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Economia
Terça - 14 de Março de 2006 às 06:50

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Os sindicatos rurais pediram e a coordenação do Enipec 2006 atendeu: uma das palestras do evento será sobre a relação de mercado entre frigoríficos e pecuaristas. No questionário que a organização do Enipec enviou aos sindicatos por e-mail, grande parte dos produtores solicitou que houvesse palestras sobre a comercialização da carne bovina com enfoque na situação atual do mercado. Idéia aprovada, a coordenação buscou um especialista em análise do setor para falar sobre o assunto. O nome escolhido foi o do analista de mercado pecuário, Júlio Brissac, crítico ferrenho da forma como a crise de febre aftosa está sendo conduzida por governos, frigoríficos e, inclusive, pela mídia. O Enipec 2006 - Encontro Internacional dos Negócios da Pecuária - será realizado de 7 a 12 de maio, em Cuiabá (MT).

Que o público não se engane pelo título da palestra: “Perspectivas de produção dentro da propriedade: custos, mercado e gerenciamento”. Brissac promete fazer uma apresentação repleta de exemplos que ilustram a visão, segundo ele, “supervalorizada” da crise, e condutas supostamente orquestradas para gerar um medo generalizado de perda do mercado internacional e forçar a redução dos preços pagos ao pecuarista. A análise começa pelo espaço ocupado pelos frigoríficos no mercado: “oitenta por cento dos frigoríficos exportadores têm entre 70% e 80% da produção anual voltada para o mercado externo. Há pouco interesse quanto à expansão do mercado interno”, cita.

O consultor vê com desconfiança situações que, para ele, não podem ser meras coincidências. Uma delas é a descoberta de focos de aftosa no mês de outubro, quando as exportações de carne começam a se encerrar devido ao fechamento dos portos europeus no inverno, principalmente os da Rússia, que é porta de entrada de grande parte dos contêineres de carne brasileira. Do início deste período até a retomada do envio de produtos do Brasil para o mercado internacional, a Organização Internacional de Epizootias (OIE) avalia se o exportador terá a licença renovada. Além disso, cita o consultor, os bancos internacionais, grandes financiadores do mercado frigorífico, pressionam as empresas a garantir que comprarão matéria-prima barata, no caso, a carne.

Na análise, Brissac avança para a mídia e expõe situações que, segundo ele, mostram uma visão errônea do problema. “Chegou a ser divulgado o bloqueio de alguns países que sequer compram do Brasil”, afirma. O discurso que Brissac critica não seria exclusividade do Brasil. Para o analista, a recente descoberta de focos de aftosa no rebanho argentino está sendo tratada da mesma forma e é movida pelos mesmos interesses. “O vírus da Argentina é do tipo D, de Decreto”, ironiza.

Mesmo atacando frigoríficos e governos, não deixa também de cutucar o outro lado. “O produtor tem que repensar essa pecuária. Ele peca na questão comercial”, opina. O posicionamento de parte dos pecuaristas do Paraná, que questiona a ocorrência de focos de aftosa, seria uma das atitudes que ilustra como deveria ser o comportamento dos produtores brasileiros. “Isso é um case novo para a pecuária. É um dado histórico”, vibra.





Fonte: Enipec

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