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Politica Brasil
Segunda - 28 de Novembro de 2005 às 09:44
Por: Marcos Lemos

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Estreante na política e cumprindo seu primeiro mandato numa das maiores cidades de Mato Grosso, o empresário Adilton Sachetti, prefeito de Rondonópolis, 220 quilômetros de Cuiabá e reduto político do governador Blairo Maggi, disse que a eleição de 2006 será o divisor de águas e que o povo não vai esquecer de todo o processo de transformação que está passando, principalmente por causa da corrupção. “Não tenho dúvida que muitos monstros sagrados da política nacional vão cair nas próximas eleições”, acrescenta.

Sachetti frisa que Blairo Maggi tem tudo para ser novamente governador de Mato Grosso, só que essa não é uma missão fácil e não pode ser feita sozinha, pois tem que haver a participação de outros partidos e daqueles políticos comprometidos com a filosofia do social, de se fazer pelo conjunto da sociedade e não por grupos.

Ele admitiu que a situação econômica do município não é boa e isso é decorrente da falta de uma cultura que permita ao poder público executar as funções que lhe são de competência. “Tenho uma procuração para administrar, gerenciar as coisas públicas, mas essa é uma prerrogativa da própria população, que tem instrumentos e maneiras de cobrar e exigir que as coisas sejam feitas corretamente”, explicou.

Diário de Cuiabá – O senhor iniciou o mandato em janeiro deste ano com medidas duras e deverá tomar outras mais duras ainda. Qual é o problema?

Adilton Sachetti – O contexto político é a forma de agir. As atitudes são pensadas politicamente e isso não traz mudança de conceito, pelo contrário, a satisfação pode até ser imediata, mas os resultados são ruins. As tradições de acertos e aceites quando se abre uma concessão que não utiliza critérios corretos leva à situação que hoje todo o poder público passa, ou seja, dificuldades, compromissos intermináveis e recursos minguados.

Diário - Mas o que acontece no poder público que o diferencia tanto do setor privado?

Sachetti – A cultura do faço alguma coisa em troca de algo tem que acabar. Seja pelo voto, por favor, benefício ou qualquer outra coisa. Quando somos eleitos, o fazemos diante de uma proposta e a nossa é focalizada no coletivo e não no individual.

Diário - O senhor já falou em corte de gastos, corte orçamentário, contingenciamento de recursos e já começa a admitir a possibilidade de ter que demitir para enfrentar a crise. Por que Rondonópolis chegou a essa situação?

Sachetti – O cachimbo entorta a boca. Quando se fuma apenas de um lado a tendência é que você fique com a boca torta. Os problemas são decorrentes de uma série de medidas que deveriam ser tomadas e não foram adotadas e agora os reflexos estão aqui.

Diário - Mas o senhor assumiu uma prefeitura municipal de um aliado, o ex-prefeito Percival Muniz.

Sachetti – Olha, são estilos diferentes. O que eu considerei que ele vinha fazendo acertadamente teve continuidade, o que não concordo, mudo. Se levarmos em consideração a questão do funcionalismo público, foram garantidas, no passado, vantagens que não deveriam ter sido colocadas, pois elas são restritas a um determinado grupo e não à maioria, sem pensar nos reflexos, e hoje a maioria do poder público, seja estadual, municipal e federal, se encontra engessado quanto a isso.

Em Rondonópolis, a folha de pagamento cresce 8% ao ano, tendo ou não tendo aumento, e isso ao meu ver não condiz com a realidade econômica do município. Isso tira nossa capacidade de investimento.

Diário - Os administradores públicos correm o risco de se tornarem gestores apenas de folha de pagamento?

Sachetti – Alguns já são. Ou se muda isso ou a situação vai ficar insustentável. Nossa Constituição Federal é pródiga em assegurar direitos, mas em deveres, nada. Os direitos começam sem ter os deveres assegurados. A sociedade é uma, um todo, mas apenas para cumprir os deveres, os direitos são para poucos. O direito de um bom salário no poder público se reflete no dever de outros pagarem impostos, mas esses outros muitas vezes não têm saúde de qualidade, educação de nível, segurança integral, entre outros benefícios. Há um choque de interesses entre o coletivo e o individual que deve ser repensado. Não quero com minhas palavras condenar nada, ninguém, nem benefícios de certas categorias, pois não conheço as nuances que levaram à tomada de decisões que beneficiaram este ou aquele outro, mas agora é necessário e imperioso mudar isso.

