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Economia
Terça - 13 de Junho de 2006 às 10:23

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Informações do mercado e de consultorias brasileiras, que assessoram multinacionais interessadas em investir na cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, ouvidas pela Agência Meios, revelam que, do total dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro, algo em trono de 30% virá da União Européia. Um exemplo de que os países da União Européia estão de olho no agronegócio brasileiro é a decisão do Actis, um fundo de investimento ligado ao governo do Reino Unido, de investir no Brasil no setor de energia renovável, como produção de etanol e biodiesel. O patrimônio do fundo britânico é de US$ 3 bilhões.

"Ao contrário dos próprios brasileiros, o investidor estrangeiro analisa o agronegócio brasileiro, a médio e longo prazo. Por isso, eles sabem que destinar recursos em projetos do setor significa garantia de retorno", afirma o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), João de Almeida Sampaio Filho.

Como exemplo, ele conta que a SRB tem sido procurada por representantes de fundos internacionais de investimentos norte-americanos e europeus interessados em prospectar negócios no Brasil, desde a aquisição de terras, parceria em empreendimentos agroindustriais, em logística e infra-estrutura para o agronegócio.

De acordo com o presidente da SRB, esses fundos enxergam no Brasil um grande, se não o maior, fornecedor mundial de alimentos e energia no futuro. O presidente da SRB revela que setor sucroalcooleiro e o de reflorestamento tem sido o principal foco de prospecção dos investidores estrangeiros.

"Um fundo de investimentos norte-americano, por exemplo, comprou recentemente a Destilaria da Cooperativa dos Produtores de Cana-de-açúcar de Naviraí (Coopernavi). Essa foi a primeira aquisição de investidores norte-americanos no setor sucroalcooleeiro brasileiro", diz Sampaio. Os americanos pagaram R$ 244 milhões pela unidade que processa dois milhões de toneladas de cana-de-açúcar e produz 500 milhões de litros de litros de álcool por safra.

"Outro exemplo, a Adelgo que comprou a Usina Monte Alegre em Belo Horizonte, é um fundo americano que tem investimentos na Argentina e no Brasil no setor de proteína animal, frango e suínos, e agora sucroalcooleiro. Esse pessoal está vindo interessado em investir no Brasil", informa Sampaio.

Para Eugênio Stefanello, um dos maiores especialistas em economia rural do país, o recente relatório divulgado no final de maio pela Organização Internacional do Açúcar (OIA) explica o interesse das multinacionais em investirem no setor sucroalcoleeiro do Brasil. De acordo com Stefanello,o relatório da OIA deixa claro que o Brasil, em 2011, irá dominar 50% do mercado internacional de açúcar e álcool.

"O estudo "Novos Investimentos e Capacidade do setor de açúcar e álcool no Brasil" revela que o Brasil, como maior produtor mundial de açúcar e álcool, está aproveitando a onda dos altos preços internacionais das duas commodities e estabeleceu um programa ambicioso de expansão de sua indústria", diz o especialista. Segundo a OIA, as receitas totais das vendas externas brasileiras de açúcar e etanol já se rivalizam com a soja.

As projeções da OIA mostram que a participação brasileira nas exportações mundiais de açúcar deve chegar a 50% em 2011. Hoje o Brasil já responde por 40% das vendas mundiais de açúcar. "A participação do Brasil no mercado de exportação de açúcar deve crescer para cerca de 50% em 2010/11, em comparação aos 40% atuais", prevê o estudo.

Commoditie do Século 21

Depois de lembrar que o Brasil é o maior produtor mundial de álcool combustível do mundo, o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues garante que país também tem uma grande diversidade de fontes para produção de biodiesel, como soja, girassol, mamona, dendê e babaçu. Isso, em seu entender, tem despertado a atenção de outros países e grupos privados interessados em investir na geração de etanol e biocombustíveis.

"Hoje, o país tem seis milhões de hectares de cana-de-açúcar, mas pode plantar mais 20 milhões. A área plantada de soja, que é de 22 milhões de hectares, pode aumentar mais 20 ou 30 milhões de hectares", diz Rodrigues.

Na opinião do ministro, o Brasil não pode perder a oportunidade histórica de se transformar na principal plataforma de energia renovável do mundo. Para tanto, o governo federal estabelecerá parceria público-privada para investir pesado em pesquisas voltadas ao setor agroenergético.

Após criar em Piracicaba, interior de São Paulo, o Pólo de Biocombustíveis, em conjunto com a Escola Superior de Agricultura ¿Luiz de Queiroz¿ (Esalq), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou recentemente a instalação do Centro de Agroenergia da Embrapa.

"O governo federal vai investir R$ 10 milhões na instalação do centro de alta tecnologia da Embrapa", informou Rodrigues. Essa unidade da estatal será rodeada por um consórcio formado pela própria Embrapa, Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Ciência e Tecnologia, Itaipu Binacional, Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco do Brasil, além de universidades e empresas do setor privado. De acordo com o ministro, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também está interessado em fazer investimentos no Brasil para incentivar o desenvolvimento de pesquisas em biocombustíveis.

