Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Sexta - 20 de Outubro de 2006 às 15:55

    Imprimir


Num pequeno quadro com o título "Nomes dos Mortos", na página 10, o New York Times registrou o falecimento do capitão Mark Paine, que morreu esta semana quando uma bomba de beira de estrada explodiu perto do carro em que ele estava, no Iraque.

O jornal californiano de onde ele morava, o Contra Costa Times, publicou uma reportagem de mais de 700 palavras (maior que este texto) sobre a morte de Paine, incluindo entrevistas com sua mãe, com seu pai e até com seu antigo monitor de escotismo. O San Francisco Chronicle publicou um obituário de 500 palavras.

Essa cobertura local das mortes militares dos EUA tem "mais efeito sobre a opinião pública que as tendências mais globais", disse Matt Baum, professor de política da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Outubro, que já teve 73 mortes de soldados norte-americanos no Iraque, encaminha-se para ser o mês mais sangrento para as tropas dos EUA desde a ofensiva em Falluja, há dois anos. No total, já morreram 2.787 soldados americanos.

Mas analistas afirmam que até mesmo a cobertura local tem dificuldades para romper o efeito anestésico que o número constante de mortes provoca.

"No Iraque, enquanto estávamos perdendo números relativamente pequenos de soldados no começo, isso era um grande choque", disse Max Boot, especialista em segurança nacional do Conselho de Relações Exteriores, com sede em Nova York.

"Mas agora que as mortes se acumularam elas não causam muito mais choque. Isso faz lembrar a frase de Stálin (o ditador soviético Joseph Stálin), de que ''uma morte é uma tragédia, um milhão de mortes é uma estatística''. Há algo de verdade nisso."

Tanto Boot como Baum disseram que momentos marcantes — como quando as mortes chegam a um número redondo — atraem a maior cobertura da mídia, mas acreditam que o foco no Iraque aumentará um pouco agora por causa das eleições parlamentares norte-americanas, no dia 7 de novembro.

"Há uma campanha eleitoral acirrada em andamento e teremos muitos candidatos reforçando o fato", disse Baum. "Vai haver um forte efeito de ressonância que não haveria em outros meses."

"Acho que é verdade que, quando os números aumentam, a gente fica meio anestesiado", disse Paul Levinson, chefe do departamento de comunicação e estudos de mídia da Universidade de Fordham.

"Dito isso, acho que a imprensa vem relatando tudo o que vem acontecendo no Iraque de uma forma tão agressiva que acho que as pessoas ainda estão muito antenadas no que está ocorrendo."

Boot disse que as mortes norte-americanas no Iraque não estão tendo o mesmo impacto sobre a sociedade que as mortes na Guerra do Vietnã porque todas as tropas que estão no Iraque são formadas por voluntários, e não por soldados convocados.

"Agora o impacto é mais isolado porque muitos dos soldados vêm de comunidades militares, que estão concentradas em uns poucos Estados", disse ele.

O número de soldados mortos nas guerras do Vietnã e da Coréia foram bem maiores. Segundo o Pentágono, entre 1964 e 1973 morreram 58 mil soldados, e na Guerra da Coréia, de 1950 a 1953, mais de 36 mil.

Yahya Kamalipour, chefe do departamento de comunicação da Universidade de Purdue, em Indiana, disse que, se a imprensa mostrasse imagens reais das mortes no Iraque uma parte dessa anestesiação seria eliminada.

"Não estamos pensando neles, quem quer que sejam, como pessoas. Eles não têm rosto, são apenas números, e isso é perturbador", disse ele.





Fonte: Reuters

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/267021/visualizar/