Diário - Rondonópolis não tem crescido economicamente?

Sachetti – Claro que sim, e cresce muito. Mas o crescimento das riquezas, da situação econômica, leva também ao aumento das demandas sociais. Uma coisa vem junto com a outra, e as demandas sociais crescem muito mais do que a economia. Para se ter uma idéia, na minha juventude, há 30 anos, 70% da população estava no campo; hoje, só 25%, e o restante se encontra nas cidades, abarrotadas de problemas e de dificuldades.

Diário - O fato de o senhor ser amigo pessoal e prefeito da cidade do governador Blairo Maggi o ajuda?

Sachetti – Pelo contrário, temos o mesmo tratamento que os demais. O governador é uma pessoa ética, mas ele não vê Rondonópolis isoladamente e sim como um município [que é] parte de outros 140. Estamos no mesmo nível dos outros municípios.

Recebemos aquilo que nos é de direito, sem privilégio ou vantagens. Se solicitamos é porque merecemos enquanto cidade e enquanto população.

Diário - Na questão do Índice de Participação dos Municípios (IPM), Rondonópolis vai cair ou crescer?

Sachetti – Vamos crescer, porque a economia de Rondonópolis está crescendo. Basta olhar para o Grupo Bunge que neste ano investiu U$S 100 milhões em Rondonópolis, isso vai se refletir na definição do IPM. E olha que esse investimento vai agregar novos faturamentos. Rondonópolis esmaga 10 mil toneladas de soja e este número vai aumentar. Temos na cidade a maior frota de “tri-minhão” (carreta dupla) do Brasil e novas transportadoras estão se instalando. Então, são indústrias de médio e grande porte que estão girando a economia, aquecendo o comércio e alavancando o crescimento econômico.

Diário - Com esse crescimento ainda dá para se falar em crise?

Sachetti – Se tenho um incremento de arrecadação e de população, tenho um incremento de serviço e a demanda do município aumenta. Por exemplo, estou com três PSF – Programa de Saúde na Família - e isso exige recursos e pessoal. Não queremos demitir ninguém. Vamos reabrir esse serviço e vamos remanejar alguns funcionários, ou seja, serão dispensados daqui para desempenharem outra função lá. Estamos melhorando a performance para evitar a demissão. Agora, isso também depende da questão financeira. Em último caso, não havendo melhora, podemos até demitir, mas numa última cartada. Mecanismo de demissão só em cargos extremamente difíceis.

Diário - Prefeito, a arrecadação tem caído?

Sachetti – Em janeiro arrecadamos R$ 10,5 milhões, fomos para R$ 12 milhões, depois para R$ 13 milhões, chegamos em R$ 13,8 milhões em maio, de lá para cá, somente queda na arrecadação. Neste último mês atingimos R$ 10,3 milhões, ou seja, menos do que no primeiro ano de nossa administração. Nossa economia vem de produtos primários, o setor se encontra em crise e isso tem afetado a todos, Estado e municípios.

Diário – Como empresário o senhor se sente satisfeito em pagar impostos?

Sachetti – Hoje eu vivo o outro lado da moeda. Sei que ninguém gosta de pagar impostos. Não há consciência fiscal e tínhamos que criá-la em todo o Brasil. E para piorar, o poder público aplica de forma errada, ou seja, gasta desnecessariamente os recursos do imposto e isso afasta ainda mais o contribuinte. Você acredita que na atual situação política do Brasil alguém se sente confortável em pagar impostos? A resposta é não. Agora, some a isso a sonegação e o custo pesado da máquina administrativa, isso tudo afasta ainda mais o contribuinte do pagamento de suas obrigações. E digo mais: reverter este quadro, só quando a população ver os resultados, do contrário é falácia. Acho difícil encontrar alguém que goste de pagar imposto no Brasil.

Diário - Mas o senhor acha que a carga tributária é alta?

Sachetti – Isso eu não tenho dúvida. Mas é alta por causa da ineficiência do gasto público e por causa da destinação da maior parte para pagamento de dívidas e de salários. Por exemplo, você não vê o produtor reclamar do pagamento do Fethab (Fundo Estadual de Transportes e Habitação), porque está vendo o asfalto, as casas e outros investimentos mais, então os reflexos são favoráveis. O empresário não reclama do pagamento do Imposto de Renda, porque ele paga sobre o que ele ganha, então se ele paga mais é porque está ganhando mais. Agora, o resto é pesado mas é necessário para se manter os investimentos. Do total do orçamento de Rondonópolis, apenas 2% são investimentos, o restante são dívidas e salários, e isso é um absurdo que nós vamos mudar.

Diário - E como fica a relação com a população em relação às cobranças de impostos?

Sachetti – Olha, eu propus e consegui aprovar um aumento de 70% na taxa de água e isso não representou crescimento na inadimplência. Fui e enfrentei os contrários, debati e provei que o maior prejudicado com um colapso no sistema de água é a população mais necessitada, porque quem tem condições se vira. O resultado é que não vai faltar água de boa qualidade e, principalmente, estamos prontos para atender todas as reclamações.

Diário - Prefeito, como será o futuro do PPS?

Sachetti – O PPS de Mato Grosso é referência nacional, graças ao governo Blairo Maggi e às políticas implementadas. Agora, não podemos cometer o erro de falar demais. Na política, no afã de conquistar o voto, os partidos prometem demais. Isto é um erro histórico, pois a população se encanta, acredita e depois se decepciona. O máximo que podemos falar é aquilo que podemos fazer. Franqueza e verdade têm que ser o principal. Entendo que a sociedade quer mudanças e não mais ser enganada ou ludibriada.

Diário - Mas é possível caminhar sozinho no processo eleitoral?

Sachetti – Nem o PPS nem ninguém pode fazer isso sozinho. O governador Blairo Maggi precisa dos aliados de 2002 e quem sabe ampliar esse leque. A legislação eleitoral é hoje uma colcha de retalhos que leva ao interesse de grupos políticos e isso não interessa a ninguém. Precisamos urgentemente de uma reforma política. Não tenha dúvida que a sociedade vai mostrar que é preciso repensar muita coisa nas eleições do próximo ano. Em todo o contexto existem falhas e o sistema não funciona. A população não aceita mais o que está acontecendo no Brasil. Muitos monstros sagrados da política vão ruir neste processo eleitoral de 2006.

Diário - As urnas vão trazer um recado diferente?

Sachetti – Pode ter certeza que sim. Não tenho dúvidas disso. Estamos no país de maior carga tributária do mundo e também o de maior mazela social e isso ninguém aceita mais e os recados serão dados nas urnas. Ou se muda ou não sei o que vai acontecer. A situação é insuportável.

Diário - Mas em relação a Mato Grosso?

Sachetti – Olha, o governador Blairo Maggi e eu pensamos a política de forma diferente. Nós trabalhamos pela política e não para a política. Nos interessa concluir o mandato eletivo bem e não ficar almejando e fazendo de tudo por um novo mandato. E a política não é racional. Por melhor que o Blairo tenha sido, a campanha eleitoral sempre requer cuidados e muito trabalho. Primeiro temos que cumprir nossos compromissos para depois fazermos novos compromissos.

Diário - O senhor acha a reeleição do governador Blairo Maggi fácil?

Sachetti – Não. Acho que não se pode dormir em berço esplêndido e ficar esperando as coisas acontecerem. O ex-governador Dante de Oliveira tinha 70% de aprovação. O Brasil dava como certa sua eleição para o Senado da República e deu no que deu. Acho que o governador tem uma grande vantagem pelos serviços prestados, pela nova forma de fazer política e pela sua determinação pessoal de construir um Mato Grosso diferente. Tem que trabalhar para se reeleger. Gastar sola de sapato é a receita, e tentar continuar incutindo essa nova metodologia de se fazer política social: pelo conjunto da sociedade e não por grupos políticos ou pelo interesse deste ou daquele.





Fonte: Diário de Cuiabá

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