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Economia
Sábado - 05 de Março de 2005 às 13:00
Por: Érica Santana

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Brasília - Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o professor de Estratégia Econômica da Universidade de Buenos Aires, Aldo Ferrer, avalia que a crise econômica e o anúncio da moratória da dívida por três anos não contaminam a totalidade da estrutura do país. A Argentina, segundo ele, se reestruturou durante esse período e se recuperou. "Em três anos o país conseguiu aumentar a produção em 40%; criar 2,5 milhões de postos de trabalho; praticamente duplicar a taxa de investimento e manter a estabilidade de preços", disse.

"Quem sabe, o mais importante dessa experiência tenha sido a demonstração de que o cataclisma financeiro não contamina o mundo real quando há firmeza em recuperar a economia e fazer com que o país se ponha de pé com seus próprios meios", afirma o professor. A Argentina ainda possui grandes desafios a superar, como a pobreza e o desemprego. Leia abaixo o último trecho da entrevista sobre a realidade Argentina com Aldo Ferrer, que é co-fundador do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais e co-fundador do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social na Argentina:

Agência Brasil: Qual é a importância da reestruturação da dívida para a população argentina em termos de desemprego e crescimento econômico? Aldo Ferrer: Esse é mais um tema que a Argentina tem que enfrentar. O país tem que gerar empregos; tem que reduzir a pobreza; tem que gerar espaço para rentabilidade para que o lucro argentino continue no país; evitar a fuga de capitais e de talentos, a chamada fuga de cérebros. Portanto, a Argentina tem pendente uma agenda muito importante. A renegociação traz à tona um inconveniente que não impediu a recuperação argentina, mas que seria conveniente remover para liberar tempo e energia para se ocupar das coisas realmente importantes.

ABr: Como a Argentina se recuperou nesses três anos de moratória?

Aldo Ferrer: A Argentina foi muito forte em vários aspectos. O país recuperou a governabilidade. A princípio, em 2002, o país estava em uma situação caótica; sem bancos, em moratória, com queda na produção e nos empregos e com um tipo de cambio descontrolado, além de estar em um processo político de renovação do governo.

A democracia argentina estava ameaçada.Nos últimos três anos, a democracia resistiu, o país constituiu suas autoridades, recuperou a governabilidade e sua moeda e o equilíbrio nos pagamentos, registrou um aumento considerável da produção -de 40% nesses três anos-com uma melhora na situação do emprego. Tem preços estáveis; melhorou a situação das reservas do Banco Central e, portanto, há uma situação de governabilidade e de recuperação econômica em um país que tem muitos recursos.

Quem sabe, o mais importante dessa experiência tenha sido a demonstração de que o cataclisma financeiro não contamina o mundo real quando há firmeza em recuperar a economia e fazer com que o país se ponha de pé com seus próprios meios. Tudo isso é um ensinamento muito importante em um país que em outros tempos era confundido com neoliberalismo e com a idéia de que tudo depende dos mercados, do risco país, dos rumores dos centros de poder mundial e que países como os nossos dependem das decisões de outros. Isto não é assim. Os países se constroem de dentro para fora e não pelo inverso. Portanto, a experiência argentina é muito importante para nós . Eu acredito que também deixa alguns ensinamentos para outros países.

ABr: Professor, o que o senhor acha que é necessário fazer agora, depois da negociação da dívida?

Aldo Ferrer: Nos devemos nos ocupar de temas fundamentais como a pobreza e o desemprego, e estabelecer uma relação construtiva e viável no Mercosul; que seja consistente com o desenvolvimento de todos os países membros, na qual haja uma simetria entre todos os países membros. Para mais adiante, nós termos uma agenda de desenvolvimento, do emprego e da justiça social. Esse é o grande desafio. Com a resolução da moratória, há mais tempo para nos preocuparmos com coisas mais fundamentais.





Fonte: Agência Brasil

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