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Segunda - 28 de Novembro de 2005 às 09:48
Por: Rodrigo Vargas

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Seis anos após o fechamento das comportas, cinco desde o início do mais minucioso estudo já realizado sobre a biologia pesqueira em Mato Grosso, o Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura, da Universidade Estadual de Maringá (Nupelia/UEM), ainda não tem a resposta definitiva sobre o impacto da Usina Hidrelétrica de Manso nos estoques pesqueiros da região atingida.

O relatório final da pesquisa “Biologia Pesqueira e pesca na área de influência do APM Manso”, concluído recentemente, aponta para um reflexo menor do que aquele antecipado pelos críticos da obra, mas não se arrisca a contradizer a tese da crescente escassez de peixes – denunciada pelos pescadores profissionais.

“Em um reservatório de cabeceira, como é o caso de Manso, o impacto é certamente menor do que aquele registrado quando a barragem corta ao meio a área de migração”, assegurou, por telefone, o biólogo e doutor em Ecologia, Angelo Antônio Agostinho, coordenador do estudo. “Por enquanto, podemos dizer que os impactos não foram muito significativos”.

Contratado por Furnas Centrais Elétricas, que assumiu a construção da usina a partir de 1999, o Nupelia empregou mais de 30 especialistas na tarefa de determinar os efeitos do fechamento das comportas sobre o ciclo reprodutivo e a oferta de pescado em uma área que abrange o reservatório e se estende até as baías de Siá Mariana e Chacororé.

Mas, desde o início, faltava ao grupo dados de referência. Nunca houve levantamento semelhante no período anterior à implantação da usina – falha atribuída à gestora anterior, Eletronorte. “Não temos dados para comparar. Não sabemos, por exemplo, o número de pescadores e esforço de pesca que então havia. Tudo o que temos se refere ao espaço entre 2000 e 2004”, diz o professor.

Neste intervalo de tempo, o estudo pode ser dividido em duas linhas distintas. A primeira diz respeito ao período imediatamente posterior ao fechamento da barragem, quando a súbita retenção do volume de água para o enchimento do lago, em um momento de forte estiagem, interrompeu o fenômeno da lufada – a saída para a calha do rio dos peixes que se encontravam nos alagados.

“A lufada praticamente não existiu em 2000 e 2001. Certamente houve alguma participação da usina neste processo, mas também é preciso lembrar que aquela foi uma época de seca generalizada que, inclusive, levou o país ao apagão”, aponta Agostinho.

De acordo com o pesquisador, a geração afetada por estes ciclos incompletos levaria entre três e até seis anos para atingir o tamanho mínimo de captura. “Somente a partir de agora começaremos a obter respostas sobre o efeito daqueles dois primeiros anos de falta d’água”, diz Agostinho, que anuncia para 2006 o início deste novo levantamento.

VAZÃO - O segundo caminho da pesquisa é o que considera os anos de 2002, 2003 e 2004, quando, a partir do enchimento do lago e o funcionamento regular das turbinas, começou a entrar em vigor outro polêmico componente do empreendimento: o controle de vazão do rio Cuiabá.

O temor de alguns especialistas era de que a interferência humana sobre o ciclo natural de cheias e secas da região fosse comprometer o processo reprodutivo das espécies. Mas até o momento, de acordo com o estudo, isso não ocorreu.

“Desde 2002, temos registrado locais de intensa desova de peixes migradores tanto no rio Manso quanto no Cuiabazinho. Sabemos que de nada adiantaria a desova se não houvesse a cheia no momento certo. Mas isto também vem ocorrendo ano após ano”.

Embora insista em não se contrapor aos pescadores, Agostinho acredita que os relatos positivos sobre o passado da atividade podem ser fruto de uma espécie de memória seletiva. “A tendência dos pescadores é lembrar somente dos grandes picos de captura. Mas não dá para dizer, por conta da ausência de dados anteriores, que eles não tenham razão”.





Fonte: Diário de Cuiabá

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