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Repórter News - reporternews.com.br
Polícia Brasil
Sexta - 16 de Dezembro de 2005 às 14:03
Por: José Ribamar Trindade

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Não são poucos os menores - praticamente meninos -, mortos e os envolvidos em assassinatos este ano e em anos anteriores em Cuiabá e Várzea Grande. Em alguns casos os garotos que matam já são reincidentes em crimes de homicídio, e as vítimas não são menores de ruas, mas sim crianças delinqüentes, cujas famílias não sabem o que fazer. A última vítima, o garoto João Carlos Duarte, o “Jony”, tinha apenas 12 anos de idade. O menor teve a cabeça e o rosto deformados a pedradas. “Jony” era envolvido com uso de droga, mas em algumas vezes fazia o papel de “avião”, ou “aviãozinho” – aquela figura paga pelo tráfico para passar droga -, cujo final é sempre o mesmo: a morte.

Alguns homicídios registrados pela Polícia aparecem como crimes debitados a brigas de gangues, mas que na realidade é apenas uma fachada para encobrir a realidade. Por trás está o tráfico de drogas. Foi assim com centenas de menores assassinados nos últimos dez anos na Grande Cuiabá. A maioria foi vítima de execução, uma espécie de pena de morte decretada pelos líderes de um crime, segundo a própria Polícia, “não tão organizado”, mas capaz de tirar de circulação quem ousa atrapalhar os lucrativos negócios: o tráfico.

A Polícia sempre evita falar sobre menores, principalmente depois que ele morre, mesmo que o garoto esteja envolvido em crimes de morte, roubos e tráfico de drogas. A realidade, no entanto, não pode ser deixada de lado, pois muitas vezes também ajuda a salvar vidas e a tirar meninos e meninas do submundo.

O então pequeno Thiago - nome fictício -, na época com 11 anos, conta que fugiu da casa dos pais no Tijucal em 1994, depois que viu o corpo de “Talinha”, um garoto de 15 anos ser retirado em estado de decomposição de dentro da Lagoa Paiaguás – hoje ao lado da sede da Assembléia Legislativa, no bairro do mesmo nome, em Cuiabá -, palco de inúmeras cenas de assassinatos nos últimos anos.

Hoje com 22 anos, Thiago conta com exclusividade à reportagem do Site 24 Horas News como ele conseguiu sair do submundo em que começava a entrar, mesmo sem saber em que direção estava indo e onde iria parar. “Eu não tinha noção, sequer dos perigos que corria. Me envolvi com alguns grupos de meninos de minha idade até os 15 anos e não parava em casa. Comecei a usar maconha e já havia participado de dois furtos quando o Talinha sumiu. Dias depois eu o vi sendo retirado da água. Foi horrível”, conta.

Onze anos depois, Thiago é outra pessoa, um jovem desconhecido da comunidade do bairro Tijucal, até porque se mudou para outra região de Cuiabá. Ele garante que a vida dele mudou radicalmente para melhor, graças ao medo que sentiu ao ver o corpo de “Talinha” sendo retirado das águas. Thiago sentiu ainda mais medo depois que ficou sabendo que muitos garotos como ele estavam com seus nomes em uma lista de “marcados para morrer”.

“Fui para minha casa e pedi para meus pais que me mandassem para casa de meus avós em outro bairro. Lá eu contei tudo para minha avó, inclusive de que estava com muito medo de morrer. Recebi apoio total de minha família, que na época já sofria com os meus sumiços de casa e voltei a estudar. Conclui meus estudos e hoje sou um profissional. Trabalho, ganho um salário relativamente bom, já penso em me casar e ter filhos”, conclui.

Outros meninos, no entanto, não têm ou não tiveram a mesma sorte do pequeno Thiago. Os pais, mesmo separados de ”Tony”, por exemplo, lutaram para resgata-lo do submundo, mas não conseguiram. Hoje ele está morto.

“O pai do Tony, que conseguiu a guarda dele depois da separação da esposa, tentou de todos os jeitos salva-lo, mas não conseguiu. Ele sempre fugia de casa para usar droga na rua. O pai ia atrás, o trazia de volta, mas ele sempre estava de volta ao submundo, como se fosse um destino”, conta a investigadora Aparecida Behmer (Cida), chefe de operações da Delegacia de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP).




Fonte: 24 HorasNews

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