Vaticano apela à diplomacia para explicar palavras do Papa

O secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, disse hoje que pediu que os núncios nos países muçulmanos expliquem à autoridades políticas e religiosas o sentido do discurso pronunciado na Alemanha pelo Papa Bento XVI, no qual fazia uma referência ao Islã, que gerou críticas.

"Encarregamos os núncios nos países muçulmanos de levarem e explicarem minha declaração às autoridades políticas e religiosas, tendo em conta os elementos que até agora foram passados por alto", disse Bertone à agência "Ansa".

Bertone publicou no sábado uma declaração na qual, entre outros, explicava o sentido do discurso feito pelo Papa na terça-feira, na Universidade de Regensburg (Alemanha).

A citação do imperador bizantino Manuel II Paleólogo usada pelo Papa estava em uma passagem de um discurso "grande e programático, feito pelo grande teólogo (Joseph) Ratzinger", disse.

O cardeal reiterou a vontade do Papa de continuar o caminho de seu antecessor João Paulo II e do Concílio Vaticano II, de criar pontes para o mundo islâmico.

Na declaração do sábado, Bertone disse que o Papa "sentia muito" que alguns fragmentos do discurso "tenham parecido ofensivos à sensibilidade dos muçulmanos e tenham sido interpretados de modo que não corresponde em absoluto a suas intenções".

Além disso, explicou que, ao usar a citação de Manuel II Paleólogo, do século XIV e crítica a Maomé, o Papa "não teve a intenção" de assumir como suas as palavras, e que no discurso chegava a "uma clara e radical rejeição da motivação religiosa da violência, venha de onde vier".

Bento XVI deve viajar de 28 a 30 de novembro à Turquia, e o secretário de Estado vaticano disse que espera que a visita aconteça, pois "até agora não há motivos para não fazê-la".

Bertone disse que amanhã começará a reunião da conferência episcopal turca que "refletirá sobre os problemas e deve preparar o programa da viagem".

O diretor de assuntos religiosos turcos, Ali Bardakloglu, disse na quinta-feira passada que as declarações do Papa Bento XVI são "muito preocupantes, lamentáveis e infelizes, tanto para o mundo cristão como para a paz da humanidade".

Bardakoglu, líder dos religiosos turcos, acrescentou em relação às palavras pronunciadas pelo Papa durante sua visita à Alemanha que, "se isto reflete o ódio e a hostilidade que abriga o Papa em seu interior, então estamos diante de uma situação muito mais grave".