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Economia
Sábado - 08 de Abril de 2006 às 13:41

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As dúvidas com relação ao futuro do abastecimento de gás boliviano ao Brasil estão deixando cicatrizes no mercado que se forma em volta da commodity, gás natural. Para executivos que atuam no setor “o momento é comercialmente, economicamente e politicamente delicado”. Em entrevista ao DIÁRIO, o diretor presidente da Empresa Produtora de Energia LTDA (EPE) - Usina Termelétrica Governador Mário Covas - ou "Cuiabá I", Carlos Baldi, frisa que no momento, por mais que haja uma radicalização do governo boliviano – considerando a suspensão do fornecimento de gás – a paralisação da usina está descartada e que desde já alternativas estão sendo estudadas.

“Não quero fazer com meus clientes o que podem fazer comigo”, argumenta o diretor ao se referir a uma possível quebra de contrato por parte da Bolívia. Também sem detalhar, Baldi diz que a implantação da usina Cuiabá II não está abandonada.

A solução para manter o fornecimento aos clientes da EPE, como Furnas, seria a substituição da matriz energética gás natural pelo óleo diesel. Mas o próprio Baldi aponta que a opção ficaria pelo menos quatro vezes mais cara, se comparada aos custos para geração de energia pelo gás.

Uma outra alternativa apontada seria – caso o pior aconteça – lançar mão de um processo arbitral, instrumento utilizado quando há quebra de contrato nas relações internacionais. Em suma, serve para solucionar conflitos de mercado em instância internacional.

O diretor presidente não entra em detalhes sobre os valores pagos a commodity pela EPE, mas destaca que existe a preocupação com relação ao reajuste nos preços do gás boliviano. “Será um aumento que se transformará em bola de neve. Ao mesmo tempo que aumentam o preço do insumo (o gás), fica inevitável o aumento ao produto energia, aos nossos clientes. Se isso acontecer, haverá uma longa jornada de negociações pela frente”.

CONDIÇÃO – A EPE opera há cinco anos e restam ainda mais 15 anos de contrato. Baldi é cauteloso a falar sobre este assunto e apenas conta que tem contrato com uma empresa que opera no mercado boliviano e não cita mais detalhes. Questionado sobre o período de renegociação do contrato atual, ele conta que isso acontece em geral, cerca de dois anos antes do vencimento.

A EPE tem contrato para utilização de 2,1 milhões de metros cúbicos (m³) por dia, mas utiliza atualmente cerca de 500 mil m³/dia. Isso ocorre porque ao invés de operar com a capacidade máxima instalada de 480 MegaWatts (MW)/dia, o operação está na carga mínima de 135 MW/dia.

MERCADO – Há 15 anos inserido no mercado de energia, Baldi explica que as incertezas relativas ao gás natural boliviano – do qual Mato Grosso e Brasil dependem – estão travando negociações para novos investimentos. “Este é um segmento que necessita de sinalizações a longo prazo. Os investimentos são de grande porte e sem um marco regulatório e sem formatação de preços, não há como haver definições. Apesar dos bolivianos deixarem claro que querem mudanças, como por exemplo a estatização do gás, eles não dizem como isso vai acontecer e com esta dúvida vivemos um momento delicado”.

O diretor presidente frisa que a Bolívia é um país que carece de investimentos e de construção de ativos dentro de seu território. “Eles (bolivianos) querem agregar valor ao produto gás, como por exemplo, comercializar a energia produzida por uma térmica, ao invés de comercializar a commodity”. Ele completa dizendo que a grande preocupação com relação a sinalização de estatização por parte do país vizinho é que “isso envolve expectativa, pois é fruto de promessa de campanha do presidente boliviano Evo Morales”.





Fonte: Diário de Cuiabá

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