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Repórter News - reporternews.com.br
Agronegócios
Sexta - 29 de Setembro de 2006 às 14:24

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O maior produtor nacional de soja - e segundo principal de grãos - agoniza. Símbolo do agronegócio eficiente, Mato Grosso vive um grande dilema nesta safra: plantar ou não e, em caso positivo, o que cultivar. Segundo estimativas da Agroconsult, a rentabilidade dos grãos no estado será negativa. Apenas o algodão pode ter uma margem de lucro positiva: 9%.

"O pior lugar para se plantar no País hoje é Mato Grosso, por causa dos custos da logística", diz André Debastiani, analista da Agroconsult. Nos últimos 10 anos o estado despontou no setor, atraindo migrantes do Sul em busca de terras mais baratas; e agora vive um queda drástica nos investimentos na agricultura. As perspectivas são de que a área cultivada com soja caia até 25% em Mato Grosso.

O produtor Nadir Suculotti, de Sorriso (MT) foi um dos colonos do Sul que trocou uma área de 10 hectares, de agricultura familiar, por uma mil vezes maior - construída ao longo de 23 anos no estado. Não se arrepende, mas tem consciência de que a renda caiu. "Preciso ter uma superprodução para conseguir viabilidade econômica. Do contrário, perco duas vezes", diz Suculotti, explicando que reduzirá a área de soja em 16% para não diminuir a tecnologia investida, que lhe garante uma produtividade de 53 sacas por hectare. Em caso de uso menor de tecnologia, ele poderia não conseguir a produtividade atual.

A redução da superfície cultivada é o que recomendam analistas de mercado e os dirigentes do setor. "Neste ano, mais do que nunca, o produtor terá de fazer bem as contas e investir na áreas mais produtivas", diz Normando Corral, presidente em exercício da Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato).

Rentabilidade negativa

Os dados da Agroconsult mostram que, apesar de liderar na produção da soja, a rentabilidade do produtor de Mato Grosso será menor do que a dos paranaenses e dos gaúchos: + 11% e - 3,7%, respectivamente. Debastiani explica que, ao estar longe dos portos, o agricultor mato-grossense perde duas vezes, pois paga mais caro pelos insumos e recebe menos pela soja. "Este é o grande ponto de estragulamento do estado", afirma Fábio Silveira, analista da RC Consultores.

"É preciso uma política agrícola que dê garantias de que o produtor possa plantar lá", diz Debastiani. Segundo ele se o Brasil quer que a região seja celeiro de grãos, são necessários investimentos em logística para diminuir os custos de produção, pois a região é ainda a garantia de expansão de fronteira agrícola. "Uma das alternativas é abrir uma saída pelo Norte do País", afirma José Carlos Hausknecht, consultor de agronegócios da MB Associados.

Corral explica que, quando o preço da soja era alta, compensava as deficiências logísticas do estado. "O custo da terra, a produtividade e o clima, aliado às cotações internacionais em alta, garantiam a renda do produtor", diz Corral.

Para Silveira, desde 2004 a crise pela qual passa o produtor hoje já se desenhava. Por isso, segundo ele, além dos investimentos em infra-estrutura, o governo poderia ter adotado medidas como a criação de um fundo de catástrofe para commotidies. "Sempre que se trabalha com um produto destes, corre-se o risco em um ano ganhar muito e no outro, pouco", explica. O resultado, segundo Silveira, é um endividamento sem precedentes e o desestímulo à produção.

No entanto, apesar das expectativas pessimistas, o consultor diz que, aquele que tiver boa produtividade e aumentar a área vai ganhar dinheiro, pois com a queda na superfície cultivada, em todo o País, a expectativa é de que os preços da soja em 2007 estejam mais firmes.





Fonte: Gazeta Mercantil

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