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Nacional
Domingo - 20 de Fevereiro de 2005 às 07:40

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São Paulo - Preso neste sábado após se apresentar à polícia na cidade de Belo Monte, Amair Freijoli da Cunha, conhecido como Tato, negou em seu depoimento qualquer participação no assassinato da missionária Dorothy Stang. Ele é capataz do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, suspeito de ser o mandante do assassinato da religiosa, e teria sido o intermediário que contratou os suspeitos da execução Rayfran Sales e Uilquelano de Souza Pinto, que continuam foragidos.

Tato justificou a fuga dizendo que um grupo de vinte colonos, armados de espingarda, dirigia-se ao seu barraco, nas matas de Anapu, onde trabalha derrubando árvores. Ele alegou que temia ser morto. "Não tenho nada a ver com este crime, não tinha interesse na morte da freira", disse.

O capataz disse à polícia que foi informado da morte da freira pelo filho de Adalberto Xavier Leal, o Cabeludo, também assassinado horas depois de Dorothy. No seu depoimento inicial, Tato contou que fugiu a pé pela mata até chegar à localidade de Belo Monte, a 80 quilômetros de Anapu. A polícia estranhou que, apesar de ter fugido por uma mata densa, Tato estava bem fisicamente, sem marcas que indicassem ter passado uma semana caminhando pela mata. Ele informou que foi cercado pela polícia civil numa estrada vicinal que corta a Transamazônica. Disse ainda que ao chegar a Belo Monte, na sexta-feira, procurou um amigo e pediu ajuda para encontrar um advogado e se entregar.

O agricultor não explicou, no entanto, como soube que a sua prisão tinha sido decretada como suspeito de participação na morte da freira, nem que estava sendo procurado pela polícia, já que teria passado os últimos seis dias embrenhado na mata fechada e sem comunicação. Tato tinha participado como ouvinte, na noite anterior ao assassinato, de uma reunião coordenada pela freira no Projeto de Desenvolvimento Social (PDS) Esperança, na área rural de Anapu.

Reunião

Na delegacia, ele disse que a irmã Dorothy, durante a reunião, tinha insuflado os agricultores a lutar pelas terras. "Foi assim que ela conseguiu ampliar o projeto", afirmou. Tato teria comprado o seu lote de Bida, mas disse que não recebeu o documento porque o fazendeiro também não tinha documentação definitiva da terra. "Ele não me deu recibo porque estava esperando receber a documentação definitiva da terra", justificou. O fazendeiro não poderia emitir recibo de venda do lote porque invadiu o área que pertence ao Estado. Tato informou à polícia que conhecia os dois suspeitos de terem efetuado os disparos que mataram a irmã Dorothy. Mas negou que tivesse ajudado a matar a missionária.

Segundo o diretor-geral da Polícia Civil do Pará, delegado Luis Fernandes Rocha, Tato tem antecedentes de ameaças de morte feitas a várias pessoas nos últimos meses. "Temos certeza do seu envolvimento com o crime. Ele estava no local quando o crime ocorreu e tinha problemas com a freira", informou o delegado, que está em Altamira especialmente para coordenar os trabalhos de busca dos suspeitos do assassinato da irmã Dorothy.

Os policiais civis trabalham com a hipótese de o crime não ter sido encomendado pelo fazendeiro Bida, já que as circunstâncias do assassinato não se enquadram na forma clássica de pistolagem. Segundo os policiais, um dia antes da morte da missionária uma caminhonete do fazendeiro foi queimada e, quando foi encontrada, estava crivada de balas, o que teria provocado a ira de Bida, a discussão com a freira e os disparos. "Era público que todos os fazendeiros da região não gostavam do trabalho que a missionária fazia, mas encomendar um assassinato a pessoas conhecidas e sem plano de fuga não se encaixa na forma de agir dos pistoleiros ou de mandantes", pondera o delegado regional da Polícia de Altamira, Pedro Monteiro.

A polícia Civil está prevendo para os próximos dias a prisão do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura. O advogado do fazendeiro, Augusto Septinho, esteve neste Sábado na delegacia. (Leonel Rocha e Vannildo Mendes)




Fonte: Agência Estado

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