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Politica Brasil
Segunda - 12 de Julho de 2004 às 08:03
Por: Marcos Sampaio Baruselli

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A questão segurança alimentar não se refere apenas a um nicho de mercado. Atualmente, todos os países, em especial a União Européia - que liderou o processo mundial de mudança na indústria de alimentação-, preocupam-se em atender seus consumidores que exigem produtos de qualidade, sem resíduos e produzidos com respeito ao meio ambiente.

Esse cenário deve ser um alerta para todos que desejem entrar ou manter-se no mercado mundial do agronegócio. O governo precisa estar atento a essa realidade e trabalhar em parceria com os produtores e a indústria para atender as exigências dos diferentes mercados e ainda cuidar do consumidor interno que exige para si a mesma qualidade dos produtos destinados ao mercado externo.

Vamos pegar como exemplo a utilização de adubos nos suplementos destinados à alimentação animal, prática aprovada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) por meia da portaria número 6, de 4 de fevereiro de 2000 que libera o uso dos fertilizantes agrícolas (fosfato de rocha e fosfato triplo) como fontes de fósforo nas misturas minerais.

Ao aprovar essa portaria, o governo não considerou os riscos à saúde animal e humana e à exportação de carnes aos países desenvolvidos que possuem rigorosas posições no que se refere aos resíduos tóxicos nos alimentos. Os riscos inerentes à utilização de adubos nos suplementos destinados à alimentação animal já foram comprovados.

A AAFCO (American Association of Feed Control Official), associação americana que controla a qualidade dos alimentos, estabelece que todas as fontes de fósforo devem conter no máximo 1 % de flúor em relação ao teor de fósforo, o que equivale a dizer que para cada 100 partes de fósforo poderá haver no máximo 1 parte de flúor nas matérias-primas destinadas à alimentação animal. De acordo com a AAFCO, uma relação fósforo / flúor inferior a 100 / 1 pode expor os animais à intoxicação por flúor.

E as ações negativas do flúor sobre a bioquímica do organismo animal são numerosas e muitas vezes irreversíveis, principalmente na pecuária de corte e leite, pois os bovinos são os animais domésticos de maior sensibilidade toxicológica ao flúor. Os problemas variam desde a redução do potencial de defesa orgânica, má fermentação ruminal, queda da fertilidade e na produção, redução do crescimento, da resposta imunitária, aumento das necessidades minerais até anomalias dentarias, calos ósseos nas arcadas costais e redução da longevidade.

Para a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o uso dos fertilizantes na alimentação de bovinos tem uma série de limitações como o teor inadequado de flúor, o baixo nível de fósforo, baixa palatabilidade e baixa disponibilidade biológica do fósforo.

Pesquisas realizadas na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), revelam também que os fosfatos de uso agrícola contem altos níveis de impurezas não só de flúor, como também de bário, titânio, tório cádmio e vanádio.

Podemos pegar como exemplo o fosfato de rocha araxá. O teor de flúor encontrado na rocha natural de Araxá, segundo pesquisas recentes realizadas na Universidade de São Paulo (USP), é de 2,20 %. Comparado ao teor de flúor do fosfato bicálcico, por exemplo, é 1500 % maior. No que diz respeito à ingestão total de flúor, 55 g de fosfato de Araxá eqüivaleriam a 1 g de fosfato bicálcico. Além disso a rocha apresentou um teor de bário 10 vezes superior ao limite de tolerância, além de padrão físico químico muito irregular.

Segundo o Prof. Dr. Felix Ribeiro, da USP, estudos com frangos (animais mais resistentes à intoxicação por flúor) apontam que o uso da rocha ocasiona uma redução de 6 % no ganho de peso e de 7 % no consumo de ração, índices que em suínos chegariam a 30 % e 20 %, respectivamente. Quando fornecida a galinhas poedeiras, a rocha teria efeito devastador com redução de 40 % na produção de ovos. Também foram constatadas graves deformações nos ossos dos animais. Nos suínos por exemplo, o professor relata que a resistência à quebra dos ossos caiu 25 %.

Os estudos demonstram que o uso de fertilizantes nos suplementos destinados à alimentação animal, de um lado, expõe os rebanhos à perda da saúde e da produtividade e de outro expõe o consumidor de carne, leite e ovos a sérios riscos toxicológicos. Portanto, devem ser objeto de alerta não só do governo, mas dos produtores e toda a indústria de alimentação.

*Marcos Sampaio Baruselli Zootecnista da Tortuga Companhia Zootécnica Agrária




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