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Internacional
Sexta - 13 de Agosto de 2004 às 10:11
Por: Vitor Gomes Pinto

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Neste domingo (15/08) os venezuelanos decidem se ficam com o tenente-coronel Hugo Chávez ou se o retiram do poder, onde está desde 1999 e onde pretende permanecer até 2013 (tem mandato de 6 anos, pode reeleger-se e seu primeiro ano de governo não entra nesta conta). Todos concordam que Chávez é muito melhor candidato do que governante e ele está em plena campanha, demonstrando vontade férrea de permanecer na presidência apesar do desastre que tem sido sua administração. Jogou tudo num pacote populista baseado em abonos emergenciais para o funcionalismo e na presença de mais de 10 mil médicos e professores cubanos nos bairros periféricos das grandes cidades. As classes mais desfavorecidas, mesmo sabendo que a pobreza e o número de pedintes pelas ruas aumentaram nos últimos cinco anos, devem responder “não” à tendenciosa pergunta que consta na cédula de votação: “está de acordo em deixar sem efeito o mandato popular outorgado mediante eleições democráticas legítimas ao cidadão Hugo Rafael Chávez Frías como presidente da República Bolivariana da Venezuela para o atual período presidencial?”. A oposição lançou um programa baseado em cinco blocos temáticos: emprego, segurança pessoal, saúde, educação e previdência social, mais 4 temas transversais: reconciliação, descentralização, continuidade democrática e focalização no social. Conseguiu superar incontáveis subterfúgios usados pelo governo, recolhendo por duas vezes milhões de assinaturas que obrigaram a realização do referendo. Tem amplo apoio da mídia e da comunidade internacional, mas não consegue penetrar nas classes “d” e “e” onde se concentram as forças do chavismo. Em editorial, o principal jornal venezuelano, El Nacional, comparando o país a um prédio de apartamentos escreveu: “Perguntam sua opinião sobre o presidente do condomínio. Para isto, tenha em conta que o edifício onde todos vivemos está caindo aos pedaços”.

Há pesquisas de opinião para todos os gostos. Três empresas venezuelanas, Mercanálisis, Datanálisis e Consultores 21 dizem que o “sim” (contrário a Chávez) vencerá com cerca de 55% dos votos, ao passo que duas empresas estrangeiras – North American Opinion Research e Greeberg – afirmam o contrário. Os indecisos deverão decidir a parada, votando ou permanecendo em casa como tem acontecido nos últimos pleitos quando entre 40% e 50% dos eleitores não comparecem às urnas (o voto não é obrigatório na Venezuela). Caso o mandato do presidente seja revogado, haverá nova eleição dentro de apenas 30 dias, o que daria pouquíssimo tempo à oposição para fazer suas prévias e escolher um candidato único para enfrentar a Chávez que, a não ser que sofra uma derrota acachapante no referendo, concorrerá de novo.

Três países acompanham mais de perto o plebiscito. Nos Estados Unidos, tanto Bush quanto Kerry expressam claramente seu desgosto com os rumos políticos seguidos pela nação caribenha; em Cuba, Fidel apóia com os recursos de que dispõe, doutores e mestres, aquilo que considera a revolução bolivariana; no Brasil a administração Lula tem dado seguidas demonstrações de simpatia em relação a Chávez. Resolução do PT, de 24 de julho, opinou que “a continuidade do presidente Hugo Chávez na presidência da Venezuela representaria a consolidação da democracia e a ampliação das conquistas sociais do povo venezuelano”, provocando uma vez mais forte reação anti-brasileira no país vizinho.

O referendo foi o caminho possível, dentro das regras democráticas, encontrado para que a Venezuela se veja livre de Chávez. Caso isto não aconteça, com a derrota do “sim”, o dilema persiste e conduz o país a um beco aparentemente sem saída, mas com duas soluções prováveis: a volta da confrontação armada, já tantas vezes experimentada, ou uma gestão razoável por parte do grupo que permanecerá no poder, o que representaria uma mudança radical nos padrões até aqui adotados pela administração chavista. Vitor Gomes Pinto Escritor, Analista internacional Vitor.gp@persocom.com.br




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