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Economia
Sábado - 05 de Março de 2005 às 11:37
Por: Érica Santana

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Brasília – Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o professor de Estratégia Econômica da Universidade de Buenos Aires, Aldo Ferrer, disse que a Argentina não deve descartar a possibilidade de romper também com o Fundo Monetário Internacional (FMI). "A possibilidade de moratória com o Fundo está aberta porque em todas as negociações, quando duas partes negociam, a possibilidade de ruptura é sempre possível, pois se assim não fosse, se a Argentina se sentasse para negociar com idéia de que o acordo com o FMI é uma questão de vida ou morte, não haveria negociação. Haveria o que se chama de um contrato de adesão", explica.

Após comentar a renegociação da dívida anunciada pelo presidente Kirchner, o professor elogiou a postura independente do país para encontrar, à sua maneira e com os seus próprios recursos próprios, uma saída para a crise econômica do país. A adesão de 76,07% dos credores à troca de papéis da dívida pública da Argentina, estimada em US$ 81,8 bilhões, deixou para traz a moratória declarada há três anos, em dezembro de 2001. Leia abaixo o segundo trecho da entrevista.

Nos próximos dias, o comitê executivo do FMI se reunirá para examinar a situação da Argentina. O presidente argentino, Néstor Kirchner, se encontrará com o presidente do Fundo, Rodrigo Rato, no domingo (6), em Washington.

ABr: Existe a possibilidade de o FMI pedir à Argentina a reabertura das negociações dos bônus da dívida com o restante dos credores? Como a Argentina deve lidar com esse novo cenário e a possibilidade firmar um acordo?

Aldo Ferrer: A Argentina negociará com o Fundo e não deve descartar a possibilidade de haver uma ruptura com o Fundo e eventualmente uma suspensão dos pagamentos ao FMI. A possibilidade de moratória com o Fundo está aberta porque em todas as negociações, quando duas partes negociam, a possibilidade de ruptura é sempre possível, pois se assim não fosse, se a Argentina se sentasse para negociar com idéia de que o acordo com o FMI é uma questão de vida ou morte, não haveria negociação. Haveria o que se chama de um contrato de adesão.

Portanto, nessas negociações que se iniciam agora é preciso estar aberto à possibilidade de que a Argentina rompa a negociação e eventualmente não possa pagar ao Fundo. Nesse caso, se abriria toda uma instância. A experiência que a Argentina viveu, nesses três anos, estando em moratória, demonstra que a esfera financeira não contamina o mundo real da produção, do trabalho, dos investimentos e do comércio. Nesses três anos, a Argentina se recuperou sem acesso a créditos internacionais e estando em moratória.

Assim, uma eventual ruptura com o Fundo também não implicaria em um desastre econômico. Seria um fato que é conveniente evitar. É conveniente que haja um acordo racional entre ambas as partes, mas não qualquer acordo. Não é conveniente para a Argentina um acordo que implique em subordinar suas políticas aos critérios do Fundo, tão freqüentemente equivocados. Essa é a possibilidade que se abre agora, mas a Argentina está em uma posição mais sólida porque recuperou a governabilidade, porque demonstrou que tem recursos e porque quer pagar, dentro do possível.

ABr: Como os mercados internos e externos reagiram ao anúncio da troca de papéis da dívida argentina?

Aldo Ferrer: Positivamente. Houve uma resposta positiva nas expectativas e nas bolsas de valores. Nesse momento, há uma expectativa positiva no país e inclusive há investimentos do exterior. Há pessoas e investidores interessados em participar da economia argentina. Só que essa incorporação de investimento externos tem que ser feita de maneira distinta da que foi realizada anteriormente, que era essencialmente de caráter especulativo e que foi substitutiva aos investimento nacionais, culminando na crise e na moratória. Por isso não se pode ser repetida. É necessário que esse capital que vem de fora se integre a uma economia industrializada e moderna, na qual o capital, as empresas e o Estado argentino tenha o papel protagonista, que deve ter qualquer país que cresce. Os países dependentes são necessariamente subdesenvolvidos e atrasados, isso é visível na América Latina.

O exercício efetivo da soberania para realizar políticas viáveis é uma condição essencial nesse mundo globalizado. Não é certo que a globalização nos impeça de fazer políticas nacionais. Ela modifica as políticas nacionais, mas estas continuam sendo essenciais para gerar riquezas. Os países se constroem de dentro para fora e não o inverso. E isso a globalização não conseguiu modificar.

ABr: O senhor acha que é possível o acesso das empresas argentinas ao financiamento internacional?

Aldo Ferrer: Eu acredito que sim. A moratória da Argentina também teve como contrapartida a moratória de algumas empresas privadas. Acredito que agora está se abrindo um novo cenário no que diz respeito ao aumento do crédito produtivo para o setor privado. O setor público não contempla muito esse aumento, mas o setor privado poderá ter acesso a créditos de investimentos, porque a situação argentina melhorou. A rentabilidade melhorou e por isso houve espaço para oportunidade de investimentos. As empresas estão mais sólidas e, conseqüentemente, com mais capacidade de aquisição de crédito.





Fonte: Agência Brasil

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