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Internacional
Sábado - 02 de Setembro de 2006 às 06:05

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Dois anos depois do massacre na escola de Beslan, as mães das 186 crianças mortas continuam pedindo justiça e uma investigação independente do que chamam de "crime de Estado".

"O massacre foi um crime de Estado. Por isso a Promotoria concentra os seus esforços em proteger as autoridades responsáveis", disse à Efe Ela Kesáyeva, presidente da associação A Voz de Beslan, que reúne as mães das vítimas.

Em maio, a Justiça russa condenou à prisão perpétua Nurpasha Kulayev, o único terrorista sobrevivente do comando checheno que executou o massacre, no dia 3 de setembro, na Ossétia do Norte. Mas as mães não se dão por satisfeitas.

"Ele é um bode expiatório. Nenhum dos integrantes do gabinete de crise que organizou o ataque à escola foi sequer acusado", denunciou.

A associação apresentou na sexta-feira à Corte Suprema um recurso para pedir uma "revisão" da sentença de Kuláyev, protestar pelo "desamparo" em que se encontram e exigir uma "investigação judicial independente".

As mães dizem ter sido "enganadas" pelo presidente russo, Vladimir Putin, que as recebeu em audiência no Kremlin. Elas dizem que o Chefe de Estado ajuda a Promotoria em seu trabalho de "ocultação".

"É uma decisão política, já que os autênticos culpados são altos funcionários do Serviço Federal de Segurança (FSB, antiga KGB)", acusou, lembrando que Putin pertenceu ao órgão.

No dia 1 de setembro de 2004, na abertura do ano letivo, um comando terrorista checheno tomou a escola número 1 de Beslan e se entrincheirou com 1.127 reféns, em sua maioria mulheres e crianças.

Após 52 horas de seqüestro uma explosão no interior da escola desencadeou uma confusa operação de resgate na qual morreram 318 reféns, três socorristas e 10 agentes do Serviço Federal de Segurança (FSB). Duas outras vítimas morreram posteriormente. A explosão foi acidental, segundo a versão oficial. Parentes das vítimas, porém, afirmam que a operação foi detonada pelo lança-chamas utilizado pelas forças de segurança, que apostaram desde o início na violência como única solução para a crise.

A Voz de Beslan exige um processo "por incompetência criminosa" contra os membros do gabinete de crise, criado para enfrentar o seqüestro.

"Tinham que ter negociado com os seqüestradores. Essa história de que com terroristas não se conversa não vale quando falamos de crianças", opinou Kesayeva.

A comissão interparlamentar que investiga o massacre foi incapaz de emitir um relatório definitivo sobre as circunstâncias do trágico desfecho.

Um dos membros da comissão, o deputado Yuri Savielev, apresentou esta semana um relatório alternativo sobre o massacre. Seus dados contradizem a versão oficial, apontando a participação de quase 70 terroristas na operação se seqüestro.

Segundo o relatório de 700 páginas, baseado em fotos, vídeos e declarações de testemunhas, a Polícia da república vizinha da Chechênia conhecia os planos da guerrilha de seqüestrar uma escola com três horas de antecedência, mas não informou as autoridades da Ossétia do Norte.

Aparentemente, na madrugada de 1 de setembro a Polícia da localidade chechena de Shali interrogou um rebelde, que revelou os planos do comandante da guerrilha chechena, Shamil Basayev, abatido pelas forças de segurança russas em julho deste ano.

Além disso, Savielev, especialista em explosivos, afirma que um grande número de reféns morreu devido aos tiros das forças de segurança russas.

O presidente da Ossétia do Norte, Taimuraz Mamsurov, apoiou as mães de Beslan ao pedir uma nova investigação. Até agora não houve um inquérito "imparcial e equânime", avaliou.

Mamsurov, cujos filhos foram feridos no massacre, disse que "não entende" como se pode atacar uma escola ao mesmo tempo que se negocia com os guerrilheiros.

No dia 16 de agosto deste ano morreu a vítima número 333. Era uma mulher de 66 anos, que tinha ficado paralítica depois de atingida por estilhaços.

Segundo uma enquete, só 5% dos russos acreditam que as autoridades disseram toda a verdade sobre o massacre, 28% acham que elas mentem, e 50% dizem que só foi revelada uma parte do que aconteceu.





Fonte: EFE

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