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Economia
Sábado - 25 de Fevereiro de 2006 às 06:51
Por: Marianna Peres

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Contas que não fecham e recomposição que não traz alívio. Parece que foi ontem, quando as primeiras luzes amarelas começaram a se acender no campo. Passado um ano e meio, o discurso pela implantação de uma política agrícola permanece, porém nesta segunda safra fadada ao prejuízo, produtores denunciam que os custos de produção não seguiram a trajetória de queda do dólar, as dívidas encavalaram de uma safra para outra e somente neste começo de ciclo a sojicultura no Norte do Estado revela perdas de 30% para o produtor.

Com um cenário onde a recuperação da relação de troca não é observada, produtores afirmam que não haverá renda para pagar contas da safra atual e passada, o que acaba tornando nula a proposta de recomposição das dívidas anunciada pelo Banco do Banco (BB) no início deste mês.

O principal entrave para aceitação das regras apresentadas pelo BB são as taxas de juros. Com saldo devedor indexado pelo Índice de Reajuste da Poupança (IRP), mais juros mensais de 1% ou 1,3% e parcelado em cinco anos, uma dívida de R$ 200 mil ao final do período de pagamento ficará em R$ 328,77 mil, segundo a simulação de renegociação apresentada pela Famato ontem. (Veja quadro ao lado)

Para os ruralistas estaduais a medida não resolve o problema, “é paliativa, pois atinge apenas a questão da inadimplência e não colabora para uma recomposição da dívida, pois falta renda no campo”, aponta o presidente da Famato, Homero Pereira. E completa: “Nesta simulação, quem deve R$ 200 mil está pagando somente de juros R$ 128,27 mil, cifras que equivalem a 80% do valor devido”. Com a entrada de pelo menos 20%, o saldo devedor fica em R$ 160 mil. Apesar do descontentamento, a entidade avisa que não incentivará ninguém a aderir à renegociação e tão pouco a desestimulará.

Além disso, a Famato explica que mesmo reconhecendo o esforço do BB em viabilizar uma saída para a recuperação dos R$ 960 milhões devidos por 2,5 mil, referentes ao custeio e financiamento da safra 04/05, a maior parte dos pleitos do setor não foram atendidos, como a retirada das multas e juros por inadimplência, manutenção das garantias e juros iniciais. “Pelo contrário, as garantias foram reforçadas, o juro de inadimplência está sendo cobrado e a taxa de juros acompanha o mercado, oscilando entre 15% e 20%”, revela Pereira.

O produtor Jaime Coradini, de Primavera do Leste (239 quilômetros ao Centro Leste de Cuiabá), conta que foi procurado pelo BB para efetuar a recomposição do saldo devedor. Sem revelar cifras, ele conta que para manter os juros de 8,75% teve de dar como entrada cerca de 45% do saldo devedor. Nesta safra ele reduziu em 35% a área plantada, ao se desfazer de arrendamentos, e planeja para safra 06/07 ter redução total de 50%.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Rui Ottoni Prado, frisa que com perspectivas de excesso de oferta no mercado, valorização do real frente ao dólar e a falta de uma política agrícola que garanta rentabilidade, “a safra 06/07 sofrerá reduções drásticas”, alerta, sem arriscar percentuais.

Comparando a safra estadual 04/05 com 05/06, há redução de cerca de 9% na área total, que passou de 8,55 milhões/ha para 7,78 milhões/ha. No mesmo ritmo segue a produção, que deverá passar de 24,30 milhões de toneladas (t) para 21,67 milhões/t.





Fonte: Diário de Cuiabá

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