ferrovias, que estaria "à beira da falência".

Em um programa de TV, o comediante Maurizio Crozza, vestido como o papa, imita o sotaque alemão de Bento 16 ao sentar-se detrás de uma mesa, acompanhado por dois membros da Guarda Suíça.

Crozza faz piada usando duas palavras que soam da mesma forma — Pax (paz) e Pacs (acrônimo para a polêmica lei que daria aos casais de heterossexuais não casados e aos casais de homossexuais os mesmos direitos civis dos casais constituídos oficialmente). O papa de Crozza diz: "Que a pax (ou Pacs) esteja convosco".

O papa e a Igreja Católica são contrários à aprovação da Pacs.

Em um programa de rádio, uma dupla de comediantes imita o papa e seu secretário, o monsenhor Geog Ganswein, um alemão de 50 anos cuja aparência de menino fez dele uma pequena celebridade na mídia italiana.

Um deles diz ao outro que o papa começou a fumar três maços de cigarro por dia, "como um turco", a fim de preparar-se para a viagem dele à Turquia, neste mês.

Na Itália, a frase "fumar como um turco" significa fumar muito. O papa não fuma.

A polêmica começou na semana passada, quando o jornal católico Avennire criticou os programas de TV. Na quarta-feira, o caso chegou às manchetes de jornal depois de Ganswein ter afirmado, segundo uma agência italiana de notícias, que já estava farto das piadas a respeito do chefe dele.

Apesar de alguns jornais terem defendido o papa, o L''Unità disse que quaisquer limitações à liberdade de expressão seria algo equivalente a uma "cruzada" do Vaticano.

"Em que época estamos vivendo?" perguntou a publicação em um editorial intitulado "Sátira livre em um país livre". Segundo o L''Unità, os italianos não deveriam aceitar qualquer tentativa de censura e acrescentou que o caso "cheirava um pouco a fundamentalismo."

Um editorial extenso publicado pelo Corriere della Sera, o jornal de maior circulação da Itália, criticou as sátiras, classificando-as de "brincadeiras lamentáveis". "O sotaque alemão do papa pode servir de material para um quadro cômico, mas há 1 bilhão de pessoas acostumadas a chamá-lo de ''Santo Padre'' e todos querem ver um mínimo de respeito em relação a seus pais, principalmente se eles são pessoas de idade", disse o editorial.

Mas a última palavra a respeito do episódio, considerado por alguns como uma tempestade em um copo de água, talvez tenha ficado com uma charge publicada na seção de opinião de um jornal.

No desenho, um personagem afirma que os quadros de TV e de rádio sobre o papa deixavam muito a desejar. Um outro responde que, na verdade, o papa era mais engraçado do que os comediantes que tentavam imitá-lo.





Fonte: Reuters

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