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Repórter News - reporternews.com.br
Politica Brasil
Domingo - 03 de Setembro de 2006 às 09:30

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Enquanto os maiores produtores mundiais de soja expandem a produção do grão -- Estados Unidos e Argentina --, o Brasil, como sempre na contramão das tendências, vai contabilizar no novo ciclo produtivo da oleaginosa retração em área plantada e certamente em produção. No estado de Mato Grosso, o grande produtor nacional da oleaginosa, a retração na área cultivada é dada como certa. Pelas contas do setor, serão cerca de 1 milhão de hectares (ha) a menos. Confirmado o número, a produção estadual dará um grande passo para trás, retrocedendo há quatro safras. Voltaremos ao ciclo 02/03, quando pouco mais de 4,6 milhões/ha foram plantados. Na safra foram cultivados cerca de 5,9 milhão/ha.

O recuo na cultura preocupa, pois se dará exclusivamente por questões internas -- desvalorização do dólar, alto custo logístico e endividamento do produtor -- e não por tendência de mercado, algo que afetaria todos os países produtores. Apesar da safra cheia que os Estados Unidos estão produzindo neste momento, existe um comportamento ascendente para os preços internacionais e com perspectivas de reação positiva por meio do aumento do consumo chinês e pela disseminação da produção do biodiesel. “Em agricultura, cada passo para trás deixa seqüelas, que em alguns casos serão insuperáveis”, exclama o analista de mercado da AgRural em Cuiabá, Seneri Paludo.

Ele destaca, ainda, que atravessar este período e se manter forte diante do mercado a médio e longo prazo será “quase uma missão impossível aos produtores”. “Se isso não acontecer, o melhor momento da commodity não será aproveitado pelo maior produtor brasileiro (Mato Grosso)”, completa.

O mercado acredita que a redução na área plantada da sojicultura chegará a cerca de 15%, saindo de 5,9 milhões/ha na safra atual (05/06) para cerca de 4,9 milhões/ha a 5 milhões/ha. Apesar da certeza com relação ao tamanho da área plantada, uma conjunção impede que a estimativa da produção possa ser mensurada, mesmo que às vésperas da nova safra. “Volume de chuvas, aplicação de tecnologias de plantio, ferrugem e pontualidade no plantio serão fatores decisivos à produtividade e à produção”, observa Paludo.

Levando em conta a perda de 15% da área plantada e considerando uma produtividade semelhante ao registrado na safra atual de 44,9 sacas/ha -- conforme números da AgRural --, a produção somará 13 milhões de toneladas (t), volume próximo do contabilizado há quatro safras, também. Paludo lembra que a produtividade da atual safra foi a menor dos últimos dez anos no Estado. “Sem querer fomentar o pessimismo, a produtividade poderá ser ainda menor, levando em conta a conjunção de fatores que pressionam a nova safra”.

SAFRA MAIS DIFÍCIL -- De acordo com números da AgRural, na primeira estimativa divulgada no início do mês passado, projetava-se uma redução de área de 12% -- seriam menos 700 mil/ha plantados --, passando dos atuais 5,9 milhões/ha para 5,2 milhões/ha. “Mas, pela desmotivação e falta de condições ao plantio, já acreditamos em uma redução mais significativa, de cerca de 15%”. Paludo destaca que existe um “compasso de espera” por parte do produtor, seja por problemas na safra norte-americana, reação do dólar ou mesmo dos preços internacionais por qualquer motivo, “mas infelizmente não existe mais tempo de espera disponível. Por isso acreditamos que a redução de área no Estado será por decisão voluntária do sojicultor e também por decisão involuntária”, revela.

O analista explica que até o momento a movimentação para aquisição de insumos -- o melhor termômetro para medir o apetite do produtor -- é muito baixa, visto que boa parte dos produtores sequer fez pedido. “Teremos um colapso de entrega, todos vão querer insumos ao mesmo tempo e sabemos que não haverá como atender tanta gente, com isso, o tempo de espera pelos insumos vai deixando o produtor distante do melhor período de plantio. É por isso que muitos hectares deixarão de ser cultivados de forma involuntária. Em safra de poucos recursos financeiros e tecnológicos, ninguém vai querer plantar errado para correr riscos, mesmo porque plantio tardio significa maior suscetibilidade à ferrugem”, alerta.

Paludo completa: “Pelas previsões de atraso no plantio e pela utilização de uma tecnologia mais econômica, é que considerado a produção e a produtividade, incógnitas. A princípio, a produtividade será afetada por estes fatores”. Para o analista, a nova safra terá um início bem mais complicado, se comparado ao registrado no ciclo 05/06. “No ano passado tínhamos uma safra encavalada na outra. Agora são duas!”, adverte.





Fonte: Diário de Cuiabá

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