E assim nasceu a Mini-Reforma Eleitoral

Três Corações, no interior de Minas Gerais, não é só a cidade do ilustre Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, é também berço da Mini-Reforma Eleitoral, que só aconteceu em 2006. Com carisma e sem muitos gastos, o atual prefeito, José Roberto de Paiva Gomes, conhecido como Gordo Dentista, se reelegeu numa campanha criativa e sem os tradicionais regalos, como bonés, camisetas ou os regalos mais escusos, como as compras de votos.

Na sua primeira investida na carreira foi o vereador mais votado de toda história política de Três Corações. Em 2000, pleiteando o cargo de prefeito, Gordo Dentista levou sua campanha de forma simplória. Sem fazer nenhum comício, sem pagar contas alheias, sem foguetes, sem cerveja, sem papéis no chão, sem pintar um muro ou colocar faixas. A campanha contava somente com um comitê (no porta-malas do carro), uma bicicleta, uma caixa de som com dois falantes de 10 polegadas, um toca fita e uma bateria de carro.

O jingle, com 4 frases, se tornou bem popular. A bicicleta transitava nos bairros levando a mensagem da campanha. A irreverência e a criatividade chamaram muita atenção dos tricordianos. Os gastos se resumiram apenas no combustível para ir às comunidades rurais, o que não ultrapassou R$1.500.

Novamente candidato em 2004, há quem diga que Gordo Dentista esperou pela vitória deitado em sua rede, debaixo de uma sombra e com muita água fresca. Enquanto isso, os adversários desesperados usavam de artimanhas e se desdobravam em showmícios, passeatas, panfletagem, carreatas ... O atual prefeito ficava em casa esperando os votos serem computados e nem precisou fazer campanha política, acreditou no trabalho desenvolvido ao longo de sua administração e a aprovação da população certamente viria na eleição.

O prefeito, que está sem partido, discursou em sua posse sobre a necessidade de trabalhar em conjunto com a Câmara dos Vereadores, independente de siglas. Três Corações tem passado muito bem, depois de então. A cidade no sul de Minas Gerais, a 287 quilômetros de Belo Horizonte. Localizada no circuito das águas, possui ótimo clima e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,773, considerado bom para cidades médias.

Entre os trabalhos diferenciados, os programas populares têm sido uma das principais características da gestão. Por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social da Criança e do Adolescente, funcionam 12 núcleos sociais para atender crianças, adolescentes e idosos. Esses núcleos oferecem alimentação, atividades terapêuticas, ocupacionais e físicas, cursos profissionalizantes, atendimento e acompanhamento à saúde. As famílias cadastradas recebem atendimento domiciliar de médicos e psicólogos e recursos do programa Bolsa Família.

Além disso, conta, ainda, com o Benefício de Prestação Continuada, para idosos e portadores de deficiência. O prefeito Paiva Gomes e seu vice, Edson Toyoshi Chiba, estão à frente de uma administração que, com recursos próprios, sem verbas federais nem estaduais, está tirando das ruas cerca de 1.500 crianças e adolescentes de baixa renda. “Muitas vezes, um buraquinho de rua pode esperar um pouco para ser consertado, mas a fome não pode esperar para ser combatida”, disse o prefeito.

Enquanto a cidade mineira caminhava em frente, o Brasil se perdia entre Sanguessugas e Mensalões. As campanhas eleitorais, feitas no melhor estilo hollywoodiano, só serviram para da o pontapé inicial a interminável série de corrupções, que, em efeito dominó, vem derrubando município por município, do Oiapoque ao Chuí. Todavia, o último pontapé que esses mineirinhos comemoraram foi o Rei Pelé, iniciando o jogo entre Alemanha e Costa Rica, na Copa do Mundo de 2006.

* Thaís Raeli é jornalista, carioca, formada na Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro. Atualmente é repórter do jornal Mato Grosso Popular, trabalha com assessoria e é correspondente de uma revista em sua cidade natal. Contato: jornalistha@gmail.com