Eles estão chegando

Nos últimos três meses, emissários de multinacionais americanas e européias, japonesas e coreanas têm vindo ao Brasil para manter contatos com usineiros e o alto escalão do governo. O objetivo desses encontros tem sido um só: mostrar a disposição das transnacionais de investir sozinhas ou em parcerias com empresas locais na agroenergia brasileira.

Exemplo mais recente é a missão da Coréia do Sul, formada por representantes do governo e do setor privado, que se encontra no Brasil desde o dia 29 de maio. Segundo o analista de comércio exterior da Secretária de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI), Artur Teixeira, o objetivo da visita é estreitar as relações entre os dois países.

"É uma missão de prospecção de investimentos. A delegação veio ao Brasil levantar oportunidades do agronegócio para repassar aos investidores coreanos. Eles pretendem fomentar os investimentos no Brasil", explicou Teixeira. Na segunda-feira (6) os coreanos visitaram a União da Indústria Canavieira de São Paulo (Unica) em busca de informações sobre a produção brasileira de açúcar e etanol. A delegação conhecerá ainda fazendas de cana de açúcar e criações de gado em Ribeirão Preto (SP) e Petrolina (PE).

Em 2005, o agronegócio brasileiro respondeu por 32,6% das exportações totais para a Coréia do Sul, alcançando US$ 619 milhões. Nos últimos cinco anos, as exportações brasileiras para o país asiático cresceram mais de 200%. Este incremento posicionou a Coréia do Sul como o 16º mercado de destino das exportações do agronegócio nacional.

Agricultura energética

O Japão já anunciou que pretende investir pesado nos projetos de agroenergia desenvolvidos pelo Brasil. De acordo com o Mapa, até outubro os governos brasileiro e japonês irão assinar contrato que prevê investimentos da ordem de R$ 1,286 bilhão do Banco de Cooperação Internacional do Japão (JBIC) no Programa Brasileiro de Agricultura Energética, envolvendo projetos de etanol e biodiesel.

"A aplicação dos recursos deve começar em abril de 2007", informou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, após reunião, realizada na última quinta-feira (01), na qual foi apresentado o estudo piloto para formação de projetos. O exemplo da Coréia do Sul e Japão mostra que os investidores internacionais têm pressa. Não querem perder o lugar no trem da agroenergia, a commodity do século 21. E o Brasil, para os especialistas, tem tudo para ser a locomotiva nesse sonho da humanidade, que é encontrar uma nova alternativa energética ao petróleo.

A tecnologia brasileira para a produção do etanol, a partir da cana-de-açúcar, é tida por esses investidores como a maneira mais barata e, portanto, mais competitiva para que o álcool, a médio e longo prazo, seja uma opção em relação ao petróleo.

E para os especialistas, só com a internacionalização do setor sucroalcooleiro é que o país terá condições de fazer frente aos investimentos necessários para garantir seu lugar como o maior produtor e exportador mundial de álcool e cana-de-açúcar. E há mercado para absorver a atual e a futura produção brasileira.

O ministro Rodrigues disse à Agência Meios que a internacionalização é um processo natural do setor sucroalcooleiro do país, em razão dos altos investimentos que o setor terá que fazer nos próximos anos.

O ministro prevê que nos próximos oito a dez anos, o Brasil terá que acrescentar à produção de cana mais de 230 milhões de toneladas por causa da demanda interna e externa do etanol e açúcar. Além disso, nesse mesmo período terão que ser construídas mais 73 usinas.

"Calculamos que a indústria vai demandar US$ 6 bilhões, aproximadamente. E a agricultura outros US$ 3 bilhões. É coisa entre US$ 9,5 bilhões e US$ 10 bilhões em cinco ou seis anos. É um desafio portentoso alocar esses recursos. Então precisa da área privada, que está razoavelmente capitalizada, mas tem que ter financiamentos internos e externos", disse o ministro. Diante desse quadro, Rodrigues acha que esse é um setor que vai ser, de alguma forma, internacionalizado.

"Vai ter capital estrangeiro também, já há hoje três ou quatro usinas vendidas para empresas estrangeiras e acho que vai ter um crescimento porque é um mercado que ficou altamente atraente para produtores capitalizados do mundo inteiro", afirmou o ministro.

As previsões do Mapa para o etanol, referentes à produção, consumo e exportação refletem o dinamismo desse produto devido ao crescimento do consumo externo e as exportações de etanol. A produção de etanol projetada para 2015 é de 36,8 bilhões de litros. A Secretaria de Produção e Agroenergia do Mapa estima que em 2015 o consumo interno será de 28,4 bilhões de litros e as exportações estarão em 8,5 bilhões de litros/ano.





Fonte: Clube do Fazendeiro

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