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Internacional
Quarta - 01 de Junho de 2005 às 12:50

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A invasão nesta quarta-feira da sede do Supremo Tribunal do Quirguistão por membros das milícias populares mostra o propósito das novas autoridades do país de restabelecer a ordem às vésperas das eleições presidenciais.

Para recuperar o controle do edifício do tribunal, ocupado há 41 dias por dezenas de manifestantes opositores, as autoridades recorreram às milícias populares, criadas há uma semana para ajudar a polícia a manter a ordem no país.

A ação esteve a ponto de provocar um derramamento de sangue quando cerca de 300 milicianos invadiram o edifício, onde se haviam entrincheirado cem partidários de cinco candidatos derrotados nas eleições parlamentares de março.

Os invasores, que chegaram ao local em cerca de 20 ônibus e usavam braceletes de cor turquesa, estavam armados com pedras e paus, enquanto os entrincheirados, com cintas vermelhas nos braços, ameaçavam incendiar o tribunal com coquetéis Molotov.

Cerca de 20 policiais sem armas presenciaram passivamente três tentativas de invasão e quando decidiram intervir foram arrastados pelos atacantes, que invadiram o edifício, segundo a agência russa Itar-Tass.

Os milicianos quebraram vários vidros das portas e janelas do edifício, expulsaram os invasores e jogaram na rua colchões, roupas e outros objetos.

Segundo testemunhas, nestes choques houve entre três e cinco feridos, mas um porta-voz do Ministério do Interior disse à Interfax que não tinha dados sobre possíveis vítimas e estava em contato com os hospitais para obter essa informação.

Um dos invasores disse à imprensa que os milicianos "representam o povo do país" e que seu alvo era "libertar" o edifício para que os entrincheirados deixassem de bloquear os trabalhos do Tribunal Supremo.

As pessoas que invadiram há um mês e meio o edifício exigiam a demissão dos juízes do tribunal, incluindo seu presidente, Kurmanbek Osmonov, por não haver revisado os resultados eleitorais desfavoráveis para seus candidatos.

Após a tomada do edifício pelos milicianos, chegaram à área dos confrontos várias unidades policiais, que tomaram o controle do imóvel.

Temirkan Subanov, chefe do departamento da ordem pública do Interior, disse que o edifício não sofreu graves danos porque os ocupantes não usaram coquetéis Molotov.

Ele acrescentou que uma comissão governamental já chegou ao Supremo para investigar os últimos fatos, assim como as circunstâncias da tomada do tribunal há seis semanas, incidente no qual as autoridades decidiram não intervir.

Episódios similares são freqüentes no Quirguistão nos últimos tempos, e hoje mesmo em frente à prefeitura de Osh, a segunda cidade mais importante, cerca de cem manifestantes montaram piquetes em protesto contra a gestão do novo governador da província.

Segundo analistas, esses incidentes são conseqüência das mudanças dos últimos dois meses, após a chegada ao poder da oposição, e embora nele se misturem os interesses de diversos clãs não há uma marca ideológica ou religiosa.

As denúncias de fraude nas eleições legislativas de 27 de fevereiro e 13 de março motivaram uma revolta popular, conhecida como a "revolução das tulipas", que derrubou o regime do presidente do Quirguistão Askar Akaiev, que estava no poder desde 1989.

Após essa revolta, as novas autoridades decidiram manter o Parlamento eleito sob a presidência de Akaiev, o que motivou o descontentamento de outros antigos opositores que ficaram à margem da divisão de poder, como os manifestantes que ocupavam o Supremo.

Incidentes como este demonstram a crescente atividade das forças políticas e das autoridades com vistas às presidenciais que o Quirguistão, um dos países ex-soviéticos mais pobres da Ásia Central, realizará em 10 de julho.

O candidato favorito nesses pleito é o atual presidente interino, Kurmanbek Bakiev, que, para garantir a vitória, aliou-se a outro líder popular da revolução, Felix Kulov, ex-chefe dos serviços secretos desde os tempos da KGB e defensor das milícias populares.

Segundo fontes do jornal Gazeta.ru, esse corpo paramilitar, que começou a se organizar após a revolução para deter os saques em Bishkek, transformou-se em uma força de 25 mil ativistas fiéis a Kulov, candidato a encabeçar o governo após as presidenciais.





Fonte: EFE